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Principais Questões sobre Vacinas

20 dez 2019

Sistematizamos as principais questões sobre vacinas abordadas durante Encontro com o Especialista Marcio Nehab, Médico Pediatra e Infectologista do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), realizado em 13/08/2019.

Veja também: Postagem sobre o tema

“Você pode ter a melhor vacina para a mulher e a criança, mas se você não conseguir que ela venha e receba a vacina, então ela não vai funcionar” (Melinda Gates).

Desde a década de 70 a vacina tem sido a medida mais efetiva e custo-efetiva de saúde preventiva do mundo. Cerca de 80% das crianças do mundo recebem o esquema de vacinas considerado mínimo pela Organização Mundial da Saúde, que inclui a BCG, poliomielite, difteria, tétano, coqueluche e sarampo. A vacinação previne mais de 2,5 milhões de mortes anualmente e poderiam ser evitadas mais 2 milhões de mortes por doenças imunopreveníveis se as vacinas fossem disponíveis para essa população. Grande parte das crianças que não são vacinadas são menores de 5 anos de idade. 

Atualmente o Ministério da Saúde disponibiliza pelo Sistema Único de Saúde, através de mais de 36 mil salas de vacinação, 27 vacinas que integram o calendário vacinal brasileiro. Por ano, o Ministério da Saúde aplica mais de 300 milhões de doses de vacinas. Há ainda vacinas especiais, para condições clínicas específicas, aplicadas nos Centros de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIE). 

Através dos anos, com o Programa Nacional de Imunização (PNI), algumas doenças desapareceram do país, como a difteria. As novas gerações não veem casos de tétano, por exemplo. Isso subestima a importância da vacinação, que deve ser mantida em altos níveis de cobertura vacinal para obtermos resultados satisfatórios. 

A queda da cobertura vacinal ocorre devido à diversos fatores como: dificuldade logística, desabastecimento de alguns imunobiológicos e horários limitados de alguns postos de saúde.

O Movimento Antivacinação foi incluído pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em seu relatório sobre os 10 maiores riscos para a saúde global. As razões pelas quais as pessoas escolhem não se vacinar são complexas e incluem: falta de confiança, complacência e dificuldade de acesso às vacinas. Há também os que alegam motivos religiosos ou filosóficos para não vacinarem seus filhos.

Até chegar aos cidadãos, as vacinas passam por um rigoroso processo de produção, começando com estudos e pesquisas, passando por inúmeros testes até serem validadas e disponibilizadas nos postos de saúde. 

Existem alguns efeitos adversos das vacinas que são esperados. Eles são chamados de efeito adverso pós vacinação e não possuem necessariamente uma relação causal com o uso da vacina ou outro imunobiológico, não sendo possível muitas vezes provar causa e efeito. As reações adversas são benignas e não deixam nenhuma sequela. Ainda assim, a grande maioria das vacinas não provoca nenhum efeito adverso. Os mais comuns são: dor no local de aplicação, edema no local de aplicação e algumas manchas pelo corpo. Reações alérgicas graves como anafilaxia são raríssimas.

A segurança das vacinas é uma preocupação mundial e é um fator determinante para o sucesso ou fracasso dos programas nacionais de imunização. É importante que os profissionais busquem por informações em sites e diretrizes de órgãos e instituições confiáveis. 

Os programas de imunização operam com a vigilância dos efeitos adversos das vacinas, que sempre devem ser notificados aos órgãos de controle. A notificação permite o acompanhamento da frequência e gravidade dos efeitos adversos pós vacinação. Além disso, pode-se avaliar se o efeito adverso é ou não relacionado à vacina. 

É fundamental que os profissionais notifiquem a suspeita de todos os casos. Assim os órgãos competentes podem agir e determinar ações de controle em casos de surto.

Abaixo a gravação do Encontro na íntegra.

O Encontro com o Especialista é uma webconferência realizada quinzenalmente com especialistas de diversas áreas. Para participar é necessário se inscrever no evento, assim você poderá enviar dúvidas que serão respondidas ao vivo!

Fique atento à agenda de Encontros com o Especialista. Inscreva-se já!

 

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Perguntas & Respostas

1. A vacina do sarampo causa autismo?

A vacina do sarampo não tem nenhuma relação com autismo. Em nenhuma situação existe causalidade da vacina ser aplicada e o paciente ficar autista. O autismo é uma doença ainda em investigação, é multifatorial e provavelmente de origem genética. Isso significa que as vacinas não tem nenhuma relação com isso.

 

2. No prematuro, devo aguardar a idade corrigida para vacinar?

Os prematuros são os que mais precisam da cobertura das vacinas, pois são o grupo mais suscetível às infecções que as vacinas podem proteger. Por isso, os prematuros devem ser vacinados no momento adequado. O Manual do CRIE – Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais apresenta as recomendações para cada uma das vacinas.

Normalmente, os prematuros, estando estáveis clinicamente, podem receber as vacinas dentro na própria UTI Neonatal, com algumas exceções. 

 

3. Sabe-se que o uso do Paracetamol antes ou logo após a vacina não é recomendado. E o uso do Ibuprofeno, segue a mesma linha de raciocínio? 

Qualquer remédio deve ser utilizado com recomendação médica. Algumas vacinas podem dar efeitos colaterais, como febre e dor local. Nestes casos, se for necessário, pode-se utilizar um analgésico, como o Paracetamol, na dose recomendada (com a posologia correta para a criança). O Ibuprofeno também pode ser utilizado, mas ele é um antiinflamatório hormonal, então a primeira opção deve ser Paracetamol ou Dipirona. 

 

4. A vacina DTPa para gestantes deve ser feita a cada gestação? Por que para os profissionais da área de saúde a vacina tem validade de 10 anos?

Sim. A vacina contra difteria, tétano e coqueluche deve ser feita em toda grávida. Esta vacina está disponível em todos os postos de saúde e deve ser feita em toda gravidez. Isso porque a ideia não é só proteger a gestante. Ao vaciná-la durante a gestação o bebê terá níveis mais elevados de anticorpos ao nascimento, sendo que ele próprio só vai tomar a vacina aos dois meses de idade.

Quanto à validade da vacina, ela é a mesma para todos. O profissional de saúde deve tomar a vacina a cada 10 anos para que esteja protegido durante este período. O motivo de fazer a vacina a cada 10 anos é que vamos perdendo imunidade ao longo do tempo em relação à alguns agentes. No caso da difteria e tétano isso ocorre por volta de 10 anos.

É importante ressaltar que em casos de acidente com perfurocortantes essa conduta pode mudar e precisa ser avaliada individualmente.

 

5. As vacinas aplicadas na grávida podem afetar a produção do leite materno?

Não. Não existe nenhuma evidência de que vacinas feitas na grávida afetem a produção de leite materno.

É importante lembrar que a grávida tem um programa específico de vacinação que inclui a vacina contra a gripe, a vacina contra a coqueluche e a vacina contra a hepatite B. 

 

6. As vacinas aplicadas de rotina na gravidez podem provocar males ao recém-nascido? 

Não, de forma alguma as vacinas aplicadas de rotina na gravidez provocam males ao recém-nascido. Pelo contrário, o recém-nascido que a mãe teve aplicada uma vacina contra a gripe por exemplo, tem anticorpos circulantes que vão protegê-lo contra a gripe muito maior que os recém-nascidos de mães que não tomaram a vacina durante a gestação.

 

7. A vacina de Rotavírus deve ser feita se houver sangue nas fezes após a primeira dose? 

A vacina do Rotavírus é feita na Atenção Primária aos 2 e 4 meses de idade. Essa vacina praticamente não tem nenhum efeito colateral. Em situações raras ela pode dar um pouco de diarreia, um pouco de vômito e um pouco de desconforto abdominal. 

Já o sangramento nas fezes é praticamente impossível de estar relacionada à vacinação de rotavírus. Nestes casos, é importante que o profissional de saúde avalie a necessidade de investigar o motivo de sangramento. 

Ainda assim, isso não contraindica a aplicação da segunda dose. 

 

8. Pode-se aplicar uma vacina no dia seguinte da outra ou deve-se esperar 15 dias de intervalo?

Não é necessário esperar nenhum intervalo para administração das vacinas recomendadas no calendário vacinal. Inclusive, esta é uma recomendação da Organização Mundial de Saúde: não perder oportunidade para vacinar. Se, ao procurar uma Unidade de saúde que tenha vacinas disponíveis e ao verificar o cartão de vacinação observa-se a falta ou atraso de alguma vacina, mesmo que seja mais de uma, é indicado que se aplique todas elas.

A única exceção são os casos de vacinas de vírus vivo atenuado (vacina tríplice viral: sarampo, caxumba e rubéola, tetraviral: sarampo, caxumba, rubéola e varicela e a vacina contra febre amarela). Nestes casos indica-se um mês de intervalo entre as vacinas. Há exceção nas situações de surtos e epidemias, onde este intervalo de um mês não deve ser feito na aplicação das vacinas de vírus vivo atenuado.

 

9. Pessoas com mais de 50 anos podem tomar a vacina contra sarampo?

Sim, a vacina pode ser feita após os 50 anos. A recomendação não é feita pelo Ministério da Saúde no calendário vacinal porque muito provavelmente a pessoa com mais de 50 anos já teve sarampo ou já tomou a vacina anteriormente.  

O Ministério da Saúde preconiza que todas as pessoas abaixo de 50 anos e acima de 1 ano, que não se lembram ou que não tenham registro formal de adequação vacinal para sarampo devem procurar um serviço de saúde para verificar se devem ou não de receber a vacina. 

Vale lembrar que não há falta de vacina no território nacional. O que existe eventualmente são surtos em algumas regiões, de doenças imunopreveníveis, como por exemplo a febre amarela e o sarampo. Isso significa que se pessoas tomam a vacina sem indicação, ela vai acabar, tirando a vacina de outras pessoas que estão no grupo de maior risco. 

 

10. Tem idade limite para vacina de febre amarela? Deve ser uma ou duas doses?

A vacina contra a febre amarela é tão segura quanto as outras vacinas do Programa Nacional de Imunização (PNI), mas na população idosa, acima de 60 anos, deve haver uma prescrição médica para sua aplicação. 

A idade limite para a vacinação normalmente são 60 anos. Isso porque acima desta idade os riscos relacionados à vacina podem ser maiores que os benefícios. Ainda assim, isso precisa ser avaliado caso a caso. Um agricultor que vive no campo, em região de surto, e tenha mais de 60 anos deve ser avaliado de forma diferente de um homem com a mesma idade que reside em região urbana, sem surto de febre amarela.

A Organização Mundial de Saúde, há bastante tempo, preconiza que uma dose de vacina contra febre amarela é suficiente para proteger contra a doença. O Brasil se adequou à esta recomendação após o recente surto de febre amarela no país, e agora faz somente uma dose de vacina de febre amarela. 

 

11. Eu não tomo a vacina da gripe porque fico gripado toda vez. Isso é pela vacina?

Antes de mais nada é preciso lembrar que a gripe pode matar, pois existem diversas complicações relacionadas à doença. 

É necessário saber caracterizar o que é resfriado e o que é gripe, pois não são a mesma coisa. Gripe é aquela que matou milhões de pessoas na Espanha (gripe espanhola), e pode ser muito grave. A gripe é ainda mais grave nas pessoas que tem algum problema de saúde como àqueles relacionados à imunidade ou pessoas em uso de quimioterápicos, radioterapia, pessoas com câncer ou HIV além dos extremos de idade.

A vacina da gripe não dá gripe. As vacinas de gripe existentes no Brasil são vacinas de vírus inativados e não causam a doença. Elas podem causar alguns efeitos comuns em vacinas como febre, dor no local de aplicação e edema. Mas não vão causar a doença. 

A ideia da vacina da gripe causar a doença está relacionada ao fato de o início das campanhas de vacinação ocorrer nos períodos sazonais, onde há maior concentração do vírus circulando na população. O que pode ocorrer é uma coincidência temporal, onde a pessoa já estava gripada ou resfriada e toma a vacina neste mesmo período, daí a ideia de causar gripe.

É importante ressaltar que os profissionais de saúde devem ser vacinados contra a gripe anualmente, pois são eles que carreiam o vírus aos pacientes. 

 

12. Quem tem alergia ao ovo pode tomar vacina da gripe e da febre amarela?

O CDC (Center for Disease Control and Prevention, órgão máximo de controle de infecções e doenças dos Estados Unidos) fez recomendações sobre alergia à ovo e vacinas.  

Tanto a vacina da gripe quanto da febre amarela, na sua fabricação, podem conter pequenas partículas de ovo. Pessoas que tiveram anafilaxia (ou seja, uma resposta alérgica exacerbada muito importante), devem receber a aplicação da vacina em um centro onde exista a terapêutica para o choque anafilático, por exemplo um hospital ou UPA (Unidade de Pronto Atendimento).

Qualquer outra alteração relacionada à alergia ao ovo, por exemplo manchas vermelhas e coceira, não é contraindicação à vacinação. 

Vale lembrar que as vacinas do sarampo, caxumba e rubéola (tríplice e tetra viral) também podem conter traços de ovo e da mesma forma não são contraindicadas.

 

13. Um resfriado comum ou uma gastroenterite aguda são contraindicações para a vacinação?

Não, de forma alguma. Doenças benignas não são contraindicação para a vacinação, muito pelo contrário. Se a pessoa procurou a Unidade de saúde por uma gastroenterite ou resfriado e tem no seu cartão de vacinação algum atraso ou falta de vacina, ela deve sim tomar a vacina. Essa recomendação é feita feita Organização Mundial de Saúde: não perder oportunidade de vacinar os usuários quando estão no serviço.

 

14. Se uma mulher for vacinada contra a rubéola e se descobrir grávida, qual o risco do bebê contrair rubéola congênita?

Caso isso ocorra o profissional não deve preocupar a mulher, pois não existe nenhum relato de caso no mundo onde isso tenha ocorrido. 

A vacina da rubéola (que vem com sarampo e caxumba), deve ser feita preferencialmente antes da mulher engravidar. O ideal é que ela espere um mês para tentar engravidar após tomar a vacina. 

 

15. Como proceder com a falta das vacinas tríplice viral e tetra viral?

As vacinas tríplice viral e tetra viral são disponibilizadas para todo o território nacional pelo PNI (Programa Nacional de Imunização). Para as crianças, grande foco destas vacinas, não há falta de insumos. Durante períodos de surto alguns locais tem dificuldade de estoque e disponibilização de todas as vacinas.

Nestes casos, o ideal é que a Unidade entre em contato com seu centro de referência para que as vacinas possam ser repostas. É muito importante que as pessoas que já tomaram duas doses da vacina contra sarampo não tomem nova dose, pois pode faltar insumo para as pessoas ainda não imunizadas.

Somente uma dose da vacina contra sarampo protege quase 95% dos casos. Duas doses eleva isso a quase 99% de proteção. Por isso, pacientes que não tomaram nenhuma dose da vacina devem ser privilegiados em momentos de escassez de insumos. 

 

16. Existe necessidade de prescrição médica para que a vacina contra sarampo seja feita em crianças menores de um ano em regiões de surto?

Não, crianças entre 6 meses e um ano de idade não precisam de prescrição médica para a receberem a vacina contra sarampo em regiões de surto. 

Nestes casos é importante que a criança receba as doses subsequentes (uma dose com um ano e outra com 1 ano e 3 meses), pois a dose realizada durante surto não vale como esquema completo para o sarampo. 

É fundamental os profissionais entrarem no site do Ministério da Saúde frequentemente para saber se a região está de fato em um local considerado de surto. Importante levar em conta que o surto é determinado por órgãos do governo, como a vigilância epidemiológica, não notícias isoladas de casos na mídia. 

 

17. Quais são as vacinas mais importantes para os profissionais de saúde?

Os profissionais de saúde devem sempre ter o cartão vacinal em dia, já que podem levar doenças de pacientes vacinados para pacientes não vacinados. 

Eles devem ter tomado todas as vacinas do calendário adulto: vacina contra gripe, hepatite B e a vacina contra difteria, tétano e coqueluche, todas disponibilizadas gratuitamente pelo Programa Nacional de Imunização. 

 

18. Por que não é exigida a comprovação vacinal para estrangeiros que vem ao Brasil?

A única vacina que se exige comprovação é a de febre amarela, para cerca de 140 países.

Esta vacina é necessária para quem reside no Brasil, em determinadas regiões. Se um estrangeiro vem ao Brasil portando a doença a população estará protegida. Ainda existem casos de febre amarela no Brasil, mas são poucos casos. 

 

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