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Principais Questões sobre Prevenção de Infecção de Sítio Cirúrgico (ISC) em Pediatria

28 jun 2024

Sistematizamos as principais questões abordadas durante o Encontro com a Especialista Adriana Reis, enfermeira do IFF/Fiocruz, professora da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), realizado em 07/03/2023.

Veja também: Postagem sobre Prevenção de Infecção de Sítio Cirúrgico em Pediatria

Uma infecção em sítio cirúrgico (ISC) pode trazer desfechos fatais, portanto utilizar as estratégias disponíveis para preveni-la é sempre a melhor opção.

A infecção de sítio cirúrgico é uma infecção que ocorre na incisão criada por um procedimento cirúrgico invasivo. Embora a maioria das infecções seja tratável com antibióticos, as ISC continuam sendo causa significativa de morbidade e mortalidade após a cirurgia e têm um impacto econômico importante nos sistemas de saúde (MEOLI et al, 2022).

As ISC têm uma taxa de ocorrência em pediatria relativamente baixa, entretanto, quando ocorrem, causam o aumento do tempo de hospitalização, o incremento dos gastos financeiros e possíveis danos permanentes à criança.

De acordo com a ANVISA (2017) a ISC são infecções relacionadas a procedimentos cirúrgicos, com ou sem a colocação de implantes em pacientes internados ou ambulatoriais.

As Comissões de Controle Hospitalar utilizam diretrizes do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) e do Ministério da Saúde que orientam a vigilância das crianças nos primeiros 30 dias após o procedimento cirúrgico. Quando há a utilização de órteses e próteses a vigilância deve ser estendida para 90 dias. Quando ocorre algum processo infeccioso nesse intervalo de tempo deve-se correlacionar a infecção ao ato cirúrgico.

A incidência de ISC varia de acordo com o sítio de cirurgia, com taxas entre 1.2% e 18.7%. Se a cirurgia é uma cirurgia limpa, potencialmente contaminada ou contaminada (ULUDAG, 2000; SABATINNI, 2018)

Para a prevenção das infecções no sítio cirúrgico, muitas vezes são utilizadas as medidas farmacológicas como o uso dos antimicrobianos no pré e pós-operatório. Vale ressaltar que as medidas não farmacológicas também são fundamentais, além de serem de baixo custo, ajudam a prevenir ISC.

ATENÇÃO: as notificações de infecção de sítio cirúrgico são obrigatórias em cirurgias cesarianas, implantes de prótese mamária, implante de prótese de quadril primária, implante de joelho primária, infecções pós revascularização do miocárdio e infecções pós-cirurgia de derivação neurológica.

As ISC se classificam em incisão superficial (quando acomete parte superficial da pele e uma parte do subcutâneo), incisional profunda (quando perpassa o subcutâneo e atinge fáscia e músculos) e infecção de órgão ou cavidade.

Linha de cuidado: definição de fluxos assistenciais seguros e garantidos aos usuários no SUS (Berwig et, 2016).

O processo operatório em crianças deve prever:

  • Diagnóstico cirúrgico;
  • Acesso referência-contrarreferência (cuidado compartilhado);
  • Equipe especializada;
  • Cuidados Pré, Trans e Pós-operatório.

Medidas de prevenção no Pré-operatório:

  • Banho pré-operatório – Não existe consenso sobre o melhor produto para higienização, mas para pacientes colonizados e para cirurgias de grande porte a clorexidina degermante é uma opção. Para crianças que irão passar por cirurgias de pequeno porte, o banho com sabão neutro é uma opção.
  • É importante evitar hospitalizações prolongadas, antes da cirurgia. Assim, recomenda-se internar a criança próxima ao momento previsto para a cirurgia a fim de evitar que ela seja exposta a patógenos hospitalares.
  • Tricotomia com tricotomizador elétrico fora da sala operatória – Nem todos os pacientes precisam realizar a tricotomia e, quando necessário, ela deve ser realizada com tricotomizador elétrico ou tesoura.
  • O antimicrobiano deve ser feito até 1 hora antes da incisão cirúrgica.
  • É necessário controlar a glicemia antes do processo cirúrgico.
  • Rastrear focos infecciosos antes do procedimento cirúrgico. Caso haja a necessidade de cirurgias de urgência, é necessário ponderar pelo menos o tempo de início de tratamento do foco infeccioso.
  • Avaliar a colonização e conhecer a microbiota circulante no hospital, são medidas importantes para prevenir ISC.
  • O preparo cirúrgico da equipe é fundamental com treinamentos, protocolos bem definidos e rotinas bem estabelecidas.
  • A higienização das mãos também têm papel importante na prevenção das ISCs..
  • Fatores de risco: conhecer doenças de base que possam predispor o paciente a complicações.
  • Higiene oral – caso haja necessidade de intubação, é importante que no banho seja realizada a higiene oral e bochecho com clorexidina.
  • Checklist para verificação do paciente, tipo de cirurgia e outras informações é uma medida de segurança importante.
  • Atenção especial para a utilização adequada dos EPI pelos profissionais.

 

Medidas de prevenção no Transoperatório:

  • Controlar a circulação de pessoas.
  • Portas vedadas, para evitar que o ar do bloco cirúrgico entre na sala de operação, durante o procedimento.
  • A política de adorno zero é fundamental, especialmente pelos riscos mecânicos dos adornos. Por exemplo, o risco de o adorno cair em uma cavidade aberta durante o procedimento.
  • Controle térmico do ambiente e da criança. Crianças que apresentam hipotermia durante o procedimento operatório têm um risco elevado de ISC.
  • Soro aquecido em equipamento adequado do bloco cirúrgico, não deve ser aquecido em jarras, microondas ou outros, mas em equipamento adequado.
  • Monitorização de oxigênio, volemia e glicemia.
  • Ventilação com pressão positiva.
  • Cuidado com os instrumentais – adequação no processo de esterilização dos instrumentos utilizados, inclusive com registro no prontuário do paciente.

Medidas de prevenção no Pós-operatório:

  • Controle térmico.
  • Prevenção de hemorragias.
  • Controle da glicemia.
  • Cuidados com acesso vascular, acesso pérvio, estabilizado/bem fixado.
  • Curativo estéril.

Medidas de prevenção na realização dos Curativos:

  • Separar o material e higienizar as mãos.
  • Preparar o ambiente.
  • Promover iluminação adequada/explicar o procedimento para o paciente.
  • Utilizar biombos para manter a privacidade.
  • Utilização dos EPIs necessários.
  • É fundamental o uso de óculos e capote para cuidar de feridas contaminadas ou infectadas e evitar contaminação do profissional.
  • Utilizar técnica aséptica, luvas de procedimentos para a retirada do curativo anterior e luvas estéreis para a manipulação da ferida operatória.
  • Avaliar a classificação da ferida.
  • Ao final, desparamentar e higienizar as mãos.

Atenção: para a limpeza de feridas limpas, usar somente solução salina (SF 0,9%). Para a limpeza de drenos usar álcool à 70%. Para dreno de penrose, limpeza com SF 0,9%. Para feridas contaminadas utilizar coberturas específicas.

Prevenir ISC em crianças deve ser a meta das equipes de saúde para a redução da morbimortalidade. As infecções de sítio cirúrgico são eventos evitáveis.

Protocolos bem definidos para o pré, trans e pós operatório são ferramentas fundamentais para a redução de ISC.

Abaixo, a gravação do Encontro na íntegra.

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Como citar

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente. Postagens: Principais Questões sobre Prevenção de Infecção de Sítio Cirúrgico em Pediatria. Rio de Janeiro, 28 jun. 2024. Disponível em: <https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-crianca/principais-questoes-sobre-prevencao-de-isc-em-pediatria/>.

Tags: Dia Mundial da Segurança do Paciente, Posts Principais Questões