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Visita Domiciliar de Luto: Uma Experiência na Atenção Primária a Saúde

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Reneide Rodrigues Ramos, 2023, VISITA DOMICILIAR DE LUTO: UMA EXPERIÊNCIA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA A SAÚDE. Em: Anais do 8º Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e Humanas em Saúde. Campinas : Galoá. 2019.

Contextualização
A Visita Domiciliar (VD) é um instrumento importante no cotidiano da prática assistencial do enfermeiro na Atenção Primária a Saúde (APS). Vários autores sinalizam para a importância dessa ferramenta de trabalho, ressaltando a possibilidade de ampliação do olhar da equipe para além dos procedimentos curativos e de reabilitação. (Santos e Morais, 2011; Mandú et al., 2008; Abrahão e Lagrange,2007; Takahashi, 2001, Figueiró, 2016). Nesses moldes, a VD configura-se em uma tecnologia leve do trabalho vivo em saúde ( Merhy, 2007),.Nesse processo de elaboração do luto , de acordo com os ensinamentos de Kubler-Ross (1969) visa ouvir os familiares, detectar sentimentos e angústias, sugerir rituais que possibilitem uma elaboração saudável da perda, desenvolver vínculos, apoiar o desenvolvimento de paz de espírito, resolução de sentimentos de culpa, perdoar-se, discutir problemas financeiros e a manutenção da família após a morte do familiar, entre outros assuntos relacionados ao biopsicossocial. O Ministério da Saúde publicou uma resolução em 23 de Novembro de 2018, que normatiza a oferta de cuidados paliativos como parte dos cuidados continuados integrados no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) e a visita de luto pode então ser considerada como a finalização do processo de todo cuidado realizado com o usuário e sua família. Assim, os sentimentos que emergem ao lidar com a materialidade da morte são: impotência, sensação de fracasso, sentimento de tristeza e medo de não conseguir dar conta da situação. Isso pode estar relacionado à formação do profissional, que muitas vezes gera a onipotência que o traz para a vida profissional. Saber lidar com as questões das perdas vivenciadas ao longo da vida está intimamente relacionada a questão socioculturais, como a morte. A experiência de acolher e ouvir os familiares no momento de perda, angústia e sofrimento traz aos profissionais de saúde uma dimensão de cuidado que fortalece os vínculos estabelecidos com a família para que as mesmas não sintam-se sozinhas durante este processo.

Descrição
MJL, nascido em 21/12/1929 e falecido em 12/07/2017, natural de Pernambuco, branco, casado, pai de dois filhos, residente em São Paulo há 63 anos e usuário do serviço desde 1994. Realizou atendimentos de promoção e prevenção de saúde com necessidade de intervenções e orientações em alguns atendimentos. Devido diagnóstico de epilepsia desde 1995, sofreu diversas quedas devido as crises o que ocasionou diversas fraturas e déficit de mobilidade; porém o usuário manteve uma vida ativa dentro de suas condições por muitos anos. Fazia acompanhamento com especialista na atenção especializada e deixou de comparecer a unidade por mais de dois anos. Até que sua esposa compareceu ao serviço, referindo que MJL sofreu um AVC e encontrava-se acamado, em uso de fraldas e dores nas articulações devido artrite e artrose o que dificultava a realização das atividades de vida diária. Realizada VD pela equipe multiprofissional após discussão e avaliação do caso, pode-se concluir que o usuário estava em fase final de vida.Iniciou-se uma atuação com cuidados paliativos para o usuário e sua família. Em 12/07/2017 ocorreu a morte do usuário e a unidade foi informada pela família que ofereceu toda a assistência e apoio necessário no momento e agendou uma visita domiciliar de luto.

Período de Realização
Trabalho realizado de 15/05/2017 a 20/07/2017.

Objetivos
Proporcionar escuta e apoio aos familiares que vivenciam o processo de perda e luto.

Resultado
Verificou-se se que, a partir das Visitas domiciliares de luto, os familiares sentiram-se mais acolhidos para o enfrentamento do sofrimento e morte. Assim, os profissionais de saúde na APS são elementos fundamentais para que os familiares possam falar sobre seus sentimentos, história de vida e lembranças que estão afloradas neste processo de elaboração do luto e que muitas vezes não encontram alguém que se disponibilize a ouvi-los sem julgamentos. Desta forma, a VD de luto se constitui como uma oportunidade para os familiares/cuidadores e profissionais da APS refletirem e discutirem várias questões, tais como: momento ideal para se desfazer dos objetos pessoais, como proceder em relação a inventário e bens deixados pelo falecido, formas de prosseguir a vida, apesar de ter que lidar com sentimentos de vazio, solidão e tristeza.

Aprendizagem
Embora o luto seja diferente para cada pessoa é importante permitir os familiares vivenciarem suas dores, angustias e sentimentos. Assim como o apoio e escuta neste momento difícil, favorece elaborar o luto com menos pesar e não sentirem -se sozinhos neste processo.

Análise Crítica
Faz-se necessário conhecer a dinâmica de cada família considerando a subjetividade, historia de vida, respeito aos desejos da pessoa que está em processo de finitude e ,a VD de Luto torna-se um forte instrumento na saúde coletiva levando o fortalecimento aos profissionais de saúde atuarem na APS.

Disponível Em: <https://proceedings.science/>