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As gestantes foram mais afetadas pela segunda onda da pandemia?

25 abr 2021

Sistematizamos os principais pontos abordados em artigo publicado em 14 de abril de 2021 na The Lancet com evidências sobre a COVID-19 em gestantes e puérperas.

Fonte: Kadiwar, Suraj; Smith, Jonathan J; Ledot, Stephane; Johnson, Mark; Bianchi, Paolo; Singh, Natasha; et. al. Were pregnant women more affected by COVID-19 in the second wave of the pandemic? The Lancet. Published: April 14, 2021. DOI: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)00716-9

Os primeiros dados sugerem que gestantes/puérperas estão passando por quadros mais graves de COVID-19 na segunda onda da pandemia do que foi observado na primeira onda. No entanto, a verdadeira causa desta mudança ainda não está clara. Maiores estudos são necessários para se definir se a emergência de novas variantes podem estar relacionadas à esta tendência e se as políticas públicas de saúde devem ser modificadas para aumentar a proteção de mulheres grávidas.

  • Com o surgimento da pandemia por COVID-19 em 2020, houve uma preocupação de que a doença pudesse ter efeitos semelhantes à influenza e outros coronavírus em gestantes.
  • Durante a pandemia por influenza H1N1 em 2009, a mortalidade pela doença em mulheres grávidas nos Estados Unidos foi de 4,3% .
  • Dados da primeira onda de COVID-19 nos Estados Unidos (de janeiro a junho de 2020) mostraram que a morte por COVID-19 durante a gravidez foi baixa (0 a 19%) e consistente com mulheres não grávidas e em idade reprodutiva (0 a 25%).
  • No entanto, em setembro de 2020, foram feitas novas descobertas, a partir de uma revisão sistemática e meta-análise de dados globais. Os estudos sugeriram que a gravidez é um fator de risco significativo para hospitalização e evolução mais grave da doença, com maior chance para admissão em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e uso de ventilação invasiva.
  • Na mesma linha, desde setembro de 2020, uma segunda onda da COVID-19 no Reino Unido parece ter tido maior impacto em mulheres grávidas. Os dados são do hospital Royal Brompton, em Londres, um dos cinco centros de referência que fazem uso de equipamento para oxigenação extracopórea (ECMO) para os casos de insuficiência respiratória aguda grave na Inglaterra, inclusive em gestantes e puérperas com COVID-19. Observou-se aumento no número de gestantes e puérperas com quadros graves de COVID-19 durante a segunda onda, consequentemente com mais internações em UTIs e necessidade de oxigenação extracorpórea. Desde 26 de março de 2020, o Hospital recebeu 96 gestantes/puérperas entre 16 a 49 anos com COVID-19, sendo 34 na primeira onda (antes 1 de setembro de 2020) e 62 na segunda onda (1 de setembro de 2020 a 30 de janeiro de 2021). Os dados apontam ainda que as gestantes/puérperas internadas na segunda onda precisaram da oxigenação extracorpórea com maior frequência, quando comparadas à primeira onda.
  • Outros dados corroboram com estes achados. O relatório de 6 de março de 2021, do Intensive Care National Audit & Research Centre (Centro Nacional de Auditoria e Pesquisa do Reino Unido), destaca aumento no número de mulheres grávidas ou recentemente grávidas (ou seja, dentro de 6 semanas), com idade entre 16 e 49 anos, sendo admitidas para cuidados intensivos: 70 na primeira onda e 277 na segunda onda. Estas admissões representam 8,9% e 13,5% de todas as mulheres internadas com idade entre 16 e 49 anos, em terapia intensiva por COVID-19, nas respectivas ondas. Além disso, observou-se nessa população de gestantes/puérperas, maior necessidade de ventilação invasiva nas primeiras 24 horas de internação: 87 na priemira onde e 376 na segunda onda.
  • O aumento de quadros graves de COVID-19 observado em gestantes/puérperas poderia estar relacionado com o surgimento de uma cepa mais patogênica de SARS-CoV-2. No entanto, a análise preliminar sugere que não há evidências de que a variante B.1.1.7, originada no Reino Unido no início da segunda onda, é mais infecciosa ou cause doença mais grave em gestantes/puérperas do que as outras variantes.
  • Essa tendência também poderia ser explicada pelo aumento no número total de casos de COVID-19 na segunda onda, resultando em mais mulheres grávidas estarem infetadas. Esta hipótese é consistente com os dados do Reino Unido que mostram que 340.000 casos foram relatados na primeira onda, contra 3.800.000 na segunda onda. No entanto, é provável que estes resultados tenham sido afetados pelo aumento na disponibilização de testes: mais testes foram feitos durante a segunda onda, já que os laboratórios aumentaram sua capacidade neste período.
  • Alternativamente, é possível que a experiência relatada pelo Hospital Royal Brompton reflita os dados preliminares apresentados pela Espanha, onde o número de mulheres grávidas hospitalizadas durante a segunda onda foi dez vezes maior do que na primeira onda, enquanto número total de pacientes hospitalizados neste período aumentou apenas 30%. Isso sugere que essa tendência não pode ser totalmente explicada por um aumento no número total de casos.
  • Até o presente momento não está claro até que ponto esses fatores podem ter contribuído para o aumento de doenças graves por COVID-19 em gestantes/puérperas. Outras pesquisas são necessárias para maiores esclarecimentos sobre as potenciais causas.
  • As evidências apontam que a COVID-19 materna afeta os resultados da gravidez, com aumento na incidências de partos prematuros iatrogênicos e partos cesárea devido ao comprometimento materno, fetal, ou ambos.
  • Há evidências convincentes sugerindo a transmissão vertical de SARS-CoV-2 para neonatos diagnosticados com COVID-19 imediatamente após o nascimento. A infecção desta coorte parece ocorrer principalmente durante o período pós-natal (70,5%), mas uma significativa proporção de infecções pode ser congênita (5,7%).

 

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