Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente

Postagens

Principais Questões sobre Segurança do Paciente em Pediatria

21 out 2022

Sistematizamos as principais questões abordadas durante Encontro com a Especialista Beatriz de Freitas Junqueira, médica pediatra e neonatologista, membro fundadora da Sociedade Brasileira para a Qualidade e Segurança do Paciente (SOBRASP) e membro da Comissão Estadual de Segurança do Paciente do Espírito Santo, realizado em 23/03/2021.

Veja também: Postagem sobre o tema

Conceitos básicos sobre Segurança do Paciente:

  • Redução de atos inseguros nos processos assistenciais e o uso das melhores práticas descritas para alcançar os melhores resultados possíveis para o paciente.
  • Eventos adversos são incidentes que resultam em danos não intencionais que decorrem da assistência prestada e que não estão relacionados à doença de base do paciente.

Estudo realizado por Mueller, Neuspiel e Fisher (2018) aponta que até um terço das crianças hospitalizadas são ou serão afetadas por algum tipo de erro. O ambiente de pediatria é um ambiente complexo com muitas oportunidades de gerar danos não intencionais, por esse motivo é tão importante trabalhar a segurança do paciente nesse ambiente.

Estudo desenvolvido por Woods, Thomas, Altman e Brennan (2005) indica que os 3 principais fatores relacionados ao erro no campo da Pediatria são:

  • Características físicas (por exemplo, dosagem de medicamentos baseadas no peso);
  • Questões de desenvolvimento (por exemplo, idade física ou mental);
  • Questões relativas ao status legal com um menor (questões relacionadas aos cuidados).

Seis Metas de Segurança do Paciente

6-metas-seguranca-do-paciente

Identificação correta dos pacientes

Para se alcançar essa meta é importante identificar o paciente com a pulseira, mas também identificar o cuidado a ser realizado para cada paciente. 

Importante: os cinco momentos de identificação da pulseira devem ser: antes da administração de medicamentos, antes da administração de sangue e hemoderivados, antes da entrega das dietas, antes da realização/coleta de exames, antes da realização de procedimentos invasivos (punção, sondagens, aspiração).

 

Melhorar a comunicação entre os profissionais de saúde

Sabe-se que essa meta permeia as outras e que a maioria dos eventos adversos estão associados a falhas de comunicação. Algumas ferramentas podem ser utilizadas para qualificar e melhorar a comunicação entre os profissionais:

  • SBAR: ferramenta estruturada para comunicação de informações sobre a condição do paciente:
    • Situation (situação): frase concisa sobre o problema
    • Background (antecedente, breve histórico): detalhes e contexto pertinentes ao problema
    • Assessment (avaliação): análise e opções consideradas
    • Recommendation (recomendação): ação recomendada
  • HUDDLE: ferramenta para restabelecer uma situação, reforçar ou monitorar o plano (reunião rápida de 5 – 10 min). É uma ferramenta importante para agregar os profissionais.

A comunicação com os familiares é fundamental para a segurança do paciente. Para avaliar o nível de entendimento das orientações dadas pelo profissional aos familiares da criança, pode ser utilizada Teach Back, ferramenta para melhorar a segurança das informações, analisando o quanto as informações foram compreendidas.

 

Melhorar a segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos 

A OMS em 2017 reconheceu o alto risco de danos associados ao uso de medicamentos. Crianças e idosos são mais suscetíveis a eventos adversos relacionados à medicamentos. O empoderamento da família e da criança é fundamental para se evitar erros e complicações relacionadas ao uso de medicamentos. Medidas de boas práticas no manejo e administração de medicamentos contribuem para evitar os eventos adversos.

Atenção: a família informada sobre o tipo de medicamento, sua funcionalidade, os efeitos colaterais possíveis faz com que o cuidado seja compartilhado e contribui para o cuidado seguro por parte dos profissionais.

Pequenos erros de cálculo podem gerar danos significativos, especialmente em crianças.

  • Uso de colheres e recipientes inadequados para calcular medidas são uma das principais causas de erros na dosagem.
  • Falta de formulações farmacêuticas com concentrações e dosagens adequadas para o público pediátrico.
  • Trituração de medicamentos, abertura de cápsulas para misturar o conteúdo em alimentos devem ser evitados, pelo risco de causar dano à criança.
  • Para medicamentos potencialmente perigosos é indicado a dupla checagem de cálculo.

Atenção: para evitar os risco de administração de medicamento por via errada:

  • Não utilizar seringas de uso endovenoso para dispensar e administrar líquidos orais;
  • Produtos de uso tópico não devem ser acondicionados em seringas;
  • É importante criar barreiras como etiquetas de alerta que reduzam a possibilidade de erros de administração por via incorreta.

 

Higienização das mãos para evitar infecções

São importantes campanhas e orientações para que a lavagem das mãos se torne uma rotina.

 

Reduzir o risco de queda

Para atingir essa meta são importantes estratégias como o uso de alertas, alocar pacientes de risco para próximo ao posto de enfermagem e orientar a família com medidas de segurança para se evitar as quedas e para que a família informe se houve ou não situação de queda, por exemplo. Uma das escalas que pode ser utilizada para avaliação de risco de queda é a escala de Humpty Dumpty.

Prevenir lesão por pressão

Importante o uso de escalas, Braden e Braden Q, por exemplo. As escalas avaliam mobilidade, atividade, percepção, umidade, sensorial, fricção, cisalhamento, nutrição, perfusão tecidual e oxigenação. Os instrumentos podem ajudar a priorizar as ações a serem realizadas para evitar as lesões por pressão.

 

Assegurar a cirurgia em local de intervenção, procedimento e paciente correto

Cirurgias seguras salvam vidas. Uma estratégia importante é a utilização da lista de verificação de cirurgias seguras.

Importante: a notificação de Eventos Adversos é uma oportunidade de melhoria do serviço e pode ser realizada por qualquer pessoa. A notificação não deve ter caráter punitivo, deve ser sigilosa e deve ocorrer feedback das tratativas para que haja melhoria nos serviços.

 

No cuidado seguro na pediatria é importante a participação da família, padronização dos processos de trabalho, desenvolvimento de habilidades para além das habilidades técnicas, como transparência nos processos, gestão de conflitos, educação permanente e desenvolvimento de uma cultura de segurança organizacional.

Abaixo, gravação do Encontro na íntegra.

Perguntas & Respostas

1. Como conseguir a adesão da equipe médica no protocolo de cirurgia segura?

O trabalho em equipe é fundamental. É muito importante que todos os envolvidos no processo assistencial façam parte da construção e implantação/implementação das estratégias de segurança do paciente. Envolvê-los nessa construção pode ser uma estratégia importante para que participem.

 

2. De que forma a falta de segurança do colaborador impacta na segurança do paciente?

É fundamental a segurança, a valorização e boas condições de trabalho para que os trabalhadores se mantenham em uma espaço seguro e possam executar suas atividades da melhor forma possível.

 

3. Como começar a implantação das metas de segurança no meu local de trabalho, ambiente hospitalar?

É importante elencar problemas dentro do setor, definir prioridades, começar com problemas mais fáceis de resolver e com metas pequenas. Além disso, deve-se agregar pessoas que tenham interesse em comum em resolver tal problema. 

Eventualmente, tem-se profissionais resistentes. É preciso, aos poucos, encontrar estratégias e pensar em mediações para que esses profissionais possam se envolver também.

 

4. A utilização de recipientes inadequados para acondicionamento de medicamento, por exemplo, medicamento oral em seringa, também deve ser evitado para pacientes da neonatologia?

Sim, pois esse acondicionamento inadequado aumenta as possibilidades de se administrar um medicamento por via errada.

 

5. Quais estratégias podem ser utilizadas para uma boa adesão de práticas seguras, por parte dos profissionais?

O treinamento, o envolvimento dos profissionais, a construção conjunta de protocolos de segurança, o reconhecimento de práticas seguras favorecem o profissional e o paciente, participação ativa dos diferentes profissionais assistenciais e os não assistenciais que estão implicados no cuidado do paciente e do ambiente, são estratégias importantes para a adesão dos profissionais e melhorias no ambiente de trabalho com vistas à segurança do paciente.

 

Referências citadas:

Como citar

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente. Postagens: Principais Questões sobre Segurança do Paciente em Pediatria. Rio de Janeiro, 21 out. 2022. Disponível em: <https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-crianca/principais-questoes-sobre-seguranca-do-paciente-em-pediatria/>.

Tags: Dia Mundial da Segurança do Paciente, Posts Principais Questões