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Principais Questões sobre o Papel dos BLH na Promoção e Proteção do Aleitamento Materno

11 jun 2021

Sistematizamos as principais questões abordadas durante Encontro com a Especialista Danielle Aparecida Silva, engenheira de alimentos do Banco de Leite do IFF/Fiocruz, realizado em 17/12/2019.

Veja também: Postagem sobre o tema

  • Os Bancos de Leite Humano (BLH) cumprem um importante papel na promoção e proteção do aleitamento materno. O Banco de Leite está para além da dispensação do leite humano pasteurizado para crianças prematuras, por exemplo.
  • Os Bancos de Leite fazem parte de uma Política Pública a favor do Aleitamento Materno, sendo a Rede de Bancos de Leite Humano (rBLH) uma estratégia do Ministério da Saúde.
  • No campo do processamento do leite materno e controle de qualidade, o trabalho dos Bancos de Leite cumpre o papel de fornecer o alimento com qualidade e segurança. No caso de mulheres com partos prematuros, por exemplo, a mãe que tem disponível leite doado/pasteurizado para alimentar seu filho com segurança, pode enfrentar o seu processo de produção de leite de uma forma mais tranquila e eficaz.
  • Mulheres doadoras de leite passam por anamnese. O leite doado passa por um processo de controle de qualidade sensorial, controle de qualidade físico-químico, pasteurização (que elimina 99% dos microrganismos saprófitas e 100% dos microrganismos patogênicos) é realizado um controle de qualidade microbiológico e somente após todo esse processo o leite humano está apto à doação.
  • Para o processo de doação, o leite deve responder a alguns critérios, de acordo com a necessidade da criança receptora. Através de algumas informações coletadas é possível saber se o leite doado é colostro, se é leite de transição ou se é leite maduro. A partir dessas informações é escolhido o leite mais adequado para as necessidades da criança receptora.
  • Atualmente a rede de Bancos de Leite conta 224 unidades em território nacional e 194 postos de coleta (que são unidades que estão vinculadas aos Bancos de Leite, que coletam o leite das mulheres doadoras e apoiam as mesmas com orientações e outras necessidades apresentadas,  mas não fazem o processamento do leite doado).
  • O papel dos profissionais deve ser no apoio às mulheres que amamentam, buscando ajudá-las a superar as dificuldades, quando elas existem. 

 

História

  • Historicamente os Bancos Leite desempenham um papel importante na saúde infantil, no âmbito neonatal, sendo uma estratégia importante no enfrentamento da morbimortalidade neonatal.
  • Na década de 40 o modelo de Banco de Leite Anglo-Saxão foi trazido para o Brasil por dois pediatras, com a proposta de ser um local de coleta de leite e posteriormente distribuição às crianças. As mulheres trocavam seu leite por uma consulta para seu filho, por cesta básica, alimentos ou outros serviços. Essas mulheres e seus filhos tinham acesso a um tipo de controle de saúde enquanto o leite doado passava por controle de qualidade, bem próximo ao controle de qualidade feito na doação de sangue. O leite doado era armazenado para que fosse utilizado posteriormente.
  • Nesse período o leite humano não era visto como alimento, mas como medicamento, sendo oferecido para as crianças que não respondiam bem ao tratamento, à nutrição ou aos alimentos oferecidos. Em algumas situações o leite humano era vendido. Esse modelo ocorreu da década de 40 até a década de 70, período em que as taxas de mortalidade infantil estavam muito altas. 
  • A fim de reverter este cenário, o Ministério da Saúde começa a buscar programas e estratégias para o enfrentamento da mortalidade infantil. Assim nasce o primeiro Banco de Leite Humano do país, no Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz). Foram realizados investimentos no desenvolvimento científico do Banco de leite, com reestruturação física e tecnológica.
  • Para que as doações de leite fossem possíveis, era importante estimular a amamentação e a mudança na cultura da troca do leite materno por algum benefício/pagamento. Era importante fazer com que as mulheres compreendessem a importância da doação do leite.
  • No final da década de 70 e início da década de 80 as pesquisas sobre o leite materno começaram a buscar as melhores formas e evidências para o trabalho dos bancos de leite. A primeira questão levantada foi que o leite materno é um alimento (um alimento funcional) com capacidade de nutrir, com compostos bioativos importantes para a nutrição e desenvolvimento da criança.
  • Com o desenvolvimento dos Bancos de Leite e do novo modelo que orienta sua organização, traz-se o processo e controle de qualidade, tecnologia de alimentos, controle de qualidade sensorial, controle de qualidade físico-químico, tratamento térmico e controle de qualidade biológico para que ele possa ser distribuído. Nesse momento o leite humano passa a ser considerado um alimento funcional, não mais um medicamento.
  • Amamentar envolve processos fisiológicos e culturais. Por isso, também foi importante considerar estratégias para conseguir as doações de leite materno, sendo necessário discutir as dificuldades enfrentadas pelas mulheres no na amamentação. Para isso, a partir da década de 70, os Bancos de Leite Humano passaram também a ser casas de apoio à amamentação.
  • Enquanto espaço de apoio às mulheres com dificuldades na amamentação, os Bancos de Leite são espaços de promoção do aleitamento materno. Os profissionais devem pensar em ações locais, bem como ações intersetoriais que favoreçam a promoção do Aleitamento Materno.

 

O BLH do Instituto Nacional Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz)

  • As ações do banco de leite do IFF organizam-se em 2 grandes blocos: assistência ao binômio mãe-filho e processamento e controle de qualidade do banco de leite. 
  • As ações de assistência buscam a promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno nos diversos espaços. A equipe multidisciplinar é composta por técnico de enfermagem, enfermeiro, médico pediatra, nutricionista e psicólogo, que atuam desde o pré-natal até o puerpério, com o apoio à amamentação, à mulher e à sua família.
  • A assistência no processo de amamentação/aleitamento materno é dada à mulher e à sua rede de apoio, trabalhando orientações, apoio às dificuldades no processo de amamentação e outras questões que envolvem o aleitamento materno.
  • O BLH, além de oferecer apoio diretamente para as mulheres que estão em atendimento na Instituição, trabalha também com acesso aberto para mulheres que enfrentam dificuldades, mas que não passaram anteriormente por atendimento no IFF. Além disso, o BLH do IFF atua na formação de profissionais de saúde de outras instituições que vão atuar na área de aleitamento materno.

 

 Abaixo a gravação do Encontro na íntegra.

 

Perguntas & Respostas

 

1.  Que estratégias podem ser utilizadas para garantir que o bebê internado na Unidade Neonatal possa receber o leite materno da mãe?

É importante que o Banco de Leite esteja próximo à equipe da unidade neonatal, de modo a estimular a equipe no que diz respeito às ações de promoção do aleitamento materno. Também deve estar próximo à mulher e estimulá-la na sua produção láctea. 

A mulher pode ser “doadora exclusiva” de seu filho. Nesses casos, a mulher doa seu leite, que passa pelo processamento de controle e qualidade (o que demora em torno de 48h), até que o leite seja dispensado para a criança. Para que isso ocorra, no momento da doação, a mulher deve informar que a doação do seu leite é exclusivamente para seu filho (RDC 171/2006)

As Normas Técnicas podem ser acessadas no site da rBLH.

Veja também: Postagem – O Papel dos Bancos de Leite Humano na Promoção e Proteção do Aleitamento Materno

 

2. Quais investimentos são necessários para a implantação de um Banco de Leite Humano? E quais os principais desafios?

O hospital deve contar com uma estrutura mínima onde seja possível oferecer a assistência (para a mulher e criança,) e consultórios. Além disso, deve-se considerar espaços para o processamento e controle de qualidade do leite humano pasteurizado, centrifugador, freezer para leite cru, freezer para leite pasteurizado, microcentrífuga e uma área administrativa para questões organizacionais. 

O Banco de Leite do IFF possui uma área de assessoria que dá apoio às unidades que desejam implantar um Banco de Leite nos seus serviços. Uma vez definida a equipe que irá atuar no Banco de Leite, a rede de Bancos de Leite oferece treinamento para esses recursos humanos. Cada Estado tem seu Banco de Leite de referência.

 

3. Como os Bancos de Leite podem contribuir com os Hospitais que não tem Banco de Leite ou um posto de coleta, mas atendem prematuros?

Os Bancos de Leite podem oferecer apoio na pasteurização do leite de mulheres que acessam hospitais sem BLH ou que buscam os postos de coleta. Esse tipo de apoio não é algo comum. É importante lembrar que o estoque de leite é limitado e que por vezes pode faltar leite para doação. Por outro lado, é possível, com o trabalho da rede de Bancos de Leite, estimular os hospitais que ainda não tem estrutura de BLH ou posto de coleta, a implantá-los.

 

4. Qual a contribuição dos Bancos de leite para a diminuição das mortes neonatais?

A contribuição é enorme, pois o leite humano é um alimento funcional, protege contra doenças, diminui o uso de fórmulas infantis. Além disso, os ácidos graxos presentes no leite materno atuam como fator de proteção para a criança, sendo que a absorção dos nutrientes é maior, alguns bioativos favorecem a produção de nutracêuticos e aumentam o catabolismo enzimático, o que pode ajudar a diminuir o colesterol na vida adulta.

 

5. O que precisa ser levado em conta na triagem e seleção de uma doadora?

Como indica a legislação, a doadora é uma mulher saudável, que não apresenta doenças infectocontagiosas e que esteja amamentando o seu filho. Caso não saiba a situação sorológica dessa mulher que deseja doar seu leite é importante que a equipe do Banco de Leite solicite e ofereça a realização dos exames. 

 

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