Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Ações Programáticas. Manual de gestação de alto risco [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção
Primária à Saúde. Departamento de Ações Programáticas. – Brasília : Ministério da Saúde, 2022. 692p.:il.
Vem a lume a 1a edição do Manual de Gestação de Alto Risco do Ministério da Saúde do Brasil. Essa obra, que, pela qualidade de suas informações, mais se assemelha a um tratado da especialidade, vem atualizar a edição anterior, lançada há uma década e intitulada Gestação de Alto Risco: Manual Técnico (5a Edição).
Nesse período, e a despeito de esforços institucionais, o Brasil perdeu a oportunidade de alcançar, em 2015, o 5o Objetivo do Milênio, pactuado no ano 2000, que consistia no compromisso do governo, em uma ampla agenda com a sociedade, gestores e profissionais de saúde, em reduzir em 75% os casos de mortes maternas em nosso país.
A mortalidade materna é uma das maiores chagas médico-sociais que maculam nosso país. Com uma predileção especial para acometer mulheres mais vulneráveis, o óbito materno vai além das questões ligadas ao acesso a pré-natal de qualidade, assistência ao parto seguro e cuidado puerperal apropriado, mas diz respeito também às fragilidades do planejamento familiar, em especial no risco reprodutivo, aos grandes desertos sanitários desse país continental e a um eficiente sistema de referência e contrarreferência para atender os casos mais graves. O estupor só aumenta quando a avaliação das mortes revela a evitabilidade dos óbitos em 90%. Mulheres jovens, em idade reprodutiva, cujas vidas ceifadas impactarão para sempre o pilar de nossa sociedade, nossa célula mater – a família.
Para além de sensibilizar a todos com essa temática, o Ministério da Saúde atualiza suas orientações em torno do acompanhamento da gestação de alto risco com este documento que representa as contribuições intelectuais do crème de la crème da obstetrícia nacional. Sob a organização elegante do professor Eduardo de Souza, da Escola Paulista de Medicina, esta obra representa o compromisso desta gestão com a saúde da mulher, em especial durante seu ciclo grávido-puerperal.
Isso é fundamental, vez que perseguimos a redução da mortalidade materna brasileira, em consonância com a pactuação dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, que pretende reduções sequenciais até a razão de 30 mortes maternas para cada 100.000 nascidos vivos até 2030. Se os desafios para essa empreitada já eram hercúleos no combate às causas proximais de óbito materno, representadas pela hemorragia, hipertensão e infecção, somou-se a esse cenário a sindemia por covid-19. Não obstante os esforços desta gestão no fortalecimento da rede materno-infantil, no sentido de manter a atenção pré-natal em meio à pandemia, o robusto aporte de mais de 1 bilhão de reais para a promoção da saúde materna e perinatal durante esse período, a confecção do manual de orientação para o diagnóstico e tratamento da covid-19 na população obstétrica e a incorporação das vacinas prioritariamente para gestantes e puérperas, as mortes maternas durante a pandemia escancararam as mazelas de nossos serviços obstétricos, de há muito sucateados.
Avançar, contudo, é fundamental! Dessa forma, e por fim, que este material sirva como um ponto de partida, não apenas para os profissionais de saúde promoverem as melhores evidências clínicas para o tratamento das intercorrências no ciclo grávido-puerperal, como também para conclamarem todos os atores envolvidos na prevenção da morte materna para atuar em suas fronteiras e evitar que nossas famílias sejam dilaceradas pela perda de vidas maternas.
Toda e cada vida materna conta. Que essa seja a causa de nossa geração. E que vençamos essa tragédia!
Disponível Em: <https://bvsms.saude.gov.br/>