Principais Questões sobre Estratégias para Vacinação Infantil em tempos de COVID-19
29 maio 2021
Sistematizamos as principais questões abordadas durante Encontro com as Especialistas Janini Ginani, coordenadora de Saúde da Criança e Aleitamento Materno (COCAM/DAPES/SAPS/MS), e Ana Goretti, pediatra e coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde (MS), realizado em 16/06/2020.
A vacinação foi uma das maiores conquistas na Saúde Pública dos dois últimos séculos, o que permitiu a ampliação de mais de 30 anos na expectativa de vida do mundo. Cerca de 2 a 3 milhões de óbitos são prevenidos a cada ano por causa das ações de vacinação, impactando inclusive na mortalidade infantil.
O Programa Nacional de Imunizações (PNI) tem um calendário voltado para todos os grupos etários. Quando iniciado em 1973, o Calendário Vacinal era voltado somente para crianças. Eram quatro vacinas, e atualmente são cerca de 30 vacinas.
O PNI organiza-se para compra e distribuição de cerca de 47 imunobiológicos, divididos em: vacinas, imunoglobulinas e soros. São cerca de 300 milhões de doses de imunobiológicos distribuídos para todos os Estados, que se encarregam de enviar para todas as Secretarias Municipais de Saúde.
A vacinação é executada e operacionalizada pelos mais de 5.500 municípios brasileiros. É um trabalho descentralizado e compartilhado com os Estados e Municípios.
Existem mais de 37 mil Unidades Básicas do Sistema Único de Saúde que aplicam vacinas, atendendo à toda população brasileira. Além disso, existem 52 Centros de Referência em Imunobiológicos Especiais (CRIE) no Brasil, os quais geralmente ligados à instituições de ensino. Estes locais são referência para pessoas que possuem algum tipo de situação de saúde e não podem tomar determinadas vacinas. Também são centros que desenvolvem estudos relativos à vacinação.
O sucesso da vacinação é fruto dos profissionais vacinadores.
O calendário vacinal da criança e o calendário da criança indígena contam com 18 vacinas, incluindo todas as vacinas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde. Além disso, o calendário inclui oito vacinas destinadas aos adolescentes e adultos, incluindo gestantes, e seis vacinas para idosos.
Até os 15 meses de vida, a criança vai nove vezes à uma unidade de saúde para completar o esquema básico de vacinação. É importante eliminar oportunidades perdidas, fazendo a vacinação simultânea, para aproveitar ao máximo a ida da criança à unidade de saúde. Assim, as crianças são protegidas já nos primeiros anos de vida.
A Caderneta da Criança é o instrumento mais importante de saúde das crianças, por isso é importante que ele seja utilizado em todas as consultas.
No nascimento recomenda-se a vacinação para Hepatite B e BCG, ainda na maternidade.
Algumas vacinas são aplicadas simultaneamente na criança. Para isso, todas as vacinas que são introduzidas no Calendário Nacional de Imunização, são criteriosamente avaliadas para se determinar o intervalo adequado e, principalmente, qual a idade ideal para que ela seja aplicada.
Houve um grande controle de diversas doenças preveníveis com a vacinação, como por exemplo a erradicação da varíola e da poliomielite no Brasil.
Vacinar não é um ato apenas do Ministério da Saúde, mas sim um ato de responsabilidade de toda a população.
Desde 2016 observou-se uma diminuição gradual das coberturas vacinais. É muito importante manter altas coberturas vacinais a fim de reduzir cada vez mais o número de susceptíveis.
As evidências apontam que cerca de 5% da população, mesmo vacinada, por algum motivo não consegue imunidade. Também há situações onde crianças e adultos não podem se vacinar, devido a problemas imunológicos. Nesse sentido, quanto mais vacinada uma população, mais protegidas as pessoas que por algum motivo não podem se vacinar. Vacinar é um ato de responsabilidade social.
Recuperar alta cobertura vacinal é um processo complexo que exige esforço de toda a sociedade, a fim de reduzir os riscos de reintrodução de doenças já eliminadas ou controladas.
É necessário desenvolver ações específicas para a vacinação de adolescentes, uma vez que este público não costuma buscar os serviços de saúde.
Existe uma série de questões envolvidas nas baixas coberturas vacinais, tratando-se de uma questão multifatorial. Alguns pontos importantes a serem considerados são: a população não querer ser vacinada, possivelmente porque não viveu com a realidade de doenças como a Poliomielite e o Sarampo, por exemplo; questões religiosas; questões de grupos naturalistas; população influenciada por grupos antivacinas. Há também grupos que, apesar de acreditarem na importância da vacinação, não estão sendo vacinados. Nestes casos há que se avaliar questões de acesso à vacinas, horários rígidos de funcionamento das Unidades de Saúde, entre outros. Outra possibilidade pode ser a falta de disponibilidade da vacina, que ainda não foi distribuída do nível Estadual para os Municípios. Há que se considerar a complexidade da distribuição e a necessidade da rede de frio está adequadamente organizada. Por fim, outra questão a ser analisada é o registro adequado das vacinas administradas. Lembrando que os Estados levam de 3 a 4 meses para envio dos dados, o que dificulta a contabilização dos dados nacionais.
Informações sobre vacinas devem ser sempre acessadas em sites seguros e baseados em evidências, como sites de sociedades científicas.
A vacinação é um serviço de saúde essencial e imprescindível. Portanto, deve ser mantido. Interromper a vacinação rotineira, em especial, em crianças menores de 5 anos, gestantes e outros grupos de risco, e contenção de surtos (sarampo e febre amarela, por exemplo), pode levar ao aumento de casos de doenças imunopreviníveis e ao retrocesso nas conquistas. No curto, médio e longo prazo, as consequências dessa perda podem ser mais graves que as causadas pela pandemia de Covid-19.
Quando os sistemas de saúde estão sobrecarregados, aumentam de forma significativa tanto a mortalidade direta causada pela pandemia, como a mortalidade indireta causada pelas doenças imunopreveníveis e tratáveis.
Deve-se preconizar questões como a não aglomeração, vacinação em locais externos/arejados, uso de máscaras durante todo o tempo, medidas de higiene pessoal e coletiva, agendamento prévio sempre que possível, vacinação extramuros e domiciliar quando necessário.
É importante observar fatores locais, como a presença de doenças imunopreveníveis, o contexto de transmissão da COVID-19, os dados demográficos, disponibilidade de vacinas e insumos e a capacidade de recursos humanos e estrutura dos serviços para a vacinação. É preciso reforçar a vigilância das doenças evitáveis por vacinação, para detectar e tratar precocemente os casos.
É importante que a atenção primária tenha uma atuação vigilante e faça a busca ativa das crianças que devem ser vacinadas.
1. Em quais grupos prioritários deve ser mantida a vacinação durante a pandemia?
Deve-se manter a vacinação em todos os grupos e faixas etárias.
2. Quais estratégias podem ser usadas pelas unidades para diminuir as filas de espera para as vacinas?
O mais aconselhável é que seja feito um agendamento, tentando trabalhar com a comunidade essa questão. Outra possibilidade é a vacinação extramuros, em locais abertos e de fácil circulação, como clubes, ambientes escolares, espaços ao ar livre, etc.
3. Quais estratégias os estados estão usando para manter a vacinação?
As estratégias de vacinação são elaboradas a nível local, levando-se em conta a situação epidemiológica do momento. Além disso, deve-se organizar as Unidades para que possam garantir a maior segurança para os profissionais de saúde e para as crianças e suas famílias.
4. Crianças que tiveram Covid-19 podem receber as vacinas recomendadas pelo Calendário do PNI normalmente?
Sim, as crianças devem ser vacinadas conforme recomendação do Programa Nacional de Imunizações, mesmo as que tiveram Covid-19.
5. Quais as vantagens para o bebê, quando a gestante é vacinada?
São muitas as vantagens, por exemplo, quando a gestante é vacinada com a DTPA, a criança adquire imunidade passageira (nos primeiros meses de vida). Isso é super importante, já que a criança só iniciará esse esquema vacinal aos dois meses de idade. Vacinando a mãe, a criança se protege contra uma doença que pode matar. A mesma situação ocorre com a vacina da Hepatite B, onde a vacinação da gestante significa menor risco do bebê adoecer ou morrer.
É importante que as equipes orientem as mulheres que desejam engravidar, garantindo que as vacinas estejam em dia.
6. As vacinas feitas com componente à base de mercúrio e alumínio podem causar autismo? Tem comprovação?
Não causam autismo. A adição deste componente é feita em uma dose muito pequena, apenas como um fator para a não contaminação das vacinas, não havendo nenhuma relação com o autismo.
Embora possam ocorrer alguns eventos adversos após a administração de vacinas, são eventos leves e autolimitados. Estes eventos devem ser notificados e investigados, a fim de esclarecer os motivos dos eventos adversos. Importante ressaltar que o que mata é a doença, não a vacina.
7. A vacinação pode ter impacto sobre o desenvolvimento neurológico das crianças? Quais impactos?
Não, as vacinas não causam nenhum impacto neurológico. Pelo contrário, não tomar as vacinas recomendadas pode ter consequências neurológicas, uma vez que não há proteção contra determinadas doenças.
8. Quais as orientações que devem ser feitas aos pais sobre os cuidados que devem ter para levar as crianças até a Unidade de Saúde, para a vacinação de rotina?
Deve-se recomendar as famílias a buscarem sempre a unidade mais próxima, utilizar a máscara, higiene pessoal com a lavagem das mãos e uso de álcool gel, evitar aglomerações e filas, manter distanciamento pessoal, exigir que as equipes de saúde utilizem os seus equipamentos de segurança e proteção individual, que se faça a higienização do ambiente, etc. Há uma soma de cuidados que fará com que a vacinação e os atendimentos sejam mais seguros em tempos de COVID-19.
9. Como tem funcionado a vacinação de comunidades indígenas?
As ações de imunização estão seguindo normalmente nas comunidades indígenas. Diferentemente do que acontece na população geral, as equipes vão até as aldeias e levam todos os imunobiológicos em caixas térmicas, fazendo busca ativa para atualizar as vacinas de todos. Toda oportunidade de entrar em terra indígena é oportunidade para vacinar.
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