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Principais Questões sobre Sobrepeso e Obesidade na Infância

12 fev 2021

Sistematizamos as principais questões abordadas durante Encontro com as Especialistas Janini Ginani, Coordenadora de Saúde da Criança e Aleitamento Materno (COCAM/DAPES/SAPS/MS), Gisele Bortolini, Coordenadora-Geral de Alimentação e Nutrição (CGAN/DEPROS/SAPS/MS) e Ana Carolina Feldenheimer, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); encontro realizado em 28/01/2020.

As evidências apontam que a obesidade no Brasil é uma questão prevalente, não só na população adulta, mas também nas crianças. A obesidade infantil está associada a maior chance de morte prematura e incapacidade na idade adulta. 

  • Crianças com sobrepeso e obesidade são mais propensas a terem obesidade na idade adulta e desenvolver doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como diabetes e doenças cardiovasculares na idade adulta e precocemente. 
  • Para a maioria das DCNT em consequência da obesidade, os riscos dependem parcialmente da idade e duração da obesidade.
  • As consequências mais importantes da obesidade não são frequentes em crianças e adolescentes e costumam aparecer apenas na idade adulta: doenças cardiovasculares (principalmente doenças do coração e AVC); diabetes; desordens do aparelho músculo-esquelético, em especial osteoartrites e alguns tipos de cânceres (endométrio, mama e cólon). 
  • As consequências da obesidade que já estão presentes na infância e adolescência são: hipertensão arterial; dislipidemias; sofrimento mental; apartamento social; dores articulares, entre outras. Crianças e adolescentes com obesidade sofrem com consequências a curto, médio e longo prazo.
  • A área da saúde é fundamental no cuidado ao sobrepeso e obesidade infantil, tanto na prevenção e promoção de hábitos saudáveis, quanto no cuidado e manejo de suas consequências.
  • A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2016) preconiza a atuação em seis eixos para o combate da obesidade infantil: 
    1. Promover o consumo de alimentos saudáveis;
    2. Promover atividade física;
    3. Cuidado pré-concepção e pré-natal;
    4. Alimentação saudável e atividade física na primeira infância;
    5. Saúde, nutrição e atividade física para crianças em idade escolar; e
    6. Manutenção do peso.

As políticas públicas que regulam os eixos conferem papel fundamental para o combate da obesidade infantil.

Um dos desafios hoje colocados é como os serviços de saúde, principalmente da Atenção Primária, fazem a vigilância e acompanhamento dos casos de obesidade infantil, já que não basta olhar somente para as crianças com baixo peso.

Quando se fala em obesidade, é necessário pensar em: prevenção, promoção da saúde e resposta aos casos existentes. 

Ações para o combate à obesidade infantil

Promover o consumo de alimentos saudáveis

  • Usar guias alimentares com informações sobre alimentação saudável (Guia Alimentar para Crianças brasileiras menores de 2 anos; Guia Alimentar para a População Brasileira), disponíveis de acordo com o contexto local, com linguagem acessível para todos (profissionais e população);
  • Taxar bebidas açucaradas é outra ação que pode colaborar na redução da obesidade infantil. Países como México e alguns estados dos EUA como Filadélfia e Califórnia, obtiveram resultados positivos;
  • Regular a publicidade de alimentos, especialmente os voltados para as crianças (no rádio, televisão, computador, celular, etc) e das embalagens como espaços de veiculação publicitária, que muitas vezes funcionam como atrativos, devido ao uso de símbolos e personagens infantis;
  • Implementar a rotulagem de nutrientes, a fim de facilitar o reconhecimento de produtos com alto teor de açúcar e gordura, por exemplo;
  • Criar ambientes alimentares saudáveis nas escolas também favorece seu consumo por crianças;
  • Aumentar o acesso à alimentação saudável para as populações vulneráveis.

Cuidado Pré-concepção e Pré-natal

  • Acompanhar o peso da mulher antes da gestação, com realização de exames de glicemia para identificar diabetes;
  • Promover pré-natal de qualidade com ações oportunas para a saúde do binômio mãe-bebê, com acompanhamento da curva de ganho de peso.

Alimentação saudável e atividade física na primeira infância

  • Promover ações de proteção, promoção e apoio ao aleitamento materno, principalmente aleitamento materno exclusivo até os 6 meses: leis e regulações que protejam a mulher, que regulam a venda de produtos que não são adequados; apoio e orientações dos serviços de saúde; apoio comunitário); 
  • Oferecer ambiente escolar favorável à educação alimentar, com atividade física na rotina da criança;
  • Cuidar para que o sono da criança seja adequado, já que a atuação dos hormônios do crescimento dependem da qualidade e do tempo do sono; 
  • Garantir acesso à água potável;
  • Oferecer educação alimentar desde a primeira infância, para que a criança saiba fazer escolhas saudáveis.
  • Nenhuma criança tem obesidade quando nasce. Todos nascem com peso relativamente próximo, com exceção de alguns desvios e questões específicas. Por isso, o acompanhamento constante da equipe de saúde e alguns sinais de alerta, são questões primordiais a serem acompanhadas pelos profissionais de saúde.
  • Cabe às políticas públicas a organização do cuidado, desenvolvendo material de apoio (como cartilhas, Caderneta da Saúde da Criança, etc.) e apoiando os serviços apropriados de controle de peso para crianças e adolescentes que estão com sobrepeso ou obesos.

Tratamento dos Casos Existentes

  • O tratamento dos casos de obesidade na infância costuma atuar em cinco frentes: alimentação saudável (desde o aleitamento materno ao longo da vida), atividade física (buscando ações práticas para que crianças sejam mais ativas), tempo sedentário (avalia o período em que as crianças ficam paradas em frente à telas e computadores), saúde mental (aborda questões de violência, local e entorno onde a criança vive) e sono.

O sobrepeso e a obesidade infantil não podem ser resolvidos apenas com a ação individual isolada. Respostas abrangentes são necessárias para criar ambientes saudáveis que possam suportar indivíduos a fazer escolhas saudáveis, com base em conhecimentos e habilidades relacionadas à saúde e nutrição. Essas respostas exigem compromisso dos governos e lideranças, além de investimentos a longo prazo e engajamento de toda a sociedade para proteger os direitos das crianças a boa saúde e bem-estar.

A Caderneta da Criança é uma ferramenta primordial para os profissionais de saúde no acompanhamento do desenvolvimento e crescimento.

Abaixo a gravação do Encontro na íntegra.

 

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Perguntas & Respostas

1. Quais os sinais de alerta de sobrepeso infantil? Em que momento a equipe deve começar a atuar?

A Atenção Primária à Saúde tem papel muito importante na prevenção da obesidade infantil, através do monitoramento do peso da criança. Isso deve ser feito com o apoio da Caderneta da Criança, com o gráfico de IMC (Índice de Massa Corporal). O gráfico mostra se a criança está eutrófica, apresentando risco para excesso de peso, se ela está com excesso de peso ou obesa.

Recomenda-se que os profissionais devem atuar na prevenção da obesidade infantil, já que os estudos mostram que uma vez que a criança já desenvolveu a obesidade na infância é muito difícil de se reverter esse quadro e a maioria delas vão se tornar adultos com excesso de peso. Também recomenda-se o acompanhamento do ganho de peso da mãe durante a gestação, já que há evidências de que o ganho de peso excessivo na gravidez tem impacto na obesidade infantil. 

Outro ponto a ser abordado pelas equipes são as práticas alimentares, já que os hábitos alimentares são formados nos primeiros anos de vida. O Ministério da Saúde possui um conjunto de ações, tanto para promover a prática do aleitamento materno quanto da alimentação saudável, partindo dos guias e da Estratégia Amamenta e Alimenta. Outra estratégia, o Programa Saúde na Escola, é pautado nas evidências de que a prevenção da obesidade infantil precisa que o apoio às atividades físicas e a promoção da alimentação saudável ocorram no ambiente escolar para que alcancem seus objetivos.

 

2. Como prevenir a obesidade infantil, já que ela possui causas multifatoriais?

As causas do sobrepeso e da obesidade infantil são multifatoriais. Por isso recomenda-se centrar em duas questões primordiais.

A primeira delas é o monitoramento, pois nenhuma criança vai sair do escore de peso normal para escore de sobrepeso ou obesidade do dia para a noite. A equipe de saúde deve estar atenta a isso. 

A segunda questão são as boas práticas alimentares desde a primeira infância, com incentivo ao aleitamento materno, orientações para evitar o consumo de açúcar antes dos dois anos de idade, bem como de alimentos ultraprocessados. Alimentos ricos em açúcares e gorduras são muito calóricos e, para as crianças, esses alimentos geram impacto muito grande. 

Por fim, é preciso incentivar a criança a se manter ativa: brincar, correr, ir à parques, jogos em casa. Não propriamente malhar, mas incentivar a movimentação. Também deve-se incentivar horas de lazer familiar, que saiam do espaço da televisão e da internet. 

 

3. Qual a idade indicada para que crianças iniciem atividade física?

O indicado para crianças pequenas é que brinquem, corram, façam jogos ativos, etc. A partir do nascimento a criança já se movimenta e podem ser incentivadas a ter atividades de lazer que sejam mais ativas.

Não existe uma idade específica para o início das atividades físicas. A partir dos 6 anos de idade, na escola, a criança irá para as aulas de educação física, que incentivam os esportes, trabalham a coordenação motora e evoluem conforme a idade.

 

4. O que são alimentos ultraprocessados? Há alguma recomendação para o momento em que podem ser introduzidos na alimentação da criança? Qual a quantidade que pode ser dada?

Os alimentos ultraprocessados são uma classificação, utilizada desde 2009 e adotada pelo Ministério da Saúde a partir de 2014.

Os alimentos ultraprocessados são facilmente identificados pela lista de ingredientes na embalagem. Se há componentes e alimentos que não são utilizados em casa, é muito provável que sejam ultraprocessados.

Recomenda-se o consumo de alimentos in natura ou minimamente processados, como arroz, feijão, carne, batata, mandioca, etc. (o padrão alimentar brasileiro, levando-se em conta também as regionalidades). Essas informações e recomendações estão disponibilizadas nos guias alimentares do Ministério da Saúde.

Preconiza-se que crianças não façam consumo de alimentos ultraprocessados, pelo menos até os 2 anos de idade, assim como não façam consumo de açúcar. Não há nenhuma recomendação sobre a introdução de alimentos ultraprocessados na rotina alimentar, quer seja para crianças ou adultos. 

Há robustas evidências de que expor as crianças ao padrão alimentar brasileiro a protege ao mesmo tempo em que ela forma um hábito alimentar mais saudável, com preferência por esses alimentos na vida adulta.

É importante dialogar com as famílias, inclusive sobre os gastos financeiros com estes alimentos, já que poderiam utilizar esses recursos para comprar outros produtos para a casa. Por fim, deve-se lembrar que os alimentos ultraprocessados tem paladar muito acentuado (hiperpalatáveis), o que pode causar desequilíbrio no paladar da criança a longo prazo. É importante que as famílias sejam orientadas a não utilizar os alimentos ultraprocessados como mecanismos de recompensa.

 

5. Muitas crianças são obesas devido ao ambiente que estão inseridas, onde a família toda possui sobrepeso. Como atuar nestes casos?

Este é um grande desafio, já que os pais das crianças obesas normalmente são obesos também. 

Nesses casos, orienta-se que a ação seja focada em toda a família: a recomendação que se faz para as crianças é a mesma dos pais e irmãos. Todos serão beneficiados com bons hábitos alimentares na família, não somente as crianças e adultos com sobrepeso ou obesidade. Não se trata de fazer dieta, mas de reeducar toda a família. Quando nasce uma criança é uma oportunidade de a família inteira rever seus hábitos alimentares e traçar estratégias para uma boa alimentação.

 

6. O papel da mídia na alimentação é de muita influência e a partir disso é extremamente difícil promover a alimentação saudável quando a indústria alimentícia possui tantos recursos para propaganda. Há controle e regulamentação para isso? Há regulamentação para quantidade de açúcar nos alimentos industrializados? Como os órgãos de controle podem ser mais atuantes?

A mídia atua em diversos campos na vida das pessoas, e isso não é diferente na alimentação. É importante proteger a criança e a infância da mídia. 

Atualmente, o Brasil não possui uma regulamentação para mídia ou proibição de propaganda, por exemplo. Lembrando que não se trata somente de propaganda, já que as crianças tem acesso à diferentes mídias, como celular e tablet, e recebem informações a todo momento. Outra questão importante é o diálogo com a criança, de que é preciso evitar certos alimentos. 

Deve-se buscar mais ações, normativas e regulatórias, além do monitoramento da sua execução, a fim de limitar o papel e a influência desses mecanismos na alimentação das crianças.

 

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