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Principais Questões sobre Bronquiolite na Infância: diagnóstico e tratamento

8 jul 2021

Postagem publicada em 08 jul 2021 e atualiizada em 21 ago 2023.

Sistematizamos em texto as principais questões sobre Bronquiolite na Infância: diagnóstico e tratamento. Trata-se da atualização do conteúdo originalmente publicado.

A bronquiolite aguda é definida como 1° episódio de tosse persistente e taquipneia e/ou sinais de esforço respiratório, podendo ou não haver sibilância (chiado) e/ou crepitações, em crianças menores que 2 anos. É um quadro obstrutivo de vias aéreas inferiores, geralmente precedido por um resfriado comum. Em geral, não apresentam reversibilidade com o uso de broncodilatador.

Fisiopatologia

  • Após 4 a 6 dias de incubação, o lactente apresenta manifestações de resfriado comum (infecção de vias aéreas superiores – IVAS), como febre, congestão, rinorreia, irritabilidade e hiporexia.
  • Dois a três dias após início dos sintomas de IVAS, 1/3 dos lactentes pode evoluir com bronquiolite – inflamação aguda, edema e necrose das células epiteliais das pequenas vias aéreas.
  • Geralmente, a bronquiolite se manifesta com piora da tosse, taquipneia, sibilos ou estertores creptantes, batimento de asa nasal e retrações torácicas.
  • A hiperinsuflação se desenvolve à medida que o ar fica aprisionado no bronquíolos ocluídos. O ar aprisionado nos alvéolos é absorvido, resultando em atelectasia distal à obstrução
  • O aumento do trabalho respiratório e o declínio da função pulmonar ocorrem devido à falta de correspondência entre ventilação e perfusão, resultando em aumento da hipoxemia
  • A severidade da bronquiolite é maior entre o quarto e o sexto dias de evolução dos sintomas catarrais e apresenta grande oscilação clínica – períodos de melhora e piora ao longo do dia, independente das medidas instituídas

Epidemiologia e agentes etiológicos

  • A incidência de bronquiolite, no Brasil, aumenta durante os meses de Outono e Inverno, período de maior sazonalidade do vírus sincicial respiratório (VSR)
  • Agente etiológico: o VSR é responsável por 5- a 80% dos casos de bronquiolite. Outros agentes identificados em secreção nasofaringea são: rinovírus, parainfluenza, metapneumovírus, coronavírus, adenovírus, influenza e enterovírus.
  • Os fatores de risco incluem: prematuridade (especialmente ≤ 32sem), baixo peso ao nascer, idade < 3 meses, desnutrição, doença pulmonar crônica/displasia broncopulmonar, defeitos anatômicos das vias aéreas, cardiopatia congênita com repercussão hemodinâmica, imunodeficiência, doença neurológica/neuromuscular e tabagismo passivo.
  • Como qualquer doença de partícula viral, o contágio da bronquiolite se faz através do contato com secreção de vias aéreas, fômites e das mãos (principal causa de infecção em crianças hospitalizadas).
  • A bronquiolite é a principal causa de internação em lactentes previamente hígidos.

Diagnóstico e exames complementares

  • O diagnóstico da bronquiolite é baseado na anamnese e exame físico. Na história clínica, há relato de sintomas de IVAS e contato com familiar ou outras crianças com sintomas gripais.
  • Exames laboratoriais podem ser solicitados para identificação do vírus (imunofluorescência direta ou indireta de secreção nasal, PCR, kits de detecção viral).
  • Outros exames laboratoriais não devem ser solicitados de rotina. A recomendação fica restrita a recém-nascidos < 28 dias de vida com febre e agravamento não esperado do quadro clínico, principalmente com febre alta persistente
  • O exame radiológico também não é recomendado de rotina – Não melhora manejo e pode levar a tratamentos sem benefícios. Deve ser realizado em casos graves (suporte invasivo) ou suspeita de diagnósticos alternativos como pneumonia, atelectasias e pneumotórax.

Tratamento

  • Não há tratamento para bronquiolite.
  • Não existe recomendação para o uso de broncodilatador, salina hipertônica, corticoide, epinefrina ou antibiótico.
  • Pode ser feito teste com broncodilatador, porém sua manutenção deve ser restrita aos pacientes que apresentes resposta satisfatória após o teste.
  • O uso de corticoide – sistêmico ou inalatório – não reduz incidência de internação e não reduz tempo de internação.
  • O Palivizumabe (anticorpo monoclonal contra o VSR) é indicado nos seguintes casos: crianças prematuras (menores de 29 semanas), cardiopatia congênita com repercussão hemodinâmica ou doença pulmonar crônica da prematuridade. A dose mensal utilizada é de 15mg/kg/dose (na sazonalidade).

Referências

  • Friedman JN, Rieder MJ, Walton JM; Canadian Paediatric Society, Acute Care Committee, Drug Therapy and Hazardous Substances Committee. Bronchiolitis: Recommendations for diagnosis, monitoring and management of children one to 24 months of age. Paediatr Child Health. 2014 Nov;19(9):485-98 (Revisão 2021).
  • National Institute for Health and Clinical Excellence (Nice). Bronchiolitis: Diagnosis and Management of Bronchiolitis in Children; Bronchiolitis in Children, 2015 (Revisão 2021).
  • Ralston SL, Lieberthal AS, Meissner HC, et al. Clinical practice guideline: the diagnosis, management, and prevention of bronchiolitis. 2014;134(5):e1474–e1502.
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  • Pallab Chatterjee; Vineet Sehgal, Samir Shah. Bronchiolitis. Indian Academy of Pediatrics (IAP). GUIDELINES 2022.
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  • Shein SL, et al. Terapia com corticosteróides durante bronquiolite aguda em pacientes que mais tarde desenvolvem asma. Hosp Pediatr 2017; 7:403
  • Piedra P, Stark A.: Bronchiolitis in Infants and Children: Treatment, Outcome and Prevention. Wolters Kluwer Uptodate 2020. Última Revisão 22 Abr 2020.

Como citar

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente. Postagens: Principais Questões sobre Bronquiolite na Infância: diagnóstico e tratamento. Rio de Janeiro, 21 ago. 2023. Disponível em: <https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-crianca/principais-questoes-sobre-bronquiolite-na-infancia-diagnostico-e-tratamento/>.

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