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Principais Questões sobre Vacinas em Escolares e Adolescentes

3 abr 2021

Sistematizamos as principais questões abordadas durante Encontro com os Especialistas Ana Goretti Kalume Maranhão, médica pediatra, Coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde (MS); Isabella Ballalai, médica pediatra, da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM); e Márcio Nehab, pediatra infectologista do IFF/Fiocruz.

  • Vacinação em crianças é algo bem enraizado na cultura brasileira. No que diz respeito à vacinação dos adolescentes, muitas das vacinas para este público é dada ainda na infância. A vacinação na infância favorece uma população de adolescentes e adultos protegidos e saudáveis, visto que as vacinas tem papel fundamental na expectativa de vida das pessoas.
  • Em termos de cobertura vacinal, quanto mais velha a criança, menor a cobertura. O principal motivo para isso é que na maioria das vezes as famílias esquecem de vacinar seus filhos quando ficam maiores. A cobertura de vacinação nos adultos também é mais baixa.
  • Em países desenvolvidos, como a Austrália, o câncer de colo do útero está sendo consideravelmente diminuído e isso se deve à cobertura vacinal com a vacina contra o HPV. No Brasil, a cobertura dessa vacina ainda é baixa, sendo necessária uma cobertura de 80% para se obter resultados consideráveis no que diz respeito à diminuição do câncer de colo do útero. 
  • A informação adequada à população é fundamental para o aumento da cobertura vacinal.
  • Principais desafios para imunização dos adolescentes: poucas idas aos serviços de saúde, desinformação das famílias e dos adolescentes, perda de oportunidades para vacinar os adolescentes e realização de múltiplas doses no mesmo dia de forma a oportunizar a imunização; para isso, é importante a boa comunicação com o adolescente e sua família.
  • Conversar sobre medos e angústias do adolescente e da sua família sobre a vacinação, ou sobre determinada vacina é importante para a adesão da imunização. A síncope pós vacinação é razoavelmente comum e existem alguns gatilhos a serem considerados: temperatura do ambiente elevada, dor, circunstâncias emocionais, uso de álcool e outras drogas, vacinação após exercícios intensos, hiperventilação e esforço.
  • Estratégias para aliviar ansiedade e evitar síncopes pós-vacinação: garantir privacidade, preparação da vacinação longe do paciente, ofertar local para sentar, usar técnicas de distração para alívio da ansiedade, explicar o procedimento e manter em observação por 15 min após administração do imunobiológico.
  • É importante atentar-se para a desmistificação de informações falsas sobre as vacinas. A vacinação contra o HPV, especialmente, é afetada por fake news, pois é vinculada, equivocadamente, à iniciação sexual precoce, por exemplo. 
  • A eficácia da vacina contra o HPV não é somente contra o câncer cérvico-uterino, mas também câncer de vagina, de pênis, o anal e o de orofaringe. Estudos americanos já indicam que o câncer de orofaringe irá suplantar o câncer de colo do útero. Um estudo sueco mostra que a vacina contra o HPV é capaz de reduzir em 88% a chance de desenvolvimento do câncer cérvico-uterino em adolescentes vacinadas até os 17 anos de idade.
  • No Brasil, cerca de 6 mil mulheres, em idade produtiva, morrem por câncer cérvico-uterino.
  • O ideal é que se faça as vacinas na infância e os reforços e vacinas novas sejam feitas na adolescência. Graças à vacinação na infância que se tem os escolares, adolescentes e adultos. Com ela conseguiu-se melhorar a expectativa de vida da população brasileira.
  • Em 2014 houve um surto de reações psicogênicas, no qual muitas meninas ficaram paralisadas, alegando ter sido a vacina de HPV. Após investigação, comprovou-se que não havia relação entre a paralisia e a vacina. Ainda assim, este surto foi responsável por grande queda da cobertura vacinal, principalmente por ter sido televisionado. Por conta disso, as escolas, que eram os principais palcos de vacinação, passaram a não abrigar as campanhas de vacinação contra HPV. Apesar deste acontecimento não ter sido considerado um Evento Adverso Pós Vacinação (EAPV), algumas vacinas podem causar eventos adversos, assim como qualquer medicação. Além dos EAPV serem pouco comuns, seus benefícios são  maiores que o risco. 
  • Calendário Nacional de Vacinação: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z-1/c/calendario-de-vacinacao

 

Perguntas & Respostas

1. Há alguma contra indicação para vacinação de crianças no cenário de Covid-19?

Não há nenhuma contraindicação à vacinação de crianças no cenário da pandemia de Covid-19. Se a criança estiver com Covid-19 e for vacinada isso não altera em nada sua eficácia. 

Vale lembrar que é seguro e necessário sair para vacinar, mesmo nesse período, tanto crianças quanto adolescentes.

 

2. Como o movimento anti-vacina impacta a realidade brasileira? Como os profissionais de saúde podem atuar?

As fake news são grandes responsáveis por fomentar o movimento anti-vacina e diminuir a cobertura vacinal. 

Uma pesquisa feita pela SBIM (veja na SBIM) aponta que 13% dos entrevistados deixaram de se vacinar por conta de notícias, as quais são divulgadas prioritariamente pelo whatsapp (sendo este, o campeão na divulgação das fake news). Uma outra questão é a predileção por certas vacinas, como a HPV, que é a mais abordada em fake news e pelos movimentos anti-vacina. 

O Ministério da Saúde, em contrapartida, possui uma rede de comunicação responsável por vasculhar as redes a fim de descobrir as fakes news, além de um canal de WhatsApp para tirar dúvidas sobre a veracidade das notícias.

Os profissionais da saúde podem atuar desmistificando notícias falsas e ofertando aos cidadãos sites oficiais com informações verídicas e baseadas em evidências científicas.

 

3. Como diferenciar sintomas pós-vacinação do quadro de COVID-19?

A infecção pelo vírus da Covid-19 se manifesta por uma síndrome gripal e para caracterizar essa infecção utiliza-se o critério de manifestação de pelo menos dois sintomas, sendo: tosse, cefaléia, coriza, dores abdominais, odinofagia, ageusia e anosmia alguns dos possíveis sintomas associados. 

Assim, a presença de febre sem outros sintomas associados não caracteriza Covid-19. A febre pós-vacinação é uma febre moderada, que pode durar de 24h a 48h, sem manifestação de outros sinais de alarme e que cessa com antitérmicos. É sempre importante avaliar a evolução do quadro.

 

4. Quais as vacinas mais importantes para os profissionais de saúde?

De acordo com as recomendações da Sociedade Brasileira de Imunizações: Tríplice Viral, Hepatite A e B, dTpa ou dT, Varicela, Influenza (gripe), Meningocócicas conjugadas ACWY/C e Meningocócica B. A disponibilidade de algumas vacinas dependerá da situação epidemiológica. 

Para maiores informações acessar: https://sbim.org.br/calendarios-de-vacinacao.

 

5. Por que há tanta resistência à vacinação contra HPV? O que os profissionais podem falar para os pais, no sentido de apresentar evidências, para que procurem vacinar seus filhos?

A vacina contra o HPV é cercada de mitos que envolvem cultura, religião e o receio de iniciação precoce da vida sexual dos adolescentes. 

Os casos ocorridos de reações psicogênicas levantaram suspeitas, apesar de terem sido prontamente investigados. Foram marcador importante para que a população não aderisse à vacinação.  

As evidências sobre essa vacina, o que se pode falar é que ela é 100% eficaz, como a vacina dT, por exemplo. Os países que a usaram e conseguiram uma cobertura de pelo menos 80%, conseguiram uma diminuição considerável do câncer do colo do útero e eliminaram os casos de verrugas genitais. 

Os profissionais de saúde devem se manter informados e em caso de dúvidas acionar canais oficiais para que possam passar a melhor informação para os usuários do serviço.

 

6. Qual cobertura vacinal é considerada ideal?

A cobertura vacinal adequada depende da doença à qual a vacina vai cobrir. 

A tríplice viral, por exemplo, tem como ideal 95%. 

A vacinação é a administração de um preparo biológico a fim de gerar imunidade contra uma doença, sem precisar contraí-la. Por falta de informação e acesso, muitos adolescentes não completam seu calendário vacinal.

 

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