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Principais Questões sobre Desospitalização de Crianças com CCC: o papel da nutrição

23 ago 2023

Série Desospitalização de Crianças com Condições Crônicas Complexas de Saúde (CCC)

Sistematizamos as principais questões abordadas durante o encontro com as especialistas Fernanda Simões e Miriam Gomes, nutricionistas do IFF/Fiocruz, realizado em 18/10/2022.

Veja também: Postagem sobre o tema

Quais são as crianças que podem ser beneficiadas com a assistência nutricional domiciliar?

Atenção: a internação traz um grande impacto para as crianças, onde há um desequilíbrio no qual o organismo precisa estabelecer qual será a sua prioridade naquele momento. O enfrentamento do agravo clínico e a manutenção da vida passam a ser as prioridades durante a internação, logo o processo de crescimento e desenvolvimento não é o maior foco, retornando quando a criança voltar ao seu estado basal, de resolução do agravo.

Importante: crianças que passam por múltiplas internações decorrentes do seu quadro clínico tem um déficit no seu crescimento/desenvolvimento e estado nutricional. Salienta-se que a doença de base já compromete o estado nutricional da criança. Assim é fundamental que essas crianças passem por uma avaliação nutricional em internações prolongadas.

A abordagem nutricional ocorre através do diagnóstico nutricional + avaliação de fatores de risco para desnutrição.

Classificação do Estado Nutricional: utilizam-se curvas específicas a depender da doença de base, com aferição/estimativa de estatura e peso. A utilização isolada do peso não é adequada, assim a relação peso/estatura ou IMC para idade da criança são parâmetros/medidas que ajudam a averiguar se a criança está ganhando peso adequadamente. O ganho de peso deve acontecer na mesma velocidade do crescimento.

Avaliação antropométrica: é possível usar fórmulas preditivas e materiais adequados para a estimativa de estatura da criança, ver Desospitalização de Crianças com CCC: o papel da nutrição.

A avaliação da nutrição deve ser dinâmica e constante, pois a criança muda seu quadro clínico e suas necessidades dietéticas. Para cada fase da doença é preciso estabelecer metas se de recuperação ou de estabilização do estado nutricional.

 

Início do Processo de Desospitalização

O processo de desospitalização deve acontecer o mais precoce possível.

No hospital o plano de  dieta ofertada deve ser o mais próximo do que a criança pode realizar em casa, ou seja deve-se aproximar as condutas do planejamento domiciliar (tipo de dieta e método de administração/infusão). A escuta do cuidador/criança é fundamental para planejar/prescrever os alimentos que deverão ser mantidos em casa. É importante destacar ganhos e evoluções, deixar claro o objetivo de cada etapa e transmitir/despertar a confiança da criança e de seus cuidadores.

Critérios Nutricionais para estabilidade e alta hospitalar:

  • Curvas de crescimento ascendentes não precisam estar eutróficas, mas ascendentes no ritmo de recuperação nutricional se a criança for desnutrida.
  • Boa aceitação e tolerância da dieta prescrita.
  • Cuidadores seguros e treinados para o preparo e administração da dieta.
  • Acesso aos insumos para preparo e administração da dieta (dieta especializada, frasco, equipo e bomba), caso a criança necessite desses equipamentos é importante definir como os cuidadores terão acesso aos mesmos.

 

Transição do cuidado/alta hospitalar

  • O contato e a troca com a equipe de saúde domiciliar é fundamental para o processo de desospitalização.
  • A visita da equipe de saúde domiciliar à criança ainda no hospital é uma estratégia que ajuda no processo de desospitalização da criança e traz segurança para a família.
  • A discussão sobre o planejamento nutricional também é uma estratégia possível e benéfica para o cuidado da criança no domicílio, especialmente quando a equipe de atenção domiciliar não tem nutricionista.

 

Atenção na alta hospitalar

  • Treinamento do cuidador.
  • Evitar grandes mudanças na dieta inicialmente (15 dias).
  • Programar a transição para a dieta artesanal.
  • Introdução da alimentação complementar (VO/Gastrostomia).
  • Valorizar o papel social da alimentação.
  • Adaptar as expectativas dos responsáveis para a realidade da criança.

Escolha da dieta enteral: No processo de desospitalização, a maioria das crianças se alimenta por uma via alternativa que pode ser por sonda ou por gastrostomia, por exemplo. A depender da via de alimentação escolhe-se uma alimentação artesanal ou industrializada. É fundamental avaliar o estado nutricional da criança na alta hospitalar. Para crianças eutróficas no processo de alta é possível pensar em uma dieta artesanal. Para uma criança desnutrida ou com gasto energético elevado a dieta industrializada pode ser a mais indicada. Os custos/gastos e disponibilização da alimentação da criança devem ser considerados pela equipe.

Atenção: a equipe da nutrição, junto aos demais membros da equipe de saúde devem avaliar quais as melhores estratégias para a criança desospitalizada a partir do seu quadro clínico e dinâmica familiar.

Para prescrever a dieta enteral: a criança deve tolerar a infusão em bolus com seringa. Crianças em uso de gastrostomia devem estar com sonda de GTT de 14 Fr, sondas com calibres menores facilmente obstruem. Deve-se avaliar a tolerância da criança ao volume adequado da dieta, pois volumes restritos de dieta artesanal podem não atingir ao que se deseja.

É importante que a equipe verifique se a família possui os equipamentos e utensílios adequados em casa para a preparação e armazenamento da dieta artesanal.

É fundamental a verificação do tempo disponível do cuidador para o preparo e administração da dieta, uma vez que o preparo da dieta demanda tempo e organização.

Deve-se também avaliar o estado nutricional e clínico da criança visto que os mesmos interferem na absorção dos nutrientes contidos na dieta.

Acompanhamento nutricional domiciliar: realiza-se uma primeira visita para reforçar as orientações nutricionais, avalia-se a infraestrutura do domicílio e condições higiênicas/sanitárias. Verifica-se a qualidade da água, orienta-se sobre a dieta in locu e reforça orientações gerais sobre higiene no preparo dos alimentos.

A cada visita é importante realizar a anamnese alimentar, intercorrências/complicações ocorridas, adaptar a dieta aos horários das dietas da família, quando necessário ajustar o plano dietético, verificar o acesso à dieta e realizar a avaliação nutricional.

A avaliação nutricional no domicílio deve utilizar os mesmos métodos utilizados no ambiente hospitalar, considerando as limitações do ambiente domiciliar: balança portátil, fita métrica e outros equipamentos. 

O peso da criança deve ser aferido sempre que possível e pode ser realizado por qualquer membro da equipe multidisciplinar.

Periodicidade das visitas:

  • Crianças até 2 anos: visitas mensais.
  • Crianças/adolescentes maiores de 2 anos em dieta plena: visitas trimestrais.
  • Visitas mais frequentes (minimamente mensais): crianças/adolescentes em evolução de dieta, desnutridos e/ou cuidadores com muitas dúvidas.

 

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Como citar

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente. Postagens: Principais Questões sobre Desospitalização de Crianças com CCC: o papel da nutrição. Rio de Janeiro, 23 ago. 2023. Disponível em: <https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-crianca/principais-questoes-sobre-desospitalizacao-de-criancas-com-ccc-o-papel-da-nutricao/>.

 

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