Encontro com as Especialistas Renata Pires Rodrigues, fonoaudióloga do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), e Maria Auxiliadora Gomes, médica e pesquisadora do IFF/Fiocruz, realizado em 09/02/2021.
Desafios para a Implantação do TAN no SUS
Abaixo a gravação na íntegra.
Perguntas & Respostas
1. Os indicadores de risco para deficiência auditiva geram entre si prioridade maior na hora de regular o exame de BERA. Os indicadores geram orientações sobre prioridades?
Os indicadores de risco não tem uma ordem de hierarquia, mas funcionam como um parâmetro de qual exame deve ser utilizado naquele bebê.
Caso a criança apresente alguns dos indicadores de risco, ela já deve ser submetida ao exame de Potencial Evocado Auditivo Automático (do BERA triagem). Caso não tenha indicador de risco, a criança deverá ser triada pelo exame de Otoacústicas Evocada. No entanto, vale ressaltar que não existe critério de hierarquia entre um indicador e outro.
2. Quando a triagem não ocorre na maternidade, como se deve proceder?
É importante entender porque a triagem não foi realizada. Se a maternidade realiza a triagem, mas no dia da alta, o bebê não foi triado, a maternidade deve se responsabilizar pelo retorno da criança para que a mesma realize a triagem auditiva no próprio ambulatório da maternidade. Caso a maternidade não realize a triagem auditiva, a criança deve ser encaminhada para um local que realize o exame.
A rotina sobre a realização da triagem auditiva deve estar clara para o profissional responsável pela alta da criança. O fluxo deve estar bem estabelecido e estruturado com a Atenção Primária e outros pontos de atenção para que seja garantido o acesso do recém nascido à TAN.
3. É preciso inserir a informação sobre a triagem auditiva durante o pré-natal, assim como o Teste do Pezinho?
Sim. É importante informar aos pais sobre a triagem neonatal, para que os mesmos possam cobrar na maternidade. É importante que essa orientação também esteja presente na Atenção Primária, uma vez que a atenção primária realiza o pré-natal, a puericultura, etc.
4. Mesmo que a TAN tenha um resultado normal (satisfatório) quais os sinais/sintomas auditivos podem estar presentes, caso haja alguma alteração?
Isso pode acontecer. Mesmo o TAN tendo um resultado satisfatório no momento do nascimento, com o passar do tempo, a criança pode apresentar alterações, perdas auditivas progressivas por outras causas ou outras infecções posteriores.
Profissionais e pais devem estar atentos a história de surdez na família, se o bebe não se assusta, não acorda com som alto, se a criança não procura fonte sonora e se o bebê não se acalma ao ouvir a voz da mãe. Esses são indicativos de que a criança não está escutando bem. Nesses casos, a criança deve ser encaminhada para uma avaliação pormenorizada, mesmo que tenha passado pela triagem auditiva neonatal.
5. Em caso de alguma alteração na triagem auditiva neonatal, quais os encaminhamentos necessários?
Precisa-se avaliar. Se o bebê não tinha indicador de risco e se foi triado pelo exame de otoemissões com alterações no resultado, essa criança precisa ser testada novamente, com o exame de Potencial Auditivo Evocado Automático.
Se a criança já tinha fator de risco e realizou o Potencial Evocado Auditivo Automático e seu exame foi alterado, deve-se repetir o Potencial Evocado Auditivo Automático em outro momento. Se novamente o resultado apresentar alterações, essa criança precisa ser encaminhada para um Centro de Testagem Especializado de Saúde Auditiva.
6. Em algumas realidades assistenciais os recém nascidos comparecem às Unidades Básicas de Saúde sem a realização da Triagem Auditiva Neonatal. Quais os desafios presentes na prática dos serviços de saúde que favorecem essa realidade de não realização da TAN por algumas maternidades brasileiras?
Os desafios são muitos, mas o que mais chama a atenção é a falta de estrutura para fazer a TAN e/ou fazer a TAN em todos os recém nascidos, ou seja fazer no maior número de dias da semana, ter profissionais disponíveis para fazer de modo a favorecer uma cobertura universal. Algumas maternidades conseguem fazer o exame, mas não conseguem realizar a triagem de todos os bebês, então alguns bebês podem chegar às suas consultas de rotina na Atenção Primária sem ter realizado a triagem, ou até mesmo com alguma alteração percebida pelos pais, por exemplo.
7. Como superar os problemas que envolvem a não cobertura universal se nem mesmo um Programa/Política Pública conseguiu superar este desafio?
Para a superação desse problema é importante o envolvimento das famílias, de parlamentares, da sociedade civil e de profissionais da saúde. A superação passa também pela divulgação da informação de qualidade e esclarecimento da importância do exame para as crianças e seus desenvolvimento.
A compreensão de que a triagem e cuidado precoce é menos oneroso do que não triar, é muito importante também. O impacto financeiro para ajustar ou amenizar o problema de crianças que tem problemas auditivos, mas que descobrem tardiamente, é muito grande para Saúde Pública, para a sociedade e para as famílias. O impacto pessoal para a pessoa surda é imenso, uma vez que ela apresenta dificuldade para entrar no mercado de trabalho, para socializar e exercer outras atividades diárias, por exemplo.
Os marcos legais são importantes, mas eles não são suficientes para a Políticas Públicas serem colocadas em prática. É importante o envolvimento da sociedade como um todo. O Brasil é muito diverso, com maternidades com diferentes dinâmicas, mas é necessário que pelo menos as maternidades maiores sejam referências para que possamos avançar para o apoio de maternidades menores e com menos estrutura e para a cobertura universal da TAN.
8. Como a APS pode contribuir no acompanhamento das crianças que necessitam passar por reavaliações periódicas? Existe alguma rotina a ser implementada?
Todas as crianças, após o nascimento, tem o direito de seguir seu acompanhamento na Atenção Primária à Saúde. Nesse nível de atenção a criança é acompanhada pela equipe de saúde da família, composta por Enfermeiro, Médico, Técnico de Enfermagem e Agentes Comunitários de Saúde. Essa equipe deve estar atenta ao desenvolvimento auditivo, da fala e da linguagem. Caso haja qualquer déficit nesse desenvolvimento, a criança deve ser monitorada/acompanhada e ter o seu cuidado compartilhado com um especialista da área para uma avaliação auditiva completa.
9. O reteste da triagem Auditiva neonatal deve ser realizada em todos os bebês ou somente naqueles que o primeiro teste apresentou alterações?
A triagem por Emissão Otoacústica deve ser realizada em todos os bebês e o reteste, com Emissão Otoacústica deve ser realizado somente naqueles que tiveram alterações no primeiro exame.
Caso o reteste tenha resultado alterado, deve-se realizar a triagem com o Potencial Evocado Auditivo Automático (BERA).