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Guia de Atenção ao Pré-Natal na Terra Indígena Yanomami

Tipo de Mídia: Documento .PDF DownloadVisualizar

Guia de atenção ao pré-natal na terra indígena Yanomami / organização Érica Dumont e Maria Christina Barra. — Belo Horizonte, MG : Ed. dos Autores, 2025.

O tema da saúde da mulher Yanomami e Ye’kwana tem sido recorrente nos Encontros de Mulheres que vêm acontecendo na Terra Indígena Yanomami desde 2008. A gestação, o parto e o nascimento foram especialmente discutidos no XIV Encontro de Mulheres Yanomami (2023) e no XV Encontro de Mulheres Yanomami e Primeiro Encontro de Mulheres Ye’kwana (2024), quando as mulheres, preocupadas com a saúde de seus filhos e as mortes maternas, demandaram a melhoria da qualidade do pré-natal em todo o território. O guia de atenção pré-natal na Terra Indígena Yanomami –TIY – é uma iniciativa que surge como resposta à reivindicação de melhoria da atenção ao pré-natal, incluída na Carta das Mulheres Indígenas que resulta desse encontro.

Por seu caráter emergencial, este guia foi elaborado de forma ágil, baseado em evidências científicas de saúde, em diálogo com os modos de vida e dinâmicas de cuidado em saúde na TIY, sendo, assim, passível de atualizações e aprofundamentos. Apresenta diretrizes para a qualificação da atenção ao pré-natal a partir do reconhecimento da complexidade dos contextos locais e da necessidade de construir uma atenção diferenciada e que respondam às condições de vulnerabilidade da TIY e que sejam sensíveis às potentes práticas de autoatenção das mulheres Yanomami e Ye’kwana, com destaque para aquelas no contexto da gestação, do parto, do nascimento e do pós-parto.

A Terra Indígena Yanomami abriga a maior população indígena do Brasil, com 27.152 habitantes — o que corresponde a 4,36% da população indígena residente em terras indígenas no país (IBGE, 2024). O território é composto por diversos subgrupos linguísticos Yanomami, como Yanomam, Yanomami, Sanöma, Ỹaroamë, Ninam, Yãnoma, além do povo Ye’kwana (Ferreira; Machado; Senra, 2019). Embora sejam grupos diversos, guardam muitos elementos comuns aos seus modos de vida, sendo um deles a relação com a floresta. Para esses grupos, a floresta é uma entidade viva, inserida numa complexa dinâmica cosmológica de intercâmbios entre humanos e não humanos.

O Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami Ye’kwana – DSEI-YY – organiza a divisão do cuidado em saúde na Terra Indígena Yanomami em 37 polos-base dispostos conforme a Figura 1. É importante salientar que as comunidades atendidas pelos polos-base podem variar conforme modos de vida e, também, contextos de menor ou maior contato com populações não indígenas, sendo que, em geral, esse contato intensifica a exposição à violência e a demais elementos que podem gerar agravos à saúde e alterar o perfil de doenças. Comunidades com maior fluxo para os centros urbanos tendem a ser mais acometidas pelas Doenças Crônicas Não Transmissíveis – DCNTs – e violências, bem como podem acessar com mais rapidez a atenção secundária e terciária à saúde. Outros polos-base se encontram próximos às áreas de invasões garimpeiras, o que contribui significativamente para fragilizar a situação sanitária. E há ainda aqueles menos afetados pela presença dos não indígenas, mas que estão em áreas de difícil acesso, cuja remoção precisa ser cuidadosamente avaliada. Compreender essa distribuição dos polos-base e suas particularidades é importante para a construção de um cuidado adequado e que atenda às necessidades reais dos povos indígenas.