Sistematizamos as principais questões abordadas durante Encontro com a Especialista Maria Auxiliadora Gomes, médica e pesquisadora do IFF/Fiocruz, realizado em 14/11/2019.
É importante que o aleitamento materno seja uma das principais ações no processo de cuidado da mulher e da criança, visto que o aleitamento materno é capaz de promover uma vida adulta mais saudável e produtiva. A amamentação traz benefícios a curto prazo, na saúde das mulheres e das crianças e a longo prazo na vida dos adultos.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) o leite materno é um alimento importante e eficaz para garantir uma população adulta mais saudável e inteligente.
A Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC) foi criada em 1991 pela OMS e pela UNICEF, em resposta à Declaração de Innocenti, um conjunto de metas criadas com o objetivo de resgatar o direito da mulher aprender a praticar a amamentação com sucesso. Essa iniciativa cresceu e, atualmente, conta com mais de 22 mil hospitais acreditados pelo mundo e 324 hospitais acreditados no Brasil.
Processo de habilitação como Hospital Amigo da Criança
A proposta da IHAC é que o hospital atue fortemente na promoção do aleitamento materno.
A primeira parte do processo de habilitação é o cumprimento dos 10 passos para o sucesso do aleitamento materno:
Passo 1 – Ter uma política de aleitamento materno escrita que seja rotineiramente transmitida a toda equipe de cuidados de saúde;
Passo 2 – Capacitar toda a equipe de cuidados de saúde nas práticas necessárias para implementar esta política;
Passo 3 – Informar todas as gestantes sobre os benefícios e o manejo do aleitamento materno;
Passo 4 – Ajudar as mães a iniciar o aleitamento materno na primeira meia hora após o nascimento; conforme nova interpretação: colocar os bebês em contato pele a pele com suas mães, imediatamente após o parto, por pelo menos uma hora e orientar a mãe a identificar se o bebê mostra sinais de que está querendo ser amamentado, oferecendo ajuda se necessário;
Passo 5 – Mostrar às mães como amamentar e como manter a lactação mesmo se vierem a ser separadas dos filhos;
Passo 6 – Não oferecer a recém-nascidos bebida ou alimento que não seja o leite materno, a não ser que haja indicação médica e/ou de nutricionista;
Passo 7 – Praticar o alojamento conjunto – permitir que mães e recém-nascidos permaneçam juntos – 24 horas por dia;
Passo 8 – Incentivar o aleitamento materno sob livre demanda;
Passo 9 – Não oferecer bicos artificiais ou chupetas a recém-nascidos e lactentes;
Passo 10 – Promover a formação de grupos de apoio à amamentação e encaminhar as mães a esses grupos na alta da maternidade; conforme nova interpretação: encaminhar as mães a grupos ou outros serviços de apoio à amamentação, após a alta, e estimular a formação e a colaboração com esses grupos ou serviços.
Outro critério exigido para a habilitação é o cumprimento, por parte do hospital, das boas práticas na atenção ao parto e nascimento.
Também é exigido ao hospital o cumprimento da Lei 11.265 de 03 de janeiro de 2006, a Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos (NBCAL) e o Decreto nº 9.759 de 22 de novembro de 2018.
Outra exigência para a habilitação é que o hospital garanta a permanência da mãe ou do pai junto ao recém-nascido durante as 24 horas e livre acesso a ambos ou na falta deles, de um responsável legal, conforme portaria 1.153 de 2014, art. 7º.
Também é importante orientar as equipes hospitalares para o plano de capacitação do curso de 20 horas. Após o credenciamento, deve-se realizar o monitoramento online anualmente.
Papel dos obstetras na iniciativa IHAC
Formação de novos obstetras e profissionais da saúde, na gestão das maternidades, serviços e clínicas, na gestão da clínica, no cuidado à gestante e suas famílias. É importante que a formação desse profissional seja baseada nas melhores evidências disponíveis, de modo que possa conduzir papéis diversos no processo de cuidado, seja na gestão ou na clínica.
Boas Práticas Clínicas: na atenção ao pré-natal de alto risco, na atenção ao parto e nascimento e ao recém-nascido e na atenção ao puerpério.
Perguntas & Respostas
1. É possível fazer o contato pele a pele no parto cesárea ou isso é uma prática adotada somente no parto normal?
Sim é possível. Pensar no contato pele a pele e na promoção ao aleitamento materno nos casos de parto cesárea é muito estratégico no Brasil, onde persistem as altas taxas de cesarianas, quando comparado aos países que tem melhores resultados perinatais. Nesse sentido, o contato pele a pele deve sim ser realizado nos partos cesárea.
Existem muitas evidências que recomendam o contato pele a pele e por esse motivo mães e bebês não podem ser privados dessa prática tão importante.
2. Que atitudes tomar diante daqueles profissionais que resistem e não se adequam às evidências e recomendações do contato pele a pele na sala de parto?
É importante atentar que a existência do distanciamento entre a prática e as evidências científicas é um desafio em todo o mundo. Mas é um trabalho cotidiano, de toda a equipe, mudar este cenário.
A implantação das boas práticas clínicas é uma forma, por exemplo, de fazer uso das evidências científicas. As discussões de casos clínicos, o trabalho de formação/treinamento/atualização dos profissionais entre outras ações, são formas de institucionalizar as práticas baseadas em evidências. A promoção de ambientes de trocas de experiência e o monitoramento de práticas clínicas também são estratégias muito importantes. É fundamental uma rede de profissionais que se empenham em aprender e debater.
3. Em relação à posição da mãe durante o parto, há diferença no momento da amamentação?
A equipe como um todo precisa atuar de forma a favorecer o parto e pós parto. No que diz respeito à amamentação e ao seu favorecimento na primeira hora de vida do recém-nascido, sabe-se que a postura mais supina, comparada à posição litotômica (priorizada no momento da cesárea), é mais facilitadora desse momento da amamentação. A posição verticalizada é favorecedora para mulher no parto e para amamentação na primeira hora. A equipe tem que pensar no conjunto de vivências que culmina na melhor situação da mãe para receber seu bebê.
4. Como sensibilizar profissionais que possuem resistência às boas práticas no trabalho de parto e nascimento?
O uso de ferramentas com conteúdos de qualidade, baseado em evidências, os espaços de convívios dos profissionais, as sessões clínicas no ambiente de trabalho, o apoio da gestão, os espaços multiprofissionais, nos quais os profissionais possam apresentar seus argumentos seus pontos de vista clínicos de forma construtiva são estratégias para implementarmos espaços de trabalho formativos e de transformação para os trabalhadores da saúde.
As boas práticas nos locais de trabalho são práticas construídas cotidianamente por todos os membros da equipe e gestão.
5. O que significa ser certificado como Hospital Amigo da Criança? Como eu faço para credenciar o hospital?
É importante buscar a Secretaria de Saúde local, os materiais do Ministério da Saúde e cursos disponíveis para as boas práticas no parto e nascimento voltados para esse credenciamento.
As secretarias de saúde devem participar desse processo dando apoio aos hospitais que tem interesse em se credenciar na IHAC. O credenciamento requer o atendimento de critérios mínimos que, após serem implantados, passam por uma avaliação/visita para averiguação se os requisitos exigidos foram atendidos.
6. No meu hospital é muito difícil incluir os obstetras nas capacitações para IHAC, como fazer?
Uma das estratégias que podem ser usadas é inserir todos os profissionais, incluído os obstetras, na organização do plano de capacitações. É importante pensar no dia a dia em possibilidades que os profissionais possam fazer trocas de experiências e que o obstetra participe desses espaços. Espaços virtuais, espaços presenciais, mas sobretudo espaços em que os profissionais possam ser construídos juntos.
7. Qual o papel acompanhante no contato pele a pele?
O acompanhante é uma boa prática e promove fisiologia e confiança à gestante, além de ser promotor de outras práticas. A presença do acompanhante proporciona melhores resultados no contato pele a pele e na amamentação na primeira hora. Essas duas práticas são resultantes de todo um processo bem sucedido, e o acompanhante é importante em todo esse processo.
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Como citar
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente. Postagens: Principais Questões sobre o Papel do Obstetra na IHAC. Rio de Janeiro, 9 nov. 2021. Disponível em: <https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-mulher/principais-questoes-obstetra-ihac/>.