Sistematizamos as principais questões abordadas durante Encontro com as Especialistas Janini Ginani, Coordenadora de Saúde da Criança e Aleitamento Materno (COCAM/DAPES/SAPS/MS), Gisele Bortolini, Coordenadora-Geral de Alimentação e Nutrição (CGAN/DEPROS/SAPS/MS) e Ana Carolina Feldenheimer, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); encontro realizado em 28/01/2020.
As evidências apontam que a obesidade no Brasil é uma questão prevalente, não só na população adulta, mas também nas crianças. A obesidade infantil está associada a maior chance de morte prematura e incapacidade na idade adulta.
As políticas públicas que regulam os eixos conferem papel fundamental para o combate da obesidade infantil.
Um dos desafios hoje colocados é como os serviços de saúde, principalmente da Atenção Primária, fazem a vigilância e acompanhamento dos casos de obesidade infantil, já que não basta olhar somente para as crianças com baixo peso.
Quando se fala em obesidade, é necessário pensar em: prevenção, promoção da saúde e resposta aos casos existentes.
Ações para o combate à obesidade infantil
Promover o consumo de alimentos saudáveis
Cuidado Pré-concepção e Pré-natal
Alimentação saudável e atividade física na primeira infância
Tratamento dos Casos Existentes
O sobrepeso e a obesidade infantil não podem ser resolvidos apenas com a ação individual isolada. Respostas abrangentes são necessárias para criar ambientes saudáveis que possam suportar indivíduos a fazer escolhas saudáveis, com base em conhecimentos e habilidades relacionadas à saúde e nutrição. Essas respostas exigem compromisso dos governos e lideranças, além de investimentos a longo prazo e engajamento de toda a sociedade para proteger os direitos das crianças a boa saúde e bem-estar.
A Caderneta da Criança é uma ferramenta primordial para os profissionais de saúde no acompanhamento do desenvolvimento e crescimento.
Abaixo a gravação do Encontro na íntegra.
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Perguntas & Respostas
1. Quais os sinais de alerta de sobrepeso infantil? Em que momento a equipe deve começar a atuar?
A Atenção Primária à Saúde tem papel muito importante na prevenção da obesidade infantil, através do monitoramento do peso da criança. Isso deve ser feito com o apoio da Caderneta da Criança, com o gráfico de IMC (Índice de Massa Corporal). O gráfico mostra se a criança está eutrófica, apresentando risco para excesso de peso, se ela está com excesso de peso ou obesa.
Recomenda-se que os profissionais devem atuar na prevenção da obesidade infantil, já que os estudos mostram que uma vez que a criança já desenvolveu a obesidade na infância é muito difícil de se reverter esse quadro e a maioria delas vão se tornar adultos com excesso de peso. Também recomenda-se o acompanhamento do ganho de peso da mãe durante a gestação, já que há evidências de que o ganho de peso excessivo na gravidez tem impacto na obesidade infantil.
Outro ponto a ser abordado pelas equipes são as práticas alimentares, já que os hábitos alimentares são formados nos primeiros anos de vida. O Ministério da Saúde possui um conjunto de ações, tanto para promover a prática do aleitamento materno quanto da alimentação saudável, partindo dos guias e da Estratégia Amamenta e Alimenta. Outra estratégia, o Programa Saúde na Escola, é pautado nas evidências de que a prevenção da obesidade infantil precisa que o apoio às atividades físicas e a promoção da alimentação saudável ocorram no ambiente escolar para que alcancem seus objetivos.
2. Como prevenir a obesidade infantil, já que ela possui causas multifatoriais?
As causas do sobrepeso e da obesidade infantil são multifatoriais. Por isso recomenda-se centrar em duas questões primordiais.
A primeira delas é o monitoramento, pois nenhuma criança vai sair do escore de peso normal para escore de sobrepeso ou obesidade do dia para a noite. A equipe de saúde deve estar atenta a isso.
A segunda questão são as boas práticas alimentares desde a primeira infância, com incentivo ao aleitamento materno, orientações para evitar o consumo de açúcar antes dos dois anos de idade, bem como de alimentos ultraprocessados. Alimentos ricos em açúcares e gorduras são muito calóricos e, para as crianças, esses alimentos geram impacto muito grande.
Por fim, é preciso incentivar a criança a se manter ativa: brincar, correr, ir à parques, jogos em casa. Não propriamente malhar, mas incentivar a movimentação. Também deve-se incentivar horas de lazer familiar, que saiam do espaço da televisão e da internet.
3. Qual a idade indicada para que crianças iniciem atividade física?
O indicado para crianças pequenas é que brinquem, corram, façam jogos ativos, etc. A partir do nascimento a criança já se movimenta e podem ser incentivadas a ter atividades de lazer que sejam mais ativas.
Não existe uma idade específica para o início das atividades físicas. A partir dos 6 anos de idade, na escola, a criança irá para as aulas de educação física, que incentivam os esportes, trabalham a coordenação motora e evoluem conforme a idade.
4. O que são alimentos ultraprocessados? Há alguma recomendação para o momento em que podem ser introduzidos na alimentação da criança? Qual a quantidade que pode ser dada?
Os alimentos ultraprocessados são uma classificação, utilizada desde 2009 e adotada pelo Ministério da Saúde a partir de 2014.
Os alimentos ultraprocessados são facilmente identificados pela lista de ingredientes na embalagem. Se há componentes e alimentos que não são utilizados em casa, é muito provável que sejam ultraprocessados.
Recomenda-se o consumo de alimentos in natura ou minimamente processados, como arroz, feijão, carne, batata, mandioca, etc. (o padrão alimentar brasileiro, levando-se em conta também as regionalidades). Essas informações e recomendações estão disponibilizadas nos guias alimentares do Ministério da Saúde.
Preconiza-se que crianças não façam consumo de alimentos ultraprocessados, pelo menos até os 2 anos de idade, assim como não façam consumo de açúcar. Não há nenhuma recomendação sobre a introdução de alimentos ultraprocessados na rotina alimentar, quer seja para crianças ou adultos.
Há robustas evidências de que expor as crianças ao padrão alimentar brasileiro a protege ao mesmo tempo em que ela forma um hábito alimentar mais saudável, com preferência por esses alimentos na vida adulta.
É importante dialogar com as famílias, inclusive sobre os gastos financeiros com estes alimentos, já que poderiam utilizar esses recursos para comprar outros produtos para a casa. Por fim, deve-se lembrar que os alimentos ultraprocessados tem paladar muito acentuado (hiperpalatáveis), o que pode causar desequilíbrio no paladar da criança a longo prazo. É importante que as famílias sejam orientadas a não utilizar os alimentos ultraprocessados como mecanismos de recompensa.
5. Muitas crianças são obesas devido ao ambiente que estão inseridas, onde a família toda possui sobrepeso. Como atuar nestes casos?
Este é um grande desafio, já que os pais das crianças obesas normalmente são obesos também.
Nesses casos, orienta-se que a ação seja focada em toda a família: a recomendação que se faz para as crianças é a mesma dos pais e irmãos. Todos serão beneficiados com bons hábitos alimentares na família, não somente as crianças e adultos com sobrepeso ou obesidade. Não se trata de fazer dieta, mas de reeducar toda a família. Quando nasce uma criança é uma oportunidade de a família inteira rever seus hábitos alimentares e traçar estratégias para uma boa alimentação.
6. O papel da mídia na alimentação é de muita influência e a partir disso é extremamente difícil promover a alimentação saudável quando a indústria alimentícia possui tantos recursos para propaganda. Há controle e regulamentação para isso? Há regulamentação para quantidade de açúcar nos alimentos industrializados? Como os órgãos de controle podem ser mais atuantes?
A mídia atua em diversos campos na vida das pessoas, e isso não é diferente na alimentação. É importante proteger a criança e a infância da mídia.
Atualmente, o Brasil não possui uma regulamentação para mídia ou proibição de propaganda, por exemplo. Lembrando que não se trata somente de propaganda, já que as crianças tem acesso à diferentes mídias, como celular e tablet, e recebem informações a todo momento. Outra questão importante é o diálogo com a criança, de que é preciso evitar certos alimentos.
Deve-se buscar mais ações, normativas e regulatórias, além do monitoramento da sua execução, a fim de limitar o papel e a influência desses mecanismos na alimentação das crianças.