Sistematizamos as principais questões sobre Segurança do paciente na Assistência Obstétrica e Neonatal abordadas durante o Encontro com o especialista Dr. João Batista Marinho de Castro Lima, médico ginecologista e obstetra, Diretor Clínico do Hospital Sofia Feldman, realizado dia 14/06/2018.
Existe uma falsa segurança da assistência obstétrica porque o parto e o nascimento geralmente ocorrem sem nenhum problema, por isso os erros cometidos na assistência não aparecem e não se tem oportunidade de corrigi-los. Ocorrem quase 300 mil mortes maternas ao ano em todo mundo. E estas mortes estão relacionadas à assistência ao parto mal conduzida. As falhas de comunicação são as principais responsáveis pelos eventos sentinelas e além delas a cultura organizacional, pautada na hierarquia/intimidação e em profissionais com mais poder na equipe que costumam contribuir para isso.
O Brasil ainda utiliza um modelo muito intervencionista, não baseado em evidências. Existem muitas intervenções iatrogênicas, com grande potencial de dano. Além disso, a cultura punitiva das organizações de saúde no país dificulta os profissionais assumirem os erros.
Algumas estratégias podem ser utilizadas para ampliar a segurança do paciente na assistência obstétrica e neonatal:
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1. Parto seguro e segurança do paciente são a mesma coisa?
O melhor termo a ser utilizado é segurança do paciente na assistência obstétrica ao invés de parto seguro. A segurança do paciente engloba diversos conceitos e estratégias, ao passo que parto seguro pode ter um significado diferente para cada pessoa, a partir de suas experiências e crenças.
2. Qual a sugestão de tópicos ou guia para a comunicação adequada com a paciente, assim como o registro?
A mulher tem direito a ter informações precisas sobre tudo o que está acontecendo. Ela deve receber essa informação de forma sensível e adequada. Ela precisa saber de todos os procedimentos que estão sendo realizados, qual o objetivo de cada procedimento, os benefícios que este procedimento vai trazer para ela e seu filho.
Os registros fazem parte da comunicação entre as equipes. Os prontuários precisam expressar de forma adequada o que aconteceu. No caso de instituições que não dispõem de prontuários eletrônicos, o registro por escrito de forma legível é outra questão a ser abordada.
3. A equipe do serviço se sente segura na realização dos partos, consideram que algumas verificações atrasam a rotina e por isso não quer implementar nova rotina para a segurança do paciente. Que argumentos posso levar à equipe para melhorar a Segurança na maternidade?
Esta é uma realidade. Como o parto, na maioria das vezes dá tudo certo, os profissionais sentem-se seguros na sua atuação. Pode-se tentar abordar as equipes de uma forma diferenciada, através de simulações. Com o tempo, as equipes acabam fazendo e se adaptando à essa nova cultura e rotina. Mudar cultura não é fácil e leva tempo. As rondas educacionais e reuniões de equipe frequentes para mostrar e discutir evidências científicas também podem ser consideradas.
4. Garantir a segurança da paciente contribui para redução da violência obstétrica?
Com certeza. Uma das dimensões da segurança do paciente é realizar o que é baseado em evidências. E a comunicação com a paciente, para ela ter a informação adequada do que está acontecendo, o motivo das intervenções e quais os benefícios que elas podem trazer, isso sim vai diminuir a violência obstétrica.
A violência obstétrica no Brasil, além de questões de relacionamento ruim entre as equipes e as mulheres, tem questões de intervenções desnecessárias, que trazem malefícios para as mulheres. Nesse sentido, se a equipe só intervir com o que tem de evidências, isso reduzirá sim a violência obstétrica.
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