Sistematizamos as principais questões abordadas durante Encontro com a Especialista Paula Peruzzi Elia, médica gastroenterologista, responsável pelo serviço de endoscopia pediátrica do IFF/Fiocruz, presidente do núcleo de endoscopia pediátrica da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED), realizado em 07/02/2023.
A principal forma de ingestão de corpo estranho por crianças ocorre acidentalmente e o pico de incidência na pediatria começa entre os 6 meses e 3 anos de idade, quando a criança está iniciando a fase oral.
A ingestão de forma proposital é menos frequente, porém acontece em pacientes psiquiátricos ou pacientes que tem algum ganho secundário com a ingestão de um corpo estranho.
De 80% a 90% dos corpos estranhos ingeridos (objetos) atingem o estômago sem necessidade de intervenção. De 10% a 20 % requerem algum tipo de intervenção não cirúrgica e 1% dos casos intervenção cirúrgica. A mortalidade nos casos de ingestão de corpos estranhos é baixa.
Para o profissional que irá conduzir o atendimento da criança que ingeriu o corpo estranho é importante saber:
Nos casos de impactação no esôfago observa-se disfagia, odinofagia, dor torácica e hipersalivação. O atendimento deve ser voltado para uma URGÊNCIA/EMERGÊNCIA pelo risco de broncoaspiração.
Atenção: 5% dos corpos estranhos no esôfago causam obstrução das vias aéreas.
Na maioria das vezes os pais e/ou cuidadores não presenciam a ingestão do corpo estranho pela criança, portanto é importante ficar atento a sintomas inespecíficos como engasgo, salivação e recusa alimentar. Também é importante ficar atento a sintomas respiratórios.
A anamnese e o exame físico devem ser feitos de forma cuidadosa, pois são fundamentais para a identificação de sintomas e sinais de alerta.
É importante observar sinais de perfuração ou de obstrução do trato gastrointestinal.
Atenção: nem todo corpo tem densidade para aparecer em radiografias. A radiografia tem baixa sensibilidade para identificar espinhas de peixe e perfurações, por exemplo.
O endoscópio e os acessórios adequados são importantes para o bom desfecho na retirada do corpo estranho.
Atenção para as incidências (posicionamento radiológico) solicitadas para verificação de corpo estranho (pescoço, tórax, abdome).
A Sociedade Europeia de Gastroenterologia e Endoscopia Digestiva (ESGE) recomenda que na suspeita de impactação de bolo alimentar sem osso, indica-se a realização de Endoscopia Digestiva Alta (forte indicação, com baixa qualidade de evidência), sem indicação de exame radiológico. Recomenda-se ainda não realizar rotineiramente exames contrastados pelo risco de broncoaspiração e dificuldade de avaliação endoscópica (forte recomendação com baixa qualidade de evidência).
A moeda é o objeto mais frequentemente ingerido pela população pediátrica. A depender do objeto ingerido e do local onde o mesmo se encontra indica-se a endoscopia ou outro exame.
Bezoar é o acúmulo de cabelos, materiais fibrosos, ingeridos e seu acúmulo causa impactação no interior do trato digestivo.
A ingestão de imãs também pode causar perfuração de órgãos.
Dentre os corpos estranhos ingeridos pelas crianças a bateria é um corpo estranho extremamente perigoso, pois além da lesão por impactação, também pode causar uma lesão cáustica. Atenção no caso das baterias, mesmo após a retirada do corpo estranho a substância cáustica pode continuar atuando e causar uma perfuração no órgão da criança. Por esse motivo é importante realizar o seguimento. O profissional que atender a criança que ingeriu bateria precisa acionar com urgência o serviço de endoscopia.
Atenção: em casos em que o serviço de endoscopia não seja de fácil acesso, algumas medidas iniciais podem ser executadas até a chegada no serviço (tais medidas não devem postergar a endoscopia, devem ser usadas como recurso até se chegar em serviço de endoscopia):
Atenção: NÃO usar tais medidas em crianças menores de 1 ano, com sialorréia ou dificuldades de deglutir, com mais de 12 horas de ingestão do corpo estranho ou com sinais de complicações como mediastinite e sepse.
Nos casos de ingestão de corpo estranho o tempo ideal para endoscopia é não esperar o jejum adequado para a anestesia (de 6 a 8 horas). O ideal é que se faça dentro de duas horas após a ingestão do objeto. Até duas semanas após o acidente podem ocorrer complicações. A ação imediata frente a ingestão de um corpo estranho irá depender do objeto e da sintomatologia da criança.
Indicação de endoscopia:
Endoscopia de Emergência (preferencialmente nas primeiras 2h e em menos de 6h) |
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Endoscopia de Urgência (24 horas) |
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Endoscopia eletiva (72 horas) |
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Abaixo, gravação do Encontro na íntegra:
Perguntas & Respostas
Como citar
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente. Postagens: Principais Questões sobre Ingestão de Corpo Estranho por Crianças: o que os profissionais de saúde precisam saber?. Rio de Janeiro, 06 abr. 2023. Disponível em: <https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-crianca/principais-questoes-sobre-ingestao-de-corpo-estranho-por-criancas/>.