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Principais Questões sobre o Papel da APS no Acompanhamento dos Testes Neonatais

13 fev 2023

Sistematizamos as principais questões abordadas durante Encontro com as Especialistas Martha Vieira, médica neonatologista, assessora técnica da Coordenação de Saúde da Criança e Aleitamento Materno (COCAM/DAPES/SAS/MS), e Paula Antoniazzi Zamaro, assessora técnica do Programa Nacional de Triagem Neonatal do Ministério da Saúde (PNTN/MS), realizado em 30/11/2021.

A triagem é um método de seleção, que detecta alguma alteração, enfermidade ou doença que a criança tenha ao nascer. A triagem neonatal é fundamental para detectar as doenças mesmo antes dos sintomas se apresentarem. Com a realização da triagem neonatal também é possível utilizar o aconselhamento genético no processo de planejamento familiar, assim como conhecer a prevalência de determinadas enfermidades.

A Portaria GM/MS nº822 de 06 de junho de 2001 institui o Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN). A Triagem Neonatal está dentro da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC).

A ampliação do PNTN é regulamentada pela Lei 14.154/2021, que amplia o rol de patologias detectadas por meio do teste do pezinho e outras providências.

Os pilares do PNTN são: serviço laboratorial (análise dos exames coletados), serviço informacional (informação/comunicação sobre as doenças para intervenções em tempo oportuno) e serviço assistencial (tratamento das crianças, promovendo a diminuição da morbimortalidade).

Na Triagem Neonatal está disponível a análise das seguintes doenças:

A coleta dos exames deve ocorrer tanto nas Unidades Básicas de Saúde como nas Maternidades, onde as amostras são Laboratórios Especializados em Triagem Neonatal. As buscas ativas e o acompanhamento dos recém-nascidos com exames alterados devem ser realizadas de forma compartilhada entre Unidades Básicas de Saúde e Serviço de Referência em Triagem Neonatal (SRTN).

O registro adequado de informações relacionadas ao crescimento/desenvolvimento da criança e à realização da triagem é fundamental para o acompanhamento e vigilância das crianças. Na Caderneta da Criança existem espaços reservados para o registro dos exames de triagem neonatal realizados tanto na Maternidade como na Atenção Primária à Saúde (APS).

Atenção: o exame físico é a maior triagem que o profissional pode utilizar, pois durante as consultas de puericultura podem ser detectadas alterações que devem ser prontamente avaliadas por serviços especializados.

Atenção ao exame físico: 3 alterações importantes podem ser observadas no exame físico e a criança deve ser prontamente encaminhada:

  • Displasia congênita do quadril: quando não tratada pode causar incapacidade motora. Pode ser detectada através da manobra de Ortolani.
  • Fibrodisplasia Ossificante Progressiva: doença rara, caracterizada por má formação óssea do Hálux (com o 1º pododáctilo com uma aparência menor que os demais dedos do pé, além de ser observado encurvamento do dedo. Criança com essa má formação deve ser encaminhada para investigação e acompanhamento. 
  • Neurofibromatose: doença rara, com vários níveis de apresentação. No nascimento já é possível observar manchas de “café com leite”. Quando observadas mais de 5 manchas na pele da criança, essa deve ser encaminhada para investigação em serviço especializado.

 

Triagem Auditiva Neonatal Universal – TANU

  • A Triagem Auditiva Neonatal Universal é realizada através do Teste da Orelhinha, implementado em 2012. É realizado por fonoaudiólogo ou médico e deve ser realizado nas primeiras 24 a 48 horas, após o nascimento, preferencialmente ainda na maternidade. Em casos de nascimentos ocorridos fora do ambiente hospitalar (maternidade) é recomendado que o teste seja realizado em até 30 dias após o nascimento.
  • O teste da orelhinha tem como objetivo detectar o mais precocemente possível a deficiência auditiva em recém-nascidos ou lactantes, cuja prevalência é de 1 a 6/1000 nascidos vivos e 1:4 egressos de UTI neonatal.

Atenção aos indicadores de risco para deficiência auditiva (IRDA):

  • Pais preocupados com o desenvolvimento da criança (audição, fala, linguagem)
  • Antecedente familiar de surdez permanente na infância
  • Consanguinidade
  • Permanência em UTI por mais de 5 dias
  • Exposição (independente do tempo) a ventilação assistida, ventilação extracorpórea (ECMO), uso de antibióticos aminoglicosídeos ou diuréticos de alça
  • Hiperbilirrubinemia (icterícia neonatal)
  • Anoxia perinatal grave (Apgar 0-4 no primeiro minuto)
  • Traumatismo craniano
  • Infecções congênitas específicas (STORCH-2)
  • Síndromes genéticas
  • Infecções bacterianas pós-natais (sepse, meningite)
  • Quimioterapia

A Triagem Auditiva é feita por dois tipos de exames:

  • Emissões Otoacústicas (EOA): é feita por um aparelho com alta sensibilidade e especificidade. Em caso de falhas no primeiro teste é necessário refazer o teste. Quando há alteração no reteste a criança deve ser encaminhada para realizar o Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico (PEAT). Esse fluxo deve ser seguido para crianças saudáveis e sem os riscos mencionados acima.
  • Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico (PEAT): é um teste automático ou de modo triagem, em que no caso de falha do teste deve-se encaminhar o bebê em tempo oportuno para Serviços de Referência e acompanhamento compartilhado com a APS.

 

Triagem Cardiológica

  • A Triagem Cardiológica ou Teste do Coraçãozinho é utilizada para rastrear cardiopatia congênita (CHD) que se apresenta em 8 a 10 para cada 1000 nascidos vivos.
  • Atenção: 30% dos casos de cardiopatia congênita, apresentam-se em condições críticas com necessidade de cirurgia cardíaca nas primeiras semanas de vida, em outras crianças a intervenção poderá ser necessária ao longo do acompanhamento clínico.
  • Ainda há locais que não realizam o teste do coração na criança ao nascer, especialmente nas áreas rurais. Nas áreas urbanas a realização do teste do coraçãozinho é mais prevalente. A não realização do teste está relacionada, principalmente, à falta de treinamento/preparo dos profissionais.
  • O teste do coraçãozinho pode ser realizado pelo Enfermeiro, Técnico de Enfermagem ou Médico (profissionais devem ser treinados). Deve ser realizado nas primeiras 24 a 48 horas após o nascimento (antes da alta da maternidade). Caso a criança tenha nascido fora do ambiente hospitalar/maternidade a Atenção Primária deve fazer tal avaliação, desde que tenha profissionais treinados.
    • Material necessário: oxímetro de portátil infantil.
    • Para a realização, o profissional irá colocar um oxímetro na mão direita e o outro em um dos dois membros inferiores e a diferença de oxigenação tem que ser maior do que 3, entre os membros e  maior do que 95%. Caso haja falha no teste, o indicado é que seja repetido e caso falhe novamente é encaminhado para fazer um ecocardiograma.
  • Sinais e sintomas que podem sugerir uma cardiopatia congênita: bebês que têm dificuldades para manter a sucção contínua, com respiração rápida/com esforço, com dificuldade de ganho de peso e que costuma ficar pálido/cianótico.
  • Outras informações podem ser acessadas em:

 

Triagem Oftalmológica

  • A Triagem Oftalmológica conhecida como Teste do Olhinho tem uma grande importância na APS, pois é um teste realizado ao longo de toda a primeira infância.
  • O teste do olhinho faz parte das ações de boas práticas de exame físico do recém-nascido ainda na maternidade realizando o exame de inspeção e Teste do Reflexo Vermelho (TRV) da retina, através do oftalmoscópio.
  • Atenção para indicadores de risco para deficiência visual:
    • Hereditários: catarata, retinoblastoma, glaucoma e outros problemas oculares;
    • Infecções: doenças do grupo “STORCH-Z” (Toxoplasmose, Sífilis, HIV, Varicela, Citomegalovírus, Rubéola, Herpes) e vírus Zika;
    • Exposição a álcool de drogas ilícitas;
    • Medicações: talidomida, misoprostol, benzodiazepínico;
    • Fatores nutricionais e metabólicos;
    • Radiação
    • Malformação congênita e síndromes.
  • O teste do olhinho pode ser realizado por Enfermeiros e Médicos (profissionais devem ser treinados). Deve ser realizado nas primeiras 24 a 48 horas após o nascimento (antes da alta da maternidade). Caso a criança tenha nascido fora do ambiente hospitalar/maternidade a Atenção Primária deve fazer tal avaliação. O exame deve ser repetido em consultas de rotina da criança (puericultura) pelo menos 2 vezes ao ano, até o 3º ano de vida. O objetivo é detectar a potencial causa de anormalidades oculares tratáveis em recém-nascidos e crianças.
  • O Teste do Reflexo Vermelho (TRV) é realizado com um oftalmoscópio, a 30 cm do olho da criança, em uma sala em penumbra. Alinha-se o foco de luz do oftalmoscópio diretamente à pupila da criança, este refletirá um brilho de cor laranja-avermelhado dentro do olho da criança, devendo os reflexos serem simétricos. O reflexo está presente nos dois olhos. Quando há opacidades de meios (doença ocular), ou não é possível observar o reflexo, ou sua qualidade é ruim a criança é encaminhada ao serviço de oftalmologia com urgência.

 

Avaliação do Frênulo Lingual

  • A Avaliação do Frênulo Lingual, mais conhecida como Teste da Linguinha, foi implementada pela Lei nº 13.002/2014.
  • O teste da linguinha pode ser realizado por médicos (pediatra ou médico da família), enfermeiros , fonoaudiologia e odontologia (os profissionais devem ser treinados). Deve ser  realizado nas primeiras 24h a 48h, antes da alta da maternidade.
  • O objetivo do teste da linguinha é detectar a anquiloglossia grave em crianças, permitindo tratamento oportuno em recém-nascidos (frenectomia). A Avaliação faz parte do exame físico do recém-nascido;
  • Recomenda-se a utilização do Protocolo de Bristol onde a pontuação é:  ≤ 3 grave, 4-5 duvidoso e ≥ 6 adequado. Quando confirmado o caso de frênulo lingual a criança precisa ser encaminhada para a cirurgia que é feita por um profissional habilitado para a cirurgia.

 Abaixo, gravação do Encontro na íntegra:

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Como citar

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente. Postagens: Principais Questões sobre o Papel da APS no Acompanhamento dos Testes Neonatais. Rio de Janeiro, 13 fev. 2023. Disponível em: <https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-crianca/principais-questoes-sobre-o-papel-da-aps-no-acompanhamento-dos-testes-neonatais/>.

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