Sistematizamos as principais questões abordadas durante Encontro com as Especialistas do IFF/Fiocruz Miriam Gomes (nutricionista), Lívia Menezes (pediatra) e Maria Carolina Salazar (fonoaudióloga) , realizado em 24/03/20.
Pacientes com trato gastrointestinal funcionante
Pacientes com alteração do trato gastrointestinal
No cotidiano do atendimento de crianças crônicas complexas, os profissionais de saúde se deparam com pacientes em que a gastrostomia é uma possibilidade terapêutica entre as demais intervenções multiprofissionais. Cabe à equipe investigar a necessidade do procedimento e indicar o momento adequado, sendo o resultado de uma decisão que envolve sempre a família.
Abaixo a gravação do Encontro na íntegra.
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Perguntas & Respostas
1. Que cuidados de nutrição devem ser orientados para a família de crianças com gastrostomia, em cuidado domiciliar?
Nos hospitais costuma-se utilizar dietas industrializadas, no entanto, esta não costuma ser uma opção para as famílias uma vez que o custo destas dietas são muito elevadas.
Para orientar as famílias, é importante estimar a necessidade calórica, proteica, de micronutrientes, por exemplo. Além disso, deve-se orientar as famílias sobre os tipos de alimentos, consistência e formas que os alimentos devem ser administrados pela gastrostomia. Uma das orientações deve ser a de que os alimentos sejam bem cozidos e batidos no liquidificador, para evitar que as preparações sejam coadas, já que este processo faz com que nutrientes e calorias sejam perdidos.
Sempre, após a administração da dieta, deve-se lavar as sondas, para que não fiquem resíduos que possam causar obstrução e contaminação.
2. Sobre a necessidade de ingestão calórica e nutricional de crianças e adolescentes, há alguma indicação/manual que recomendam? Ou deve-se avaliar caso a caso?
A recomendação não muda se a criança se alimenta por via oral ou por gastrostomia. A recomendação da dieta deve levar em conta a doença de base e o estado nutricional da criança.
Existem diversos manuais e recomendações que podem ser utilizados para dar suporte aos profissionais e familiares. Ainda assim, deve-se considerar os casos individualmente.
3. De quanto em quanto tempo deve-se reavaliar a necessidade de manter a gastrostomia em pediatria? É possível elaborar um plano para que a criança deixe de utilizá-las?
Definir se a gastrostomia é provisória ou definitiva, depende do motivo que levou à sua utilização. Em alguns casos ela será provisória, em outros não. É importante partilhar isso com os familiares.
A criança que faz uso da gastrostomia é uma criança que necessita de acompanhamento de profissionais de saúde, por exemplo, de um fonoaudiólogo. Isso até mesmo para decidir se a gastrostomia será de longo prazo ou de curto prazo.
Essa avaliação deve ser constante, a partir do comprometimento motor e cognitivo da criança, a fim de definir se ela tem condições de se alimentar por via oral. Caso se defina que é possível a alimentação por via oral, considerando-se também a doença de base, este é um processo gradativo que deve ser acompanhado de perto, aumentando o volume, consistência, etc.
4. Qual a melhor estratégia para empoderar as famílias no cuidado da gastrostomia?
As famílias devem ser empoderadas desde o momento em que se decide que o cuidado da criança inclui a gastrostomia, partilhando com os pais os motivos clínicos que levaram à essa decisão, os cuidados necessários e as recomendações.
Uma das estratégias que se pode utilizar é mostrar para os familiares e cuidadores um boneco ou fotos de gastrostomia em crianças, antes mesmo da inserção do dispositivo. Isso ajuda eles a elaborarem qual o tipo de procedimento e demanda no cuidado será necessária. Normalmente, as famílias que compreendem este processo e sua importância, não costumam apresentar problemas ou dificuldades no manuseio do dispositivo.
5. O que se espera da atenção primária no sentido de apoiar as famílias que tenham crianças com gastrostomia?
Os recursos básicos que as famílias recebem, como as orientações de manuseio e as recomendações nutricionais, devem ser muito claras para as famílias e para a atenção primária, que dará suporte quando a criança receber alta hospitalar.
A atenção primária vai continuar a atender a criança quando ela apresentar outras questões, como por exemplo, a imunização, puericultura, etc. Isso vale principalmente para os casos em que o hospital de referência, ou o serviço especializado que fez a gastrostomia, são distantes de onde a criança reside. Nessas situações, é importante que a equipe possa dar suporte em situações simples e corriqueiras, como a desobstrução da gastrostomia.
6. Há diferenças no cuidado de gastrostomias tipo balão ou cateter?
Os cuidados de periostomia, como a lavagem das mãos antes de manipular a gastrostomia, limpeza do orifício e proteção da pele quando necessário, não são diferentes, independente de ser do tipo balão ou cateter.
Entretanto, quando se tem o cateter, há cuidados adicionais, uma vez que se está esperando a cicatrização para colocar o bottom. Deve-se orientar as famílias a manterem a sonda sempre perpendicular à parede abdominal, bem fixa, com cuidados para não tracionar, etc.
Cabe aos profissionais orientarem a família para os cuidados adicionais no uso da sonda tipo cateter.
7. A gastrostomia deve ser trocada conforme a criança cresce?
Sim, a troca depende do crescimento da criança. O bottom depende da espessura da parede abdominal e do orifício da sonda. Não existe um período regular pré estimado para a troca. Recomenda-se que os profissionais de saúde façam uma avaliação sobre a necessidade de troca de duas a três vezes ao ano. Lembrando que os casos onde a sonda está obstruída sem sucesso na desobstrução, ou quando há fissuras no bottom, deve-se proceder à troca.
8. Pode-se utilizar alimentos com fibras na gastrostomia?
Sim, pode-se utilizar alimentos com fibras, considerando as recomendações dietéticas de cada criança. O mais importante é que o alimento seja bem cozido e triturado. A quantidade de fibras a ser utilizada vai depender do calibre da sonda que foi possível colocar na criança naquele momento.
9. O que pode ser feito pela fonoaudiologia para que crianças que tem condições, deixarem de usar a gastrostomia?
É importante considerar a sequência do acompanhamento fonoaudiológico, avaliando constantemente a viabilidade da criança começar a se alimentar com segurança, eficiência, e com o menor risco nutricional possível.
Um grande aliado é o cuidador, já que o acompanhamento do fonoaudiólogo costuma ocorrer uma ou duas vezes na semana, na maioria dos casos. Ele pode ajudar na transição e observando como a criança está respondendo à aceitação da dieta. Trata-se de um processo até que se consiga retirar a gastrostomia.
10. Como orientar sobre o volume infundido?
Não existe uma orientação geral. Cada caso deve ser avaliado individualmente.
Deve-se considerar a idade, o peso, aporte calórico, se a gastrostomia é a única via de alimentação ou se a criança também se alimenta via oral, etc. Além disso, o diâmetro da sonda e a espessura da dieta vão interferir nessa decisão. Crianças que não comportam grandes volumes, pode-se realizar o fracionamento da dieta em duas ou três porções, com pequenos intervalos entre elas.
Como citar
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente. Postagens: Principais Questões sobre Gastrostomia na Atenção Pediátrica. Rio de Janeiro, 02 mar. 2022. Disponível em: <https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-crianca/principais-questoes-sobre-gastrostomia-na-atencao-pediatrica/>.