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Principais Questões sobre Classificação de Robson: grupos, método de cálculo e valor de uso da classificação

17 mar 2022

Sistematizamos as principais questões abordadas durante Encontro com a Especialista Maria Regina Torloni, médica obstetra, docente da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e coordenadora de assuntos internacionais do Centro Cochrane do Brasil, realizado em 12/11/2020.

A Classificação de Robson ajuda instituições e gestores a responderem quem são as mulheres submetidas à cesariana e se há excessos de cesárea em algum grupo específico. Para bons dados, é muito importante que a ficha de nascidos vivos seja bem preenchida. Outros indicadores de qualidade da atenção ao parto e nascimento também devem ser considerados.

A Classificação de Robson é uma das maneiras de olhar para as taxas de cesárea. Existem outras maneiras de avaliar a taxa de cesarianas realizadas, mas a Classificação de Robson é a que mais preenche os requisitos que são considerados essenciais para essa análise.

Até 2015 não existia um sistema padronizado e aceito internacionalmente para monitorar as taxas de cesárea. Nesse ano, a OMS recomendou o uso da Classificação de Robson para monitorar as taxas de cesáreas. 

A Classificação de Robson utiliza informações básicas que dão origem a 10 variáveis utilizadas para classificar as gestantes. A pontuação varia de 1 a 10. As informações básicas utilizadas são:

  • Antecedentes obstétricos – se a paciente é nulípara, multípara sem cesárea anterior ou multípara com cesárea anterior;
  • Número de fetos – gestação de único feto ou múltiplos fetos;
  • Apresentação fetal – se classifica em cefálica, pélvica ou córmica;
  • Idade gestacional – a termo quando maior ou igual a 37 semanas ou pré-termo quando menor a 37 semanas;
  • Início do trabalho de parto – espontâneo, induzido ou se a cesárea ocorreu antes do início do trabalho de parto.

Abaixo, infográfico sobre o tema.

Infográfico Classificação de Robson

 

A Classificação de Robson é uma classificação totalmente inclusiva, pois classifica todas as gestantes e, simultaneamente, exclusiva já que uma gestante não pode ser classificada em mais de um grupo de classificação.

Existem aplicativos que podem auxiliar os profissionais nessa classificação, de forma mais fácil e sistematizada.

De 80% a 90% da população obstétrica apresenta, pela Escala de Robson, feto único, cefálico e à termo. Os outros grupos da escala representam uma pequena parcela dessa população.

Para os gestores de maternidades, a Classificação de Robson serve para contribuir com a análise da taxa de cesarianas realizadas, bem como seu aumento ou diminuição de acordo com os grupos propostos. A planilha de Classificação de Robson deve ser utilizada pelo gestor local. O preenchimento adequado dessa planilha ajudará a analisar o panorama que se tem no que diz respeito às taxas de cesárea e sua indicação.

A utilização de bases de dados confiáveis é fundamental para o preenchimento da planilha, assim recomenda-se o uso do SINASC.

Para bons dados, é muito importante que a ficha de nascidos vivos seja bem preenchida. Recomenda-se orientações e treinamento dos profissionais da assistência para melhor padronização. A declaração de nascido vivo tem todas as variáveis para classificar uma gestante em um dos 10 grupos de Robson.

Outra forma de captar as informações é através do prontuário das parturientes. Embora seja um método mais moroso, em casos onde não existe o prontuário eletrônico, essa é uma alternativa.

Outra fonte de dados são as bases do Ministério da Saúde que consolida as informações a partir da classificação de Robson: Painel de Monitoramento –  Grupos de Robson, Ministério da Saúde.

A identificação pelo gestor do tamanho do grupo de Robson, mais significativo, é importante para que se tenha conhecimento de qual é a sua população obstétrica. Assim podem ser feitas comparações e análises entre unidades de saúde e verificar a mudança no perfil da população obstétrica ao longo do tempo.

A taxa de cesariana não deve ser um indicador a ser avaliado separadamente. É importante considerar também outros indicadores de qualidade da atenção ao parto e nascimento nas instituições.

A Classificação de Robson pode ajudar o gestor a:

  • identificar o tamanho de cada grupo de Robson;
  • analisar a taxa de cesáreas geral e dos grupos de Robson; e
  • identificar quais grupos de Robson mais contribuíram para a taxa geral de cesárea.

A Classificação de Robson é de uso fácil e objetiva, permite identificar a distribuição das gestantes atendidas no serviço e quais grupos de gestantes mais contribuem para a taxa geral de cesárea. Assim, os gestores podem traçar as melhores estratégias nos grupos de mulheres que contribuem com a taxa geral de cesárea.

Abaixo, a gravação do Encontro na íntegra.

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Perguntas & Respostas

 

1. Como os serviços podem se organizar para começar a usar a classificação de Robson?

A implementação da classificação depende da estrutura do hospital. Em instituições que possuem prontuário eletrônico, por exemplo, a análise dos dados torna-se mais prática e fácil. A equipe de tecnologia da informação das instituições pode formular e organizar os prontuários eletrônicos com as informações para a realização da classificação dos grupos de Robson.  Caso a instituição não trabalhe com o prontuário eletrônico, o SINASC é uma ferramenta confiável e que oferece todos os dados necessários para a implantação/implementação da Classificação de Robson nas instituições de saúde.

 

2. Como usar a classificação de Robson na equipe de médicos obstétricos e enfermeiros obstétricos? Existe alguma diferença?

Não, a Classificação independe do profissional que vai realizá-la. 

Sobre como administrar a equipe, é possível dividir a equipe de acordo com os grupos classificados. Em casos mais graves, como os do grupo 5 que provavelmente serão cesárea, os médicos e residentes devem ficar mais atentos e pode-se deixar a equipe de enfermagem atenta e de sobreaviso nas gestantes dos outros grupos, menos graves.

 

3. Quando o Estado está dirigido pela lei do parto “adequado” onde a mulher tem direito a escolher a via de parto, como essa classificação pode ajudar os gestores a entender a importância da via de parto e a melhor escolha?

No serviço público essa lei é uma novidade, porém no setor privado ela sempre foi utilizada de certa maneira. Assim, a gestante exige o que ela acha que é melhor para ela. 

Nesse contexto, a Classificação de Robson pode ajudar a identificar os grupos em que estão ocorrendo as cesáreas, mas  que poderiam ser evitadas e a partir disso iniciar uma investigação e estratégias para mudança da rotina institucional. Por exemplo, se a cesariana foi a pedido da gestante, ações como entrevistas e planos de ação podem ser realizados no sentido de contribuir com escolhas orientadas e seguras por essas mulheres.

 

4. A classificação deveria ser feita antes do parto, mas por quem? Como organizar essa rotina e o que muda na assistência à partir da classificação?

Qualquer profissional, treinado, que está na sala de pré-parto pode fazer a Classificação de Robson. Cada instituição deve organizar sua rotina.

 

5. Qual a participação das Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde?

É muito importante que o gestor tenha consciência do que está acontecendo nos seus hospitais. A partir das informações colhidas e analisadas é possível criar políticas públicas para provocar melhorias na atenção ao parto e nascimento.

 

6. Quem deve fazer a análise dos resultados? Como divulgar isso para os profissionais e como melhorar o monitoramento desses indicadores?

A análise deve ser feita por um profissional que tenha interesse e poder para isso, como por exemplo o diretor do hospital. A intenção de divulgar deve ser feita quando o hospital tem intenção de mostrar o trabalho que está sendo realizado, ou para mostrar as mudanças/melhorias que estão sendo feitas nos grupos de Robson, como a redução das taxas de cesárea sem indicação e sobretudo para conseguir sugestões para traçar estratégias. Já sobre o monitoramento, recomenda-se que seja realizado trimestralmente.

 

Como citar

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente. Postagens: Principais Questões sobre Classificação de Robson: grupos, método de cálculo e valor de uso da classificação. Rio de Janeiro, 17 mar. 2022. Disponível em: <https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-mulher/principais-questoes-classificacao-de-robson-grupos-metodo-de-calculo-e-valor-de-uso/>.

Tags: Posts Principais Questões