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Principais Questões sobre Anemia Ferropriva na Criança

1 maio 2025

Sistematizamos as principais questões abordadas durante o Encontro com a Especialista Clarisse Lobo, médica hematologista, assessora técnica e pesquisadora do Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti – Hemorio, realizado em 25/01/2022.

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A principal causa de anemia é a deficiência de ferro. Ela está associada a mais de 60% dos casos em todo o mundo. A anemia é caracterizada por hemoglobina:

  • <11g/dL em gestantes e crianças de 6 meses a 5 anos;
  • <11,5 g/dL em crianças de 5 a 11 anos;
  • <12 g/dL em adolescentes e mulheres não gestantes;
  • <13 g/dL em homens.

A hemoglobina é o parâmetro para saber se uma pessoa tem anemia ou não, pois ela mede a quantidade de oxigênio transportada.

 

Causas da Anemia

  • Produção: diminuição da produção de ferro devido à dieta inadequada ou por absorção insuficiente, são as duas causas mais frequentes;
  • Perda: aumento da perda de ferro em situações de hemorragia (ex: aumento do fluxo menstrual);
  • Demanda: aumento da demanda de ferro, como durante o período de crescimento de crianças e na gravidez.

A Ferropenia (carência de ferro) é o fator principal ou adjuvante em todos os grupos etiológicos de anemia.

Entre 20% a 30% da população mundial possui anemia. A prevalência de anemia em crianças de 0 a 4 anos em países desenvolvidos é de 20% e em países em desenvolvimento é de 39%. Já em crianças de 5 a 14 anos em países desenvolvidos a prevalência de anemia é de 5.9% e em países em desenvolvimento é de 48%. No Brasil, a anemia é identificada em até 48% das crianças menores de 5 anos.

A anemia ferropriva possui fases de instalação:

Depleção dos
estoques de Fe

Deficiência de Fe
sem anemia

Anemia por
deficiência de Fe

  Ferro Medular

 Ausente

 Ausente

 Ausente

  Ferritina Sérica

 <30

 <20

 <12

  Ferro Sérico

 Normal

 <50

 <50

  Saturação da
Transferrina

 Normal

 <20

 <20

  Hipocromia/
Microcitose

 Não

 Sim

 Sim

  Anemia

 Não

 Não

 Sim

 

Sinais e Sintomas da Anemia Ferropriva

  • Sistema Nervoso Central (SNC): fadiga, irritabilidade, sonolência, menor cognição, vertigem, depressão e cefaléia;
  • Sistema Cardiovascular: taquicardia, ICC, palpitação, dispneia, sopro sistólico, hipertrofia ventricular;
  • Trato Gastrointestinal: alterações no apetite e náusea;
  • Trato Geniturinário: diminuição de libido em homens e mulheres;
  • Fâneros: queda de cabelo, glossite, queilite angular, unhas frágeis, celoniquia;
  • Sistema Imunológico: diminuição da função dos macrófagos e das células T, levando a um aumento de infecções;
  • Sistema Vascular: diminuição da temperatura cutânea, hipotermia e palidez.

O ferro é absorvido no organismo através dos alimentos, pelas células do intestino – em média 1 a 2 mg por dia. A Hemoglobina é a principal fonte de ferro do organismo, mas ele também se encontra nos músculos e nos hormônios. Em torno de 20mg por dia de ferro é reciclado através da destruição das hemácias velhas sendo novamente incorporado a medula óssea para nova eritropoiese, ou é estocado no baço e no fígado. Dessa forma, quando há a diminuição do ferro do alimento ocorre a diminuição da absorção de ferro, logo também diminui das hemoglobinas dentro das hemácias e assim a anemia.

Anemias Nutricionais: ocorrem por não absorção de ferro
Anemia por Disabsorção: quando há perda de sangue ou má absorção
Anemia por Sangramento: quando há uma perda muito grande de sangue

O diagnóstico de anemia é feito pelo hemograma, dosagem do ferro sérico, capacidade total de ligação do ferro, ferritina e Proteína C reativa. Para se ter um diagnóstico é preciso primeiro identificar a causa da anemia. É importante fazer uma orientação alimentar e em alguns casos também a reposição de ferro.

A quantidade de ferro necessária no corpo depende da idade:

  • Entre 9 e 13 anos – 8mg de ferro/dia
  • Entre 14 e 18 anos – 11mg de ferro/dia para meninos e 15mg/dia para meninas.

 

Tratamento da Anemia Ferropriva

Identificação das causas -> Orientação alimentar -> Reposição de ferro

Nos alimentos são encontrados dois tipos de ferro:

  • Ferro Heme: encontrado em apenas 10%-15% da ingestão diária de alimentos provenientes das células de tecido animal, como carne, peixe e gema do ovo. A absorção é de 20%-25%.
  • Ferro Não-Heme: encontrado em 85%-90% da ingestão diária, como cereais, leguminosas, folhas etc. E a absorção variável, 1%-7%, de acordo com fatores estimuladores ou inibidores.

Importante:

A vitamina C contribui para a absorção do ferro e, por esse motivo, devem ser ingeridas junto com os alimentos (ex: sucos ricos em vitamina C junto às refeições).

A Vitamina A e o beta caroteno formam complexos com o ferro, mantendo-o solúvel no lúmen intestinal, evitando o efeito inibitório dos fitatos e polifenóis na absorção de ferro.

A clara do ovo diminui a absorção do ferro não-heme presente na gema, já que a ovoalbumina é um quelante de ferro.
Taninos (chá, café e chocolate), fitatos (cereais integrais), fibras (farelos) e caseína (laticínios) se ligam ao ferro no duodeno, transformando-os em compostos insolúveis e diminuindo sua absorção.

Reposição de Ferro:

  • A via de reposição da anemia ferropriva: preferencialmente via oral.
  • Dose de ferro elementar:
    • Adulto = 100 a 200 mg/dia
    • Crianças = 3 a 5 mg/kg/dia
  • Sais de Ferro: Sais Ferrosos (sulfato, gluconato e fumarato) e Sais Férricos (ferripolimaltose e glicinato).

Tratamentos:

  • 1ª fase: correção da anemia – entre 1 e 2 meses
  • 2ª fase: reposição dos estoques de ferro (ferritina ≥30mg/ml) – entre 2 e 6 meses

Os critérios de respostas são a melhora ou desaparecimento dos sintomas:

  • Reticulose (aumento das células jovens);
  • Aumento de 2g/dL de Hb em 30 dias de tratamento;
  • Normalização gradual dos exames:
    • Capacidade total de ligação do ferro mais baixa;
    • Índice de saturação mais alto;
    • Ferritina em nível normal.

Sabe-se que a medicação não está sendo efetiva quando há:

  • Perda de sangue
  • Uso inadequado da medicação
  • Doença coexistente
  • Diagnóstico incorreto
  • Deficiências nutricionais combinadas
  • Causa genética de deficiência de ferro

Orientações:

  • Orientar quanto aos possíveis eventos adversos e duração do tratamento;
  • Orientar ingestão do medicamento com ferro durante ou após as refeições;
  • Uso de doses menores e aumento gradativo;
  • Substituir o composto de ferro utilizado quando não estiver funcionando.

 

Prevenção da deficiência de ferro

  • Prematuros: prematuro > 1.500g e recém-nascidos de baixo peso: 1 a 3mg de ferro elementar/kg/dia a partir do 30º dia de vida até 2 anos de idade;
  • Lactentes nascidos a termo com peso adequado para a idade gestacional: 1 a 3mg de ferro elementar/kg/dia a partir da introdução de alimentos complementares até os 2 anos;
  • Crianças: 2,5 a 5mg de ferro elementar por kg/dia por 2 a 3 meses (até obtenção de ferritina ≥ 15mg/ml).

 

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Como citar

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente. Postagens: Principais Questões sobre Anemia Ferropriva na Criança. Rio de Janeiro, 25 abr. 2025. Disponível em:<https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-crianca/principais-questoes-sobre-anemia-ferropriva-na-crianca>.

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