Sistematizamos as principais questões abordadas durante Encontro com o Especialista Dr. Paulo Bonilha, médico pediatra e sanitarista da Unicamp, realizado em 05/05/2020.
Perguntas & Respostas
1. Qual a importância da primeira consulta do puerpério nesse período de pandemia?
A primeira consulta de puerpério é fundamental sempre. Este é um momento importante para o bebê, para o aleitamento materno e também para o puerpério. Ela pode inclusive ajudar a reduzir os riscos de morte materna puerperal, já que este ainda pode ser um momento de risco para a mulher.
Durante a pandemia estes cuidados devem ser redobrados, já que existe o risco da mulher ser infectada pelo coronavírus e necessitar de orientações especiais. Vale lembrar que não há evidências da presença do coronavírus no leite materno e, considerando os benefícios da amamentação para a imunidade do bebê, orienta-se a manutenção do aleitamento materno, mesmo em mulheres infectadas pelo vírus. Recomenda-se cuidados como uso de máscara e higienização das mãos ao lidar com o recém-nascido, para evitar contágio.
2. A consulta do 3º ao 5º dia deve ser mantida durante a Covid-19? Como organizar a Atenção Primária à Saúde (APS)?
Ao observar a experiência de outros países durante a pandemia, como a Espanha e a Itália, é possível ver a importância de a Atenção Primária organizar e separar os fluxos de atendimento de pacientes em sintomáticos respiratórios e não sintomáticos. Isso ajuda a reduzir os riscos de contágio nas Unidades. Em alguns locais o fluxo é separado na mesma Unidade e em outros pode-se definir atendimento só de casos sintomáticos respiratórios, por exemplo.
Além das mudanças de fluxo deve-se reiterar os cuidados com higienização das mãos, uso de máscaras e distanciamento adequado.
3. A puericultura deve mudar sua frequência de consultas? O que deve mudar nesse momento de pandemia?
Recomenda-se que o acompanhamento de consultas de rotina seja feito à distância. Tem-se investido em teleatendimento, na vigilância ativa tanto dos casos de pacientes crônicos como da puericultura. O uso de telefone e whatsapp tem sido disseminado na prática de muitos locais.
4. Quais orientações para as famílias devem ser privilegiadas nessa primeira consulta?
Há algumas orientações gerais que sempre devem ser feitas. Mas deve-se buscar um atendimento individualizado tanto para a mulher como para o recém-nascido, buscando o cuidado terapêutico singular.
Deve-se também avaliar a amamentação, se há alguma dificuldade, se há hipoatividade do bebê ou qualquer outra situação que justifique um acompanhamento mais próximo da equipe de saúde. É fundamental que os profissionais da atenção primária se coloquem disponíveis para a mulher e seu bebê.
Durante o período da pandemia, principalmente, as Unidades devem estar disponíveis também por meio telefônico ou whatsapp, evitando idas desnecessárias à UBS.
5. A amamentação deve ser mantida durante o período do COVID? Quais as recomendações para as mulheres sintomáticas e não sintomáticas?
Sim, a amamentação deve ser mantida. As evidências não demonstram presença do coronavírus no leite materno. Tanto mulheres sintomáticas como assintomáticas podem amamentar.
Quanto aos cuidados, deve-se realizar rigorosa lavagem das mãos e o uso de máscara.
6. Na dificuldade de manter as ações da atenção primária em pleno funcionamento, o que deve ser privilegiado? A consulta do 3º ao 5º dia deve ser presencial?
Sim. Preconiza-se que tanto as consultas do 3º ao 5º dia quanto o pré-natal sejam presenciais, mesmo na vigência da pandemia. Isso porque há peculiaridades destes atendimentos, como por exemplo a avaliação da mamada.
7. Como fortalecer a participação do pai no cuidado do bebê?
É importante que os profissionais de saúde tenham o hábito de perguntar sobre a presença do pai da criança, quando este não vai às consultas. Em alguns momentos ele está na Unidade mas não é chamado para participar da consulta. Também deve-se perguntar à mulher se ela se importa que o pai participe da consulta. Dessa forma, ele poderá escutar as orientações para que se sinta seguro e participe do cuidado do bebê.
8. Quais sinais de alerta os profissionais devem observar nessa primeira consulta? E, como acompanhar melhor essas famílias? Quais situações de vulnerabilidades devem ser consideradas?
O atendimento precoce ao binômio é importante para todas as mulheres, mas nas situações de vulnerabilidade ele se torna ainda mais relevante. Há diversas situações de vulnerabilidade a serem consideradas, inclusive do ponto de vista biológico, como: crianças de baixo peso ao nascer, prematuras ou que tiveram alguma intercorrência na maternidade.
Outras situações incluem puérperas: adolescentes, sem rede de apoio, em uso de substâncias psicoativas, em difícil situação socioeconômica, etc. Os profissionais de saúde podem atuar junto à assistência social, a fim de apoiar as mulheres e minimizar estas vulnerabilidades.
Deve-se lembrar também de avaliar a vulnerabilidade emocional das mulheres, buscando por sinais de depressão.
9. Como deve funcionar a rotina de alta precoce para o recém-nascido e puérperas durante a pandemia, devido ao risco de exposição ao vírus?
As altas precoces devem ser feitas de forma responsável. Deve-se respeitar algumas condições para que a alta se dê em 24h, considerando a experiência da mãe, a descida do leite, a amamentação, suas condições físicas e emocionais, etc. Além disso, deve-se avaliar o bem-estar do bebê, se ele está conseguindo mamar, se realizou todos os exames necessários, etc. Mais importante que a alta precoce, deve-se sempre buscar a alta responsável.
10. Como deve ser a rotina de quarentena em casa para mãe e bebê assintomáticos?
O ideal é que o binômio e toda sua família faça o isolamento, como preconizado pelas autoridades sanitárias, dependendo do momento da pandemia.
A princípio, a gestante e a puérpera não tem maior risco para contrair o coronavírus. No entanto, deve-se lembrar da sazonalidade do vírus da influenza, que pode ser confundido em uma mulher apresentando síndrome gripal ou SRAG (síndrome respiratória aguda grave). Estas mulheres também precisam ser bem acompanhadas pelas graves consequências da Influenza em gestantes e puérperas. Vale lembrar que esta população deve ser vacinada.
11. Nesse momento de pandemia, orienta-se a realizar a primeira visita em domicílio para evitar a ida da puérpera à UBS?
Esta pode ser uma possibilidade sim. É uma saída, dependendo da realidade da UBS. O profissional que for fazer a visita domiciliar deve tomar todas as precauções para que ele não se contamine dentro do domicílio. Pode-se priorizar o atendimento ao ar livre, sempre que possível. Também devem ser utilizados os equipamentos de proteção individual sempre.
12. Quais são as consequências de não conseguir agendar a primeira consulta do binômio no período de pandemia?
Esta é uma grande preocupação e as consultas do 3º ao 5º dia do binômio não devem ser suspensas, mesmo durante a pandemia. Este é um período único e essencial para apoiar a mulher no manejo da amamentação, por isso não há como ser postergado. O que deve ser garantido é que os atendimentos ocorram de forma segura.
Uma possibilidade é a realização da consulta na UBS, que deve focar na separação do fluxo de pacientes sintomáticos respiratórios, inclusive com equipes diferentes e em espaços que não sejam compartilhados. Isso reduziria os riscos de contágio.
13. Como deve funcionar o acompanhamento para recém-nascidos após a alta de Unidades Neonatais, como as UTIs? Quais especificidades devem ser consideradas?
O atendimento ao binômio deve ser universal, para todas as mães e bebês. No caso de bebês que acabaram de receber alta de uma Unidade de Terapia Intensiva, a primeira consulta passa a ter uma importância maior ainda. É fundamental que a equipe tenha acesso ao relatório e encaminhamento da maternidade, que acesse as informações da Caderneta da Criança sobre o bebê para ver quais orientações foram dadas para o momento da alta e, sempre que possível, entre em contato com a maternidade, a fim de estreitar o vínculo entre os serviços e oferecer a melhor atenção ao recém-nascido.
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