Sistematizamos as principais questões abordadas durante Encontro com a Especialista Ekaterini Goudouris, médica pediatra, membro do Departamento Científico de Imunologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), médica do serviço de imunologia do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG) e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), realizado em 27/07/2021.
Perguntas & Respostas
1. Quais as principais medidas ambientais que se pode tomar para evitar o aparecimento da dermatite?
Não há medidas eficientes para evitar o aparecimento da dermatite.
Nos casos onde se sabe que a família da criança tem algum histórico de atopia, pode-se proceder para a hidratação profilática da pele da criança quando se observa que há ressecamento. Ainda assim, deve-se ter cuidado com o hidratante recomendado. Por exemplo, o uso de hidratantes a base de óleo, como macadâmia ou amêndoas, ao se ter quebra de barreiras (fissuras na pele), pode ocorrer a sensibilização destes alérgenos muito precocemente na criança, por isso não são recomendados.
Não há evidências quanto ao uso de probióticos e cuidados com a dieta da mãe durante a gestação e lactação para prevenir a dermatite. Sendo assim, o melhor cuidado é o diagnóstico precoce.
Vale lembrar que, quando há sensibilização para alérgenos respiratórios, sendo na maioria das vezes para ácaros, é importante manter medidas de controle do ambiente, principalmente no quarto do paciente, especialmente na cama. O uso de capas protetoras com tecnologia anti ácaros são medidas importantes para esse grupo de pacientes. Deve-se cuidar para que as capas não sejam de material que esquente, como plástico ou PVC.
2. Existe possibilidade de cura nas dermatites atópicas?
Não há perspectiva de cura para nenhum tipo de doença alérgica. Nesse sentido, o foco deve ser dado nas medidas de controle ambiental, farmacoterapia e imunoterapia alérgeno-específicas (vacinas) ou imunobiológicas. Estas ações podem mudar a história natural da doença.
Não se pode falar em cura de doenças atópicas, por isso o tratamento deve ter foco no controle dos sintomas, em diminuir a gravidade, frequência e grau de acometimento.
3. Os casos de dermatite atópica podem ser conduzidos na Atenção Primária em Saúde? Se sim, quando devem ser encaminhados para um dermatologista?
Sim, a dermatite atópica pode ser conduzida pela Atenção Primária.
A maioria dos casos de dermatite atópica são quadros leves, sendo necessário implementar medidas de controle ambiental e cuidado com a pele.
Quadros mais extensos, graves e que não estejam evoluindo bem com as medidas de cuidado com a pele, ou que sejam em áreas extensas, devem ser encaminhadas para serviços de maior complexidade, podendo ser o dermatologista ou o alergista. Lembrando que o atendimento e o cuidado destas crianças deve ser feito pela equipe multidisciplinar, incluindo além das especialidades médicas, a equipe de enfermagem, psicologia, nutrição e serviço social.
Por fim, as crianças encaminhadas para serviços de maior complexidade devem retornar para a Atenção Primária após os cuidados mais intensivos.
4. Existem casos graves que culminam em casos mais complexos e com consequências graves para os pacientes?
Os casos graves significam comprometimento na qualidade de vida não só do paciente, mas também de sua família. Pode ocorrer comprometimento do sono, alterações do humor, prejuízos nas atividades diárias, o que pode levar também a questões psicossociais.
Casos mais graves e agudos podem levar à desidratação devido a perda de líquido, maior risco de infecções secundárias (bacteriana, principalmente), sendo necessário recorrer à internação hospitalar em alguns casos.
5. Existe algum tratamento que impeça o aparecimento da dermatite atópica?
Não há medidas que impeçam o aparecimento da dermatite atópica. No entanto, é possível buscar medidas para o diagnóstico precoce da doença, tratamento adequado e encaminhamento dos casos mais graves para serviços especializados.
Dependendo do caso, é possível também fazer uma dieta de exclusão nesse paciente durante um período, tentando identificar se há relação com alergia alimentar (normalmente ovo ou leite). No entanto, deve-se ter cautela nessa recomendação e suspendê-la após 3 ou 4 semanas caso não haja melhora dos sintomas apresentados.
6. Que tipos de hidratantes utilizar, que não sejam sensibilizantes?
Recomenda-se utilizar os hidratantes que tenham ceramidas.
Alguns bons hidratantes não sensibilizantes são muito caros e por isso de difícil acesso para boa parte da população. Os profissionais devem levar isso em conta ao prescrever o tipo de hidratação. É possível sugerir a manipulação de alguns hidratantes e combinar técnicas, como por exemplo, utilizar os hidratantes e o “wet wrap”, ou aumentar a frequência de aplicação.
7. O que se recomenda para que não ocorra o ressecamento da pele das crianças com dermatite atópica? Há alguma sugestão para crianças de famílias em situação de vulnerabilidade social?
Para famílias que não conseguem arcar com os custos de alguns hidratantes mais caros, pode-se utilizar a manipulação de hidratantes com o uso de alguns óleos (como o de semente de uva que é menos alérgeno, por exemplo). Nos casos em que se utilizam hidratantes comerciais vendidos em supermercados, deve-se orientar a família na escolha por marcas que não tenham fragrância e evitar sempre o uso de hidratantes à base de uréia, uma vez que ela pode causar prurido.
Outro aspecto importante do cuidado é a frequência dos banhos de imersão, que podem ocorrer várias vezes ao dia. Pode-se utilizar uma solução coloidal acrescentando amido de milho na água do banho.
Não existe uma única recomendação ou hidratante a ser utilizado por todos os pacientes com dermatite atópica. O aspecto mais importante do tratamento é o monitoramento da pele buscando por áreas de ressecamento e tratando oportunamente.
8. Sobre a dermatite atópica e asma, qual a relação entre elas? Há alguma especificidade no tratamento e condução dos casos?
A dermatite atópica, asma, rinite, rinoconjuntivite e rinossinusite fazem parte de um mesmo “pacote” de doenças atópicas, com manifestações diferentes. São doenças poligênicas (causadas por mais de um gene) e multifatoriais. Ainda assim, a manifestação das doenças é diferente em cada pessoa. Pode ocorrer do indivíduo apresentar dermatite atópica na infância e asma ao longo da vida, ou apresentar mais de uma doença ao mesmo tempo. Não há uma regra nesse sentido.
Quanto à especificidade do tratamento, recomenda-se que, quanto mais manifestações atópicas o paciente apresentar, mais se caminha para a realização de imunoterapia alérgeno-específica.
9. Que critérios utilizar para a iniciar a dieta de exclusão? Quando indicar biópsia?
A biópsia é recomendada quando se observa a presença de lesões que não são muito características e que não estejam respondendo muito bem ao tratamento. Ainda assim, essa prática não é muito frequente e deve ser utilizada para situações muito específicas.
A dieta de exclusão é recomendada principalmente para pacientes de baixa faixa etária onde os pais/cuidadores relatam a presença de uma reação quase imediata após a ingestão de determinado alimento (como urticária, edema, vômito, diarréia imediata, etc.) com subsequente piora da pele. Os alimentos mais comuns na alergia alimentar são o leite, ovo, soja, trigo, crustáceos e peixe (estes últimos em crianças mais velhas).
Como citar
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente. Postagens: Principais Questões sobre Dermatite Atópica: desafios no diagnóstico e tratamento. Rio de Janeiro, 06 dez. 2021. Disponível em: <https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-crianca/principais-questoes-dermatite-atopica-diagnostico-tratamento/>.