Instituto de Práticas Seguras no Uso de Medicamentos (ISMP). Uso Seguro de Medicamentos em Pacientes Pediátricos – Boletim ISMP – Volume 6. Número 4. Novembro 2017.
Casos como este não são incomuns. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, que propôs o “Uso Seguro de Medicamentos” como tema do 3º Desafio Global de Segurança do Paciente, as populações de faixas etárias extremas (crianças e idosos) são as mais suscetíveis a eventos adversos e, portanto, demandam maior número de intervenções para preveni-los
A população pediátrica é subdividida em: recém-nascidos (0-1 mês), lactentes (1-24 meses), pré- escolares (2 a 5 anos), escolares (6 a 11 anos) e adolescentes (12 a 18 anos)3. Essa amplitude alberga diferentes estágios de desenvolvimento, o que implica em variações quanto aos parâmetros farmacocinéticos4,5. Assim, pode haver discrepâncias consideráveis entre as doses de medicamentos utilizadas, sendo que a dose indicada para um adolescente pode ser até 100 vezes maior do que a de um neonato.
Entre os erros de medicação mais comuns envolvendo bebês menores de 6 meses estão a administração do medicamento errado e da dose errada, incluindo a administração da mesma dose mais de uma vez. O uso de colheres e outros recipientes inadequados para medir a dose dos medicamentos é uma das principais causas dos erros de dosagem. O paracetamol e formulações para gripes e resfriados são exemplos de medicamentos comumente envolvidos nesses erros. Eles estão associados à ocorrência de danos graves e a uma grande variedade de eventos adversos, incluindo o aumento da frequência cardíaca, convulsões, coma e morte.
A escassez de estudos clínicos com medicamentos de uso pediátrico, a falta de formas farmacêuticas disponíveis em dosagens e concentrações adequadas para a administração, a necessidade de cálculo de doses individualizadas conforme idade, peso (mg/kg) e área de superfície corporal (mg/m2), e a condição clínica do paciente são fatores que podem aumentar os riscos de eventos adversos Para contornar esse problema, geralmente são feitas adaptações para possibilitar o uso do medicamento em pacientes pediátricos. A trituração de comprimidos ou abertura de cápsulas para misturar aos alimentos, a modificação de vias de administração (ex.: administração oral de medicamentos injetáveis) e a preparação de soluções extemporâneas são exemplos de adaptações frequentemente empregadas. Tais adaptações, mesmo que bem executadas e realizadas em ambiente e material adequados, envolvem riscos de erros e desvios significativos na dose final. Além disso, na maioria dos casos não há informação na literatura para embasar tais práticas e nem informações suficientes quanto à estabilidade, compatibilidade e biodisponibilidade desses produtos, o que pode aumentar o risco de erros de dose e outros eventos adversos5,8. A ausência de formas farmacêuticas adequadas resulta na necessidade de cálculo de doses individualizadas, sobretudo de produtos parenterais. Este é outro ponto crítico no uso de medicamentos em pediatria, uma vez que pequenos erros de cálculo podem gerar danos significativos.
Outro aspecto importante dos riscos da utilização de medicamentos envolvendo crianças e adolescentes é a ocorrência de intoxicação acidental. No Brasil, a maioria das intoxicações nessas faixas etárias, atendidas nos serviços de toxicologia, é causada por medicamentos.
Diante do exposto e dos riscos de eventos adversos relacionados aos medicamentos em pacientes pediátricos, apresentamos, a seguir, recomendações para promoção do uso correto e seguro de medicamentos em pediatria. O Quadro 1 traz informações direcionadas aos profissionais e instituições de saúde.
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