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Principais Questões sobre Uso de Telas e Saúde Visual de Crianças

4 jun 2021

Sistematizamos as principais questões abordadas durante Encontro com a Especialista Andrea Zin, médica oftalmologista do IFF/Fiocruz.

  • O uso excessivo das telas digitais causa ressecamento ocular, pois para manter a atenção, naturalmente diminui-se a frequência do piscar, ato que o ser humano faz sem perceber, ou seja, quanto maior a frequência de tela menor será a quantidade de vezes que piscamos os olhos. Consequentemente, a distribuição lacrimal (lubrificação ocular) diminui e desconfortos como ardência, prurido e piscadas frequentes acontecem, o que pode levar a criança, por exemplo, à atitude indesejada que atualmente é a de levar as mãos aos olhos.
  • O prurido em si pode favorecer para que essas crianças manipulem mais os olhos e isso pode aumentar o risco de infecções e até mesmo lesões ao longo do tempo, pelo fato de piscarem menos os olhos quando estão em uso de telas, por exemplo.
  • Uma estratégia para minimizar esses danos é fazer uso de lubrificantes (lágrimas artificiais). 
  • O ideal é limitar o uso de telas, mas em um contexto em que as aulas estão ocorrendo via recursos digitais, inevitavelmente, as crianças precisaram fazer uso desses recursos tecnológicos.
  • Recomenda-se o uso do lubrificante, no caso das crianças que assistem suas aulas, por tela de computadores, tablets ou celulares. Deve-se utilizar os lubrificantes oculares antes de iniciar as atividades escolares online e fazer reforços a cada uma ou duas horas.
  • Outra orientação é a regra “ 20 – 20 – 20” que é o descanso (relaxamento ocular) da visualização da tela a cada 20 minutos (por aproximadamente 20 à 30 segundos), pois o ato de enxergar exige um trabalho muscular, assim o músculo contrai para focar e esse trabalho muscular deve ser compensado com momentos curtos de relaxamento/descanso ocular.
  • O descanso ocular deve acontecer da seguinte forma: a cada 20 ou 30 minutos, se for possível. Deve-se ir até uma janela para receber a claridade de luz natural e olhar para o horizonte. O ato de olhar para o horizonte relaxa a musculatura ocular. Ambiente iluminado com luz natural também ajuda a minimizar os riscos trazidos pelo uso das telas.
  • Um dos sintomas relacionados à fadiga visual é a dificuldade de focar e enxergar de perto. Assim, fazer o uso de telas visuais, moderadamente ou sistematicamente com intervalos para relaxamento visual ajuda a minimizar problemas.
  • Observa-se na prática clínica que algumas crianças queixam-se de visão dupla e que essa queixa algumas vezes está relacionada ao não relaxamento adequado da musculatura ocular. Tal situação tem aumentado no público infantil, com o uso das telas. As principais alterações observadas com o uso das telas são: ressecamento ocular, cansaço/fadiga visual com perda, estrabismo e olho desalinhado pelo uso excessivo de telas.
  • Algumas estratégias para minimizar esses danos causados pelo uso de telas: estabelecer rotinas para o uso de telas, manter os olhos lubrificados, momentos de intervalos para descanso dos olhos, boa iluminação natural do ambiente, preferencialmente luz natural (é saudável para a saúde ocular), limitar o uso de tela em situações recreativas (o que é diferente de situações/tarefas acadêmicas).
  • Em crianças abaixo de 3 anos o recomendado é não expor a criança a qualquer atividade (recreativa ou não) que envolva o uso de telas, pois as telas nesse momento do desenvolvimento prejudicam o desenvolvimento ocular das crianças.
  • Ao ler, recomenda-se manter uma distância mínima de 30 cm da tela. Distâncias menores de 30 cm geram um esforço maior de foco. Leituras em telas digitais exigem um esforço maior, pois pisca-se menos os olhos e com isso há maior ressecamento ocular.

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Perguntas & Respostas

 

1. Em tempos de pandemia, as crianças aumentaram muito o uso de telas. Como limitar isso considerando que as aulas estão sendo online e o tempo de descanso é usado para assistir filmes etc.?

O ideal é fazer um tempo de descanso. Caso o descanso seja usado para assistir filme, deve-se usar a tela da televisão que é uma tela maior. O que for possível colocar na tela da televisão será melhor. 

Quanto maior  a tela e quanto mais distante esta estará da face, melhor para a saúde ocular.

 

2. O prejuízo de se usar telas de celular e tablet, é o mesmo de se usar televisão?

Quanto menor a tela maior o esforço visual e maior a aproximação do dispositivo do rosto, o que aumenta o trabalho visual para perto.

 

3. Existe uma distância mais segura para assistir TV?

Uma distância de pelo menos um metro e meio. Além disso, quanto maior a tela melhor para a saúde ocular. 

Os celulares não devem ser utilizados para assistir filmes. No caso das crianças, os jogos eletrônicos devem ser conectados preferencialmente à TV. Caso a criança precise fazer uma leitura, recomenda-se dar preferência para a leitura em livros, ao invés do uso de celulares ou outros dispositivos com tela.

 

4. Crianças que já têm erros de refração devem ser menos expostas às telas? As recomendações são diferentes em algumas circunstância?

Existe uma relação de aparecimento precoce e progressão da Miopia em crianças expostas às telas. Nesse sentido, as crianças que são míopes, estão em maior risco.

 

5. Como orientar as famílias? Pois vemos que nos passeios os pais fazem uso dos celulares e tablets para as crianças se comportarem.

Sabe-se pouco sobre as consequências para o desenvolvimento neurológico da criança, mas do pouco que se sabe já é possível apontar que o uso de telas na infância não é bom para a saúde ocular.  Abaixo de 3 anos não se deve expor a criança e caso seja feito o uso, o tempo deve ser o mínimo possível (30 minutos no máximo).

 

6. Como suspeitar que uma criança tem problemas refrativos?

Isso nem sempre é uma tarefa fácil. 

Um dos erros refrativos mais fáceis de se perceber é a miopia, pois a criança se aproxima muito do objeto ou livro, por exemplo, para ler e não enxerga bem ao se distanciar do mesmo. Outro exemplo é quando a criança precisa se aproximar da televisão para enxergar. 

No caso da hipermetropia, se a alteração for significativa a criança terá dificuldade para enxergar de longe, mas de perto também. 

No caso do astigmatismo, no qual tem-se a distorção das imagens, as crianças geralmente referem, por exemplo, olhar para uma luz e visualizar um raio.

 

7. Assistir no celular, mesmo com a diminuição da luminosidade da tela é ruim para a saúde ocular?

Sim. Deve-se lembrar sempre que para assistir filmes o ideal é assistir em telas grandes como de uma TV e, preferencialmente, com o uso de luz natural. 

É importante os pais, enquanto educadores, se conscientizarem dos danos causados pelas telas. Muitas vezes é cômodo para os adultos disponibilizarem uso de celulares ou tabletes para as crianças se comportarem, mas é importante lembrar que o uso desses dispositivos pode causar danos importantes à saúde ocular das crianças.

 

8. Existe diferença entre o uso de tela de celular, “distância curta” e tela de TV “longa distância” para crianças míopes abaixo de 10 anos?

Sim. O ideal é sempre oferecer telas maiores, luminosidade natural no ambiente e distanciamento de pelo menos 1,5 m de distância da TV.

Quanto maior a tela menor o esforço visual. Quanto maior a distância, menor o esforço visual também. O ideal é a maior tela, com a maior distância.

 

9. Posso oferecer um celular ou tablet para o meu filho no carro?

Idealmente, não. Embora seja difícil muitas acalmar uma criança em uma viagem de carro, alguns pais se utilizam das telas como artifício. No entanto, a exigência visual nesses casos é ainda maior, pois as estruturas oculares/olho precisarão manter o foco em um carro em movimento. O carro em movimento piora o esforço ocular.