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Principais Questões sobre Dor Abdominal Crônica na Criança

3 jan 2024

Sistematizamos as principais questões abordadas durante Encontro com a Especialista Ana Sant’Anna, médica gastroenterologista pediátrica e professora da McGill University, realizado em 27/06/2023.

A dor crônica abdominal é denominada como sendo pelo menos 3 episódios de dor abdominal intermitente entre as idades de 4 à 18 anos, que persiste por mais de 3 meses de duração e que afeta as atividades de vida diária da criança.

Os distúrbios funcionais mais comuns são: dispepsia funcional, síndrome do cólon irritável, enxaqueca abdominal e dor abdominal funcional

Os eventos que envolvem a dor abdominal, estão relacionados à uma hipersensibilidade da parede abdominal, com distensão, inflamação e problemas de motilidade. Há que se considerar também a predisposição genética e agravantes como depressão/ansiedade, estresse familiar, testes na escola, concursos, etc.

Sinais de alerta para casos de dor abdominal em crianças:

  • Perda de peso involuntária (geralmente os pais notam);
  • Desaceleração do crescimento linear (é necessário acompanhar com regularidade o crescimento da criança);
  • Perda de sangue (pelo trato gastrointestinal);
  • Vômito significativo;
  • Diarreia severa crônica;
  • Dor persistente no quadrante direito/inferior;
  • Febre inexplicada;
  • História familiar de doença inflamatória intestinal, doença celíaca ou úlcera péptica;
  • Achados físicos anormais/inexplicáveis (artrite, doença perinatal);
  • Dor noturna/diarréia (quando a criança dorme bem é um sinal de que a dor crônica pode não ser algo grave);
  • Disfagia;
  • Puberdade tardia.

 

Dispepsia Funcional

Para ser definido como um quadro de Dispepsia Funcional deve estar presentes um ou mais dos seguintes sintomas, por pelo menos 4 dias por mês, durante dois meses:

  • Plenitude pós-prandial;
  • Saciedade precoce;
  • Dor epigástrica ou queimação não associada com a defecação;
  • Após avaliação adequada, não há explicação de uma outra condição médica.

Para a avaliação, a endoscopia digestiva alta (EDA) não deve ser obrigatória.

É importante evitar antiinflamatórios não esteroidais, cafeína, alimentos condimentados e gordurosos.

Tratamento: antiácido – geralmente escolhe-se iniciar pelos antagonistas dos receptores H2 e havendo necessidade inicia-se os inibidores da bomba de prótons. Não existe uma regra absoluta para a escolha de um desses dois antiácidos. É importante o profissional estar atento ao que é indicado no seu local de trabalho.

Outros medicamentos para o tratamento da dor:

  • Domperidona: 2,4 mg/kg/dia;
  • Eritromicina: 10 mg/kg/dia;
  • Cisaprida: 0,8 mg/kg/dia;
  • Ciproheptadine:0,25 mg/kg/dia;
  • Amitriptilina: 1-3 mg/kg/dia (deve ser a última opção e utilizado somente após a EDA ser negativa).

 

Síndrome do Cólon Irritável

Para ser definido como um quadro de Síndrome do Cólon Irritável devem estar presentes dor abdominal pelo menos 4 dias no mês associadas a um ou mais das seguintes características: 

  • relacionadas com a defecação: fezes amolecidas ou endurecidas;
  • relacionada com a mudança na frequência nas fezes;
  • mudança no formato das fezes.

Para detectar uma Síndrome do Cólon Irritável é fundamental a realização de exames complementares: hemograma completo, estudo do ferro, albumina, PCR, calprotectina (medida bioquímica da proteína calprotectina nas fezes) para se ter certeza de que não é uma Doença Inflamatória Intestinal ou de outra patologia (é um diagnóstico de exclusão).

  • Crianças com Síndrome do Cólon Irritável – a dor relacionada à constipação se resolve com o controle da constipação.
  • Observa-se ainda que após avaliação apropriada, os sintomas não podem ser explicados por outras condições médicas.
  • Há a presença dos sintomas por pelo menos 2 meses.
  • Diagnósticos diferenciais: infecção (parasitária, por exemplo), Doenças Celíaca, mal absorção de carboidrato e Doença Inflamatória Intestinal.

Tratamento:

  • Educar e tranquilizar a criança e sua família;
  • Retornar a criança ao funcionamento diário normal;
  • Aconselhamento nutricional;
  • Limitar o consumo de cafeína;
  • Acompanhamento com psicoterapia;
  • Tratamento farmacológico;
  • Uso de probióticos, óleo de menta, dieta de eliminação de oligossacarídeos fermentáveis, dissacarídeos, monossacarídeos, e polióis.

 

Enxaqueca Abdominal

Episódios de dor paroxística intensa mediana ou difusa com duração de 1 hora ou mais. Os episódios têm intervalos de semanas ou meses, a dor é incapacitante, ou seja interfere nas atividades de vida diária.

A dor da enxaqueca abdominal é associada a dois ou mais dos seguintes sintomas: anorexia, náuseas, vômitos, cefaleia, fotofobia, palidez.

Atenção: outras investigações devem ser realizadas para eliminar outras condições/doenças.

O tratamento pode ser realizado com medicamentos como Pizotifen, Amitriptilina, Propranolol, Ciproheptadina.

A enxaqueca abdominal, dentre as dores abdominais crônicas em crianças, é rara.

 

Dor Abdominal Funcional

Os sintomas devem estar presentes pelo menos 4 vezes ao mês e incluir todos os sintomas que seguem:

  • Dor episódica ou contínua que não ocorre somente durante eventos fisiológicos;
  • Critérios insuficientes para o diagnóstico de Cólon Irritável, Dispepsia ou Enxaqueca Abdominal;
  • Diagnóstico de exclusão presentes e que dure pelo menos 2 meses. Atenção: aquilo que não é possível classificar, classifica-se como Síndrome da Dor Abdominal Funcional.

O tratamento pode ser realizado com medicamentos como antiespasmódico, Amitriptilina, Citalopram, terapia por hipnose, terapia comportamental cognitiva (TCC).

 

Confira abaixo a gravação do Encontro na íntegra.

 

Perguntas & Respostas

Como citar

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente. Postagens: Principais Questões sobre Dor Abdominal Crônica na Criança. Rio de Janeiro, 03 jan. 2024. Disponível em: <https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-crianca/principais-questoes-sobre-dor-abdominal-cronica-na-crianca/>.

 

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