Metodologias e experiências de análise do trabalho no Projeto ApiceON

Em recente oficina interna do ApiceON, realizada com a equipe envolvida em sua implementação (supervisores e mediadores), tivemos a oportunidade de discutir as ações em andamento e focar metodologias que têm sido aportadas no seu desenvolvimento. Destacamos aqui uma dessas experiências, que possibilitou colocar em diálogo o referencial estruturante do Projeto¹ e uma proposta metodológica que a ele foi articulada pela equipe que apoia os serviços na região de São Paulo/SP. Trata-se de uma experiência deslanchada com os grupos estratégicos locais/GELs de alguns hospitais, tendo-os como interlocutores na discussão dos seus contextos de trabalho. O trabalho – na concepção que o tomamos em análise – é então o foco central de abordagem, sendo a matéria essencial de todo o processo de análise-intervenção proposto no ApiceON¹. Aqui vale reafirmar a concepção do trabalho no sentido de atividade que perpassa os sujeitos/equipes em suas práticas que movem o serviço, isto é, que garantem o seu funcionamento, com os altos e baixos próprios às realidades singulares.

Uma das mediadoras de SP utilizou a proposta do Laboratório de mudança (LM) mediando sua ação de apoio aos GELs, inspirando-se no que o LM situa como “um conjunto de ferramentas baseadas em princípios e conceitos da Teoria da Atividade Histórico-Cultural, pondo em colaboração pesquisadores (mediadores) e participantes”². O que o LM traz de afinidade com o referencial do Projeto é exatamente a perspectiva de por o trabalho em análise, alvo essencial na articulação que propomos entre planejamento-monitoramento-avaliação/PMA¹.

O desenho de PMA do ApiceON traz um robusto desafio de promover vários tipos de aprendizagens institucionais, entre elas a de fortalecer a sua própria equipe executiva na função de apoiadores institucionais³. Isso passa pela perspectiva de fortalecer o seu protagonismo em campo, o que requer ampliação dos aportes metodológicos nessa direção. Por isso, nosso destaque a essa iniciativa, onde o grupo de SP buscou alternativas de caminhada com os GELs, com eles colocando o trabalho em análise.

Dessa experimentação, aqui destacamos dois aspectos: os princípios que se afinam nos referenciais do ApiceON e LM e as questões concretas que começaram a ser exploradas com os serviços em questão. Dos princípios, enfatizamos os rumos que se abrem para compreender como os problemas e reações (dos sujeitos) vêm à tona nos contextos de análise e intervenção no trabalho, exigindo ampliação dos olhares/avaliações num movimento de desvelamento das várias camadas que se apresentam superpostas (no problema, nos efeitos de intervenção e nas reações a eles). É esse caminho que sustenta uma construção coletiva dos processos e relações de trabalho, evitando-se o risco (fácil) de se enviesar em leituras superficiais e de fragilidade na lida com as próprias reações dos sujeitos envolvidos, assim inviabilizando ou limitando deslocamentos subjetivos e movimentos de mudanças institucionais.

Quanto às questões exploradas nos serviços, vejamos a potência de tais caminhos metodológicos. O parto (no modelo tradicional e no modelo desejado) foi um dos objetos em foco. No cruzamento dos problemas nesse objeto (nos modos de assistência-cuidado), desvelaram-se questões perpassando todos os profissionais do serviço, inclusive os auxiliares de enfermagem, neste caso surpreendendo o grupo com as compreensões que norteavam suas atitudes. As análises subsidiaram as seguintes primeiras conclusões: o LM pode ser útil para discutir com os GELs a continuidade das ações para aprimoramento do serviço; há necessidade de mais sessões para trabalhar as diferentes etapas do LM, indicando ações e instrumentos que ajudarão na sustentabilidade das discussões/ações e do projeto; há necessidade de direcionar discussões para ressignificação do trabalho dos técnicos e auxiliares de enfermagem; e há que se pensar estratégias de como lidar com a recente lei da cesariana em SP, com influência importante no cenário.

Esse resumo ilustra bem nosso objetivo de destacar a relevante contribuição de uma metodologia para se lidar com situações cotidianas do trabalho (e com o coletivo), produzindo-se pistas para enfrentamento dos problemas e intervenções mais potentes. Muitas vezes a falta de conhecimento ou de domínio de recursos sistemáticos de análise do trabalho limita tais abordagens, daí que essas experimentações precisam ser vistas também em seu caráter formativo, servindo mutuamente aos mediadores e GELs, apropriando-se de ferramentas que ajudam na sustentabilidade dos processos com seus serviços.

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(1) Santos Filho SB. Desenho de avaliação-intervenção em um projeto de qualificação da formação, gestão e atenção ao parto e nascimento. In: Souza KV, Santos Filho SB. Educação profissional em saúde: metodologia e experiências de formação-intervenção-avaliação. Moriá, 2020.
(2) Macaia et al. … 2018,p. 104
(3) Brasil. Ministério da Saúde. Guia para Apoio Institucional à implementação da Rede Cegonha. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.

 

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