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Principais Questões sobre Exames de Rotina do Pré-Natal

11 out 2021

Sistematizamos as principais questões abordadas no Encontro com a Especialista Carla Andreucci Polido, médica obstetra do Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), realizado em 09/07/2020. 

  • O documento do Ministério da Saúde, mais recente, que trata sobre o pré-natal é do ano de 2012. Da publicação desse documento, até os dias atuais, poucas mudanças ocorreram nas orientações sobre o atendimento ao pré-natal, entretanto o objetivo central apontado no documento mencionado permanece como uma recomendação importante para a condução do pré-natal no Brasil:
  • O objetivo do acompanhamento pré-natal continua  sendo assegurar o desenvolvimento da gestação, permitindo o parto de um recém-nascido saudável, sem impacto para a saúde materna, inclusive abordando aspectos psicossociais e as atividades educativas e preventivas (Ministério da Saúde, 2012).
  • O pré-natal pode ser visto pelos profissionais que o realizam, como um momento oportuno para a manutenção da saúde materna e saúde da mulher, visto que nesse momento podem ser solicitados exames de rastreamento importantes.
  • No Brasil houve o aumento da cobertura de assistência pré-natal, 98,7 % de cobertura no Brasil sendo que 75,8% das mulheres iniciam o pré-natal antes da 16º semana gestacional e 73,1% comparecem a 6 consultas ou mais (Fernandes, et. al. 2014).
  • Apesar do aumento da cobertura, ainda há desafios para a melhoria da qualidade da assistência ao pré-natal. É necessário a realização de um atendimento e procedimentos efetivos para que haja a redução de desfechos desfavoráveis (Fernandes, et. al. 2014).
  • É importante que o pré-natal seja pensado na perspectiva de uma atenção que anule os impactos negativos na saúde da mulher e que diminua a morbimortalidade. O pré-natal precisa ter em seu escopo intervenções efetivas para diminuir os desfechos desfavoráveis e a morbimortalidade materna e neonatal. 
  • O preconizado no que diz respeito à periodicidade das consulta é:
    • Até a 12º semana gestacional – deve ocorrer a 1º consulta de pré-natal. 
    • Até a 28º semana gestacional– as consultas devem ser mensais. 
    • Do 28º à 36º semana gestacional – as consultas devem ser quinzenais. 
    • Da 36º à 41º semana gestacional – as consultas devem ser semanais. 
  • Não existe alta do pré-natal. A alta é dada pela maternidade, após o nascimento do bebê que, para tal, precisa ser avaliado pela equipe de saúde e realizado a triagem neonatal e outros exames que forem necessários. 
  • Investigações mínimas desejáveis para um acompanhamento considerado de qualidade, outros exames podem ser solicitados caso haja disponibilidade, mas os que seguem são considerados como o mínimo a ser solicitado já na 1ª consulta: 
    • Hemograma; 
    • Tipagem Sanguínea e fator RH; 
    • Coombs indireto se fator RH negativo; 
    • Glicemia em jejum 
    • Eletroforese de Hemoglobina (mulheres negras, antecedente familiares de anemia falciforme ou história de anemia crônica) 
    • Testes rápidos para Sífilis e/ou VDRL 
    • Teste rápido para HIV – Anti HIV 
    • Toxoplasmose IgM e IgG 
    • Sorologia para Hepatite B ( HbsAg) 
    • Urina I/Urocultura 
    • Ecografia obstétrica com função de verificar a idade gestacional (não é obrigatório) ou de acordo com a necessidade clínica (decisão do profissional assistente) 
    • Citopatológico de colo do útero ( se necessários) 
    • Exame de secreção vaginal ( se indicação) 
    • Parasitológico de fezes ( se houver indicação clínica) 
  • Alguns serviços de saúde recomendam (fluxos institucionais/protocolos internos) a solicitação dos seguintes exames já na primeira consulta: Hemoglobina glicada, Anti Hbc, VDRL e ecografias obstétricas, além da que é realizada com o objetivo de datação. 
  • Fator Rh: se a gestante for sabidamente Rh+ , deve-se solicitar apenas a pesquisa de anticorpos irregulares (PAI) e finaliza-se a investigação. Se não há o conhecimento do fator RH dessa gestante ou se ela for RH-, deve-se confirmar a tipagem e solicitar o fator RH do pai, nesse caso se o pai for RH- não é necessário solicitar mais exames, finaliza-se a investigação. Caso o pai da criança seja RH+ ou desconhecido, deve-se solicitar nova pesquisa de anticorpos irregulares a cada 4 semanas (mensalmente) a partir da 24ª semana de gestação. Sempre que se tem uma pesquisa de anticorpos irregulares POSITIVA é mandatório referenciar essa gestante para pré-natal de alto risco, em unidade de referência, para tratamento. 
  • Em alguns estados, São Paulo por exemplo, se realiza a profilaxia (Isoimunização RH). Da 28ª à 34ª semana, orienta-se uma dose da Imunoglobulina Anti D que deve ser repetida no parto, ou em momento em que se avalie maior exposição e risco para isoimunização RH. 
  • VDRL: durante a gestação qualquer titulação de VDRL (Não Treponêmico) indica-se tratamento. Caso o VDRL não seja reator, é imprescindível realizar um teste rápido (teste Treponêmico), caso o teste rápido seja não reator, o VDRL deve ser repetido no 3º trimestre ou em outras situações que o profissional assistente avalie necessário. Caso o resultado do teste rápido seja positivo ou indeterminado, é importante a realização do tratamento e acompanhamento mensal com VDRL. 
  • Urina Tipo I: quando solicitado esse exame, muitos profissionais ficam atentos à presença de infecção urinária. Porém, é importante atentar para os casos de Pré-Eclâmpsia. Por essa razão é importante o profissional solicitante interpretar a presença de proteinúria. Proteinúria é um achado anormal, é um sinal de alarme. Caso um exame de Urina Tipo I, apresenta traços de proteínas e a gestante não apresenta Pressão Arterial Alterada (elevada) e/ou edema, o profissional deve repetir esse exame em 15 dias, para reavaliar o caso. Se apresenta traços de proteína e apresenta ainda Pressão Arterial Elevada e/ou edema é necessário solicitar exames para avaliar pré-eclâmpsia. Caso no exame Urina Tipo I seja encontrada proteinúria maciça é necessário solicitar exames para avaliar pré-eclâmpsia. 
  • Urina Tipo I: presença de cilindrúria é indicativo de encaminhamento para avaliação de pré-natal no alto risco e nos casos de hematúria é importante avaliar a presença de infecção com o uso da urocultura, caso a infecção esteja presente é fundamental o tratamento adequado e acompanhamento posterior com os exames Urina Tipo I e Urocultura. Se há hematúria persistente é necessário avaliação em pré-natal de alto risco. Atenção para casos de hematúrias isoladas sem sinais de infecção, pois podem ser indicativos de sangramento vaginal. 
  • Urocultura: atenção para os casos de bacteriúria assintomática (100.000 colônias), pois em mulheres grávidas devem ser tratadas e ao finalizar o tratamento o exame deve ser repetido para se ter a certeza de que a infecção foi debelada. A infeção urinária é uma das principais causas de morbidade na gestação. 
  • Hemograma: hemoglobina ≥ 11 g/dl é considerado normal. O Ministério da Saúde recomenda que após a 20ª semana de gestação, deve-se fazer profilaxia com 20 mg/dia de Ferro Elementar e 5 mg/dia (400 a 800 mcg/dia de folato) de Ácido Fólico com repetição de exame após a 30ª semana de gestação. Alguns protocolos de estados e municípios não recomendam profilaxia universal com ferro elementar e ácido fólico para todas as gestantes. 
  • Hemograma: quando 8g/dl < hemoglobina < 11 g/dl, considera-se como caso de anemia de leve a moderada. Nesses casos é importante orientar dieta, investigar parasitoses e realizar tratamento com ferro elementar, o hemograma precisa ser repetido de 30 a 60 dias para avaliar a necessidade de manter ou aumentar a dose . Caso a hemoglobina tenha entrado em uma padrão de normalidade seguir com a profilaxia. Hemoglobina ≤ 8 g/dl indica uma anemia grave, a gestante deve ser encaminhada para o pré-natal de alto risco. 
  • Glicemia em jejum no pré-natal que se inicia antes da 20ª semana de gestação o exame a ser solicitado para a avaliação da glicemia é a glicemia de jejum, caso o resultado seja ≥ 126 mg/dl, considera-se como Diabetes Pré-Gestacional. Nesse caso a gestante já deve ser submetida a tratamento. Se a glicemia em jejum apresenta resultado 92 mg/dl ≤ glicemia de jejum ≤ 126 mg/dl, considera-se como uma Diabetes Gestacional. Nesse caso a gestante, também já é submetida a tratamento. Se a glicemia de jejum apresentar resultado ≤ 92 mg/dl, entre a 24ª e a 28ª semana deve ser solicitado o TOTG 75g e no seu resultado, caso haja pelo menos um valor alterado, já se considera Diabetes Gestacional. Nesse caso a mulher, também, precisa ser tratada.
  • Glicemia em jejum no pré-natal que se inicia depois da 20ª e antes da 28ª semana de gestação: deve ser solicitado o TOTG 75g e atentar para os seguintes resultados:
    TOTG 75g/resultado
    Diabetes MellitusDiabetes GestacionalDiabetes Pré-gestacional (DM2)
    Jejum: ≥ 92 mg/dlJejum: glicemia ≤ 92 e < 126 mg/dlJejum: glicemia ≥ 126 mg/dl
    1h: ≥ 180 mg/dl——–——–
    2h: ≥ 153 mg/dl2h: glicemia < 200 mg/dl2h: glicemia ≥ 200 mg/dl
  • Glicemia em jejum no pré-natal que se inicia após a 28ª semana de gestação, a gestante deve realizar o TOTG 75g e os critérios de avaliação e possíveis diagnósticos são os mesmos do tópico anterior:
    TOTG 75g/resultado
    Diabetes MellitusDiabetes GestacionalDiabetes Pré-gestacional (DM2)
    Jejum: ≥ 92 mg/dlJejum: glicemia ≤ 92 e < 126 mg/dlJejum: glicemia ≥ 126 mg/dl
    1h: ≥ 180 mg/dl——–——–
    2h: ≥ 153 mg/dl2h: glicemia < 200 mg/dl2h: glicemia ≥ 200 mg/dl
  • HIV: realizar no pré-natal o teste que estiver disponível, em alguns estados o teste rápido está disponível para essa avaliação. Caso o resultado seja não reator, o exame deve ser repetido entre a 28ª e 30ª semana de gestação. Caso o resultado seja reator, a gestante deve ser encaminhada para iniciar o tratamento o mais precocemente possível. 
  • Toxoplasmose: atentar para história prévia da paciente. Se ela tem IgG ou IgM positivas antes da gravidez ela deve ser considerada imune. Caso o IgG e o IgM sejam desconhecidos ou não reagentes, deve ser solicitada a sorologia para toxoplasmose. Caso o resultado do exame seja IgG + e IgM -, isso indica que a mulher é imune, se IgG e IgM foram não reagentes essa mulher é suscetível à infecção, nesse caso devem ser orientadas as medidas de prevenção e repetir a sorologia entre a 28ª e 30ª semana de gestação. 
  • Toxoplasmose: caso haja durante a gestação mudança de status sorológico, com resultado IgG + e IgM + é importante solicitar o teste de avidez e discutir/personalizar o acompanhamento e tratamento caso a caso. 
  • Hepatite B: avaliar história prévia (Anti HBS) e checar status vacinal (3 doses de vacina contra a Hepatite B, disponível nas unidades básicas de saúde), caso Ag Hbs, Anti Hbs e Anti Hbc não reatores, essa mulher deve ser imunizada, caso não seja imunizada ou fazer a complementação de doses faltosas. Anti Hbs reator, em qualquer situação, a gestante é considerada imune, não é necessário (re)vacinar a mulher. Caso o Ag Hbs seja reator, essa gestante precisa ser encaminhada à infectologia e ser realizada a sorovacinação no nascimento da criança. 
  • Hepatite C: não é um exame de rotina no pré-natal. Não existe uma recomendação para a realização desse exame como uma rotina. Porém, algumas populações merecem especial atenção no que diz respeito a solicitação desse exame: usuário de drogas, parceiros de usuários de drogas, múltiplos parceiros, transfusão, situação de risco. 
  • Rubéola: não existe tratamento para essa infecção durante a gestação. Deve ser solicitado em mulheres com risco de contrair a infecção e realizar vacinação no puerpério para a proteção de gestações futuras. Atenção: as consultas de pré-concepção e/ou de planejamento sexual e reprodutivo, podem ser a oportunidade para atualização da caderneta de vacinação do casal. 
  • Citopatológico do colo do útero: caso a mulher esteja com atraso na coleta deste exame recomenda-se realizá-lo durante o pré-natal. O Ministério da Saúde recomenda a coleta de material celular somente da ectocérvice, entretanto não há evidências científicas que impeçam de ser coletado da endocérvice com a escova endocervical. Alguns estados e municípios mantém a recomendação nas suas unidades de saúde para a coleta de material celular da endocérvice e da ectocérvice. As alterações devem ser encaminhadas para a colposcopia de acordo com protocolos estabelecidos. Para aprofundamento na discussão segue link para acesso ao material disponibilizado pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA, 2016)
  • Vaginose Bacteriana: Não existe rastreamento de Vaginose Bacteriana para mulheres assintomáticas, apesar dessa infecção está associada à complicações na gestação/parto. Porém, rastrear mulheres assintomáticas não diminuem essas intercorrências, logo o indicado é solicitar o exame para mulheres sintomáticas e caso apresentem a infecção realizar a antibioticoterapia. 
  • Ultrassonografia Obstétrica/Ecografia Obstétrica: o Ministério da Saúde recomenda uma ultrassonografia precoce entre a 11ª e 14ª para verificar a idade gestacional, detecção de cromossomopatia/má formação fetal (ultrassonografia não faz essa confirmação diagnóstica) e diagnóstico de gemelaridade. Alguns serviços de saúde possuem no seu protocolo a solicitação de outras ultrassonografias, embora não haja evidências científicas para isso. Entretanto, o exame de imagem pode ajudar nos desfechos quando bem solicitado, quando bem realizado e em conjunção com uma avaliação clínica de qualidade. 
  • O pré-natal não deve limitar a solicitação de exames complementares. As diferentes realidades devem ser avaliadas pelos profissionais assistentes, assim refletir sobre o que pode ser oferecido para essa gestante, além do que é previsto como o mínimo em uma consulta de pré-natal preconizada pelo Ministério da Saúde. O pré-natal é momento de preparo para o parto e nascimento da criança, assim, acolher a família como um todo é importante. Atentar para as pessoas em situação de vulnerabilidade social e fazer dessa consulta um momento oportunístico. 

Abaixo, gravação do encontro na íntegra.

 

Perguntas & Respostas 

1. Quais os cuidados básicos que se deve ter com a gestante? 

A captação precoce da gestante, a vinculação da gestante e de sua família com a equipe de saúde, uma atenção ao pré-natal de qualidade com anamnese/história clínica, exame físico, diagnósticos possíveis durante a gravidez, plano terapêutico bem traçado, uso de exames laboratoriais para rastreamento e complementação da avaliação clínica do profissional são cuidados que os profissionais devem ter com as gestantes e famílias. 

O pré-natal não é restrito à solicitação de exames protocolares. A gestação envolve expectativas da mulher ou do casal, medos e angústias que devem ser trabalhadas durante as consultas. A avaliação da saúde mental da mulher é importante para o preparo de uma maternidade mais tranquila. As consultas de pré-natal devem ser espaços oportunísticos, pois podem ser um dos poucos momentos que a mulher acessa o serviço de saúde. Assim, é importante atentar também para a saúde da mulher, não somente para a gestação em si. 

 

2. Deve-se mudar alguma coisa no pré-natal durante a pandemia

Sim. Durante a pandemia é importante manter os cuidados para a prevenção da infecção pela Covid-19. O treinamento de toda a equipe de saúde e dos profissionais que trabalham nas instituições de saúde, sejam elas Unidades Básicas de Saúde, ambulatórios ou hospitais, é fundamental para a segurança da gestante. 

É imprescindível dar continuidade ao pré-natal. A interrupção no acompanhamento das gestantes traz mais malefícios do que benefícios, visto que o não acompanhamento com o pré-natal aumenta consideravelmente a possibilidade de desfechos maternos e neonatais negativos, associados à não adesão ao pré-natal pelo isolamento social. A equipe precisa ser protegida e treinada, as gestantes precisam ser protegidas, mas o acompanhamento do pré-natal não deve cessar. A utilização de recursos virtuais (consulta virtual, chats, entre outros) podem ajudar em algumas situações. 

 

3. Como a caderneta de gestante pode contribuir para a qualificação do pré-natal? 

A caderneta da gestante é uma forma de documentar as informações relevantes encontradas durante as consultas (pressão arterial, peso, uso de medicações, diagnósticos). É um documento onde devem estar inseridas todas as informações sobre o que tem sido avaliado durante as consultas de pré-natal. 

A qualidade das informações e o preenchimento correto pelo profissional assistente é de fundamental importância para o manejo dessa gestante em outros serviços de saúde. Por exemplo, uma gestante acompanhada em uma Unidade Básica de Saúde e que acessa o serviço de uma emergência deve ter na sua caderneta os exames solicitados, diagnósticos, intercorrências para que os profissionais da emergência consigam fazer as intervenções necessárias e evitar as intervenções desnecessárias. 

Além disso, a Caderneta é um documento que possui informações educativas para a gestante e sua família (alimentação, amamentação, medidas de prevenção, orientação sobre imunização, entre outros). 

 

4. A sorologia para Citomegalovírus não deve ser solicitada como rastreio? 

A sorologia para citomegalovírus nunca foi uma rotina no Brasil. Esse exame pode ser solicitado em situações específicas, para realizar diagnóstico diferencial, em que haja suspeita de infecção viral ou quadro febril não especificado. Alguns protocolos para as consultas/acompanhamento da pré-concepção recomendam a solicitação da sorologia como um rastreamento, mas durante o pré-natal de risco habitual não é uma rotina no Brasil. 

 

5. Sou enfermeiro da Estratégia de Saúde da Família, em um município de 10 mil habitantes. Temos muitas dificuldades em conseguir a ultrassonografia obstétrica para as gestantes em tempo hábil. Alguma medida pode ser sugerida para esse problema? Diante dessa dificuldade de acesso a esse exame de imagem, deve-se priorizar algum caso? Se sim, quais casos deveriam ser priorizados?

Nesse contexto apresentado, caso não seja possível solicitar a ecografia obstétrica para as gestantes, uma estratégia seria a equipe avaliar quais os casos de maior risco. 

A datação da idade gestacional é importante de ser pesquisada, por exemplo. Nos casos em que a mulher tem dúvidas a respeito da última menstruação ou não tem informações suficientes para a equipe calcular a idade gestacional a ecografia obstétrica passa a ser importante. Quando é possível dispor de uma ecografia para cada gestante, é importante que esse exame seja realizado até a 14ª semana de gestação, pois, nesse período é possível fazer uma datação adequada. Verificar gemelaridade e dependendo da qualidade do exame é possível realizar o rastreamento de cromossomopatias. A ultrassonografia que pode ser solicitada até a 24ª semana de gestação ou entre a 24ª e 28ª semana de gestação, a depender do caso, deve ser priorizado para os casos de maior risco (gestantes com hipertensão, diabetes, infecções inespecíficas). 

 

6. Se a mãe for RH-, não se deve solicita também o Coombs indireto? 

Sim. O coombs indireto faz parte da pesquisa de anticorpos irregulares. Quando se solicita somente o coombs indireto está se avaliando somente o Anti-D. Portanto, deve-se pesquisar todos os anticorpos irregulares. 

Deve-se lembrar que o sistema AB0 também produz anticorpos irregulares, o que desencadearia algumas incompatibilidades. Assim, quando se fala em pesquisa de anticorpos irregulares (PAI), supõe-se que não se refere somente ao anticorpo Anti-D, mas a todos que podem ser produzidos. 

 

7. A Eletroforese de Hemoglobina faz parte, há um tempo, dos exames de rotina do pré-natal. Existem muitos casos de Anemia Falciforme entre as gestantes? 

A população brasileira tem na sua conformação étnica/racial um quantitativo considerável de pessoas da raça negra (pretos e pardos) e a Anemia Falciforme é prevalente nessa população. Nesse sentido, é fundamental a realização da eletroforese de hemoglobina como um rastreio no pré-natal das mulheres no Brasil. 

Alguns estados e municípios recomendam a realização desse exame em todas as gestantes e em outros a indicação é individualizada. Considerando a miscigenação dos brasileiros é importante o profissional assistente atentar para gestantes negras com histórico de anemia crônica e história familiar de Anemia Falciforme. 

 

8. Qual é a relação entre o pré-natal e a morte materna? 

Até o momento, não há evidências fortes sobre como o pré-natal impacta na redução da morte materna. Entretanto, sabe-se que consultas de pré-natal de qualidade tem condições de rastrear as principais condições que levam à morte materna. 

No Brasil, a hipertensão (síndromes hipertensivas) é uma das principais causas e pode ser diagnosticada durante o pré-natal, por exemplo. A segunda causa de morte materna são as hemorragias pós-parto, esse quadro não é algo que possa ser prevenido com o pré-natal, mas existem condições como anemias graves que, se bem manejadas durante o pré-natal, podem reduzir consideravelmente o risco de morte dessas mulheres. 

Assim, o pré-natal de qualidade pode ajudar com bons desfechos materno-fetais, embora não existam na literatura fortes evidências sobre isso. Em países de baixa e média renda o pré-natal faz diferença na morbimortalidade. Já em países de alta renda, o pré-natal não faz muita diferença, visto que nesses países as mulheres não estão vulnerabilizadas socialmente. A população brasileira não é completamente saudável se considerarmos as questões de vulnerabilidade social. 

 

9. Qual a conduta para a gestante com Citomegalovírus? 

A conduta é basicamente o acompanhamento/investigação da infecção fetal, pois não há tratamento durante a gestação. 

 

10. Quais condições sugerem encaminhar uma mulher para o pré-natal de alto risco? Quais resultados podem ser manejados pela atenção primária? 

O caderno de manejo da Atenção ao Pré-Natal de Risco Habitual do Ministérios da Saúde (2012), assim como protocolos estabelecidos pelos estados e municípios, contém os casos que devem ser manejados na Atenção Básica e os que devem ser compartilhados com outros níveis de atenção (Atenção Secundária). 

Alguns casos como: a anemia moderada/grave; o fator RH –, com pesquisa de anticorpos positiva; a sífilis é variável (tem serviços que a APS trata, tem outros locais que dispõe de ambulatórios específico); a presença de proteinúria na urina I, são situações que justificam um encaminhamento para o pré-natal de alto risco. Entretanto, esses encaminhamentos podem variar com os protocolos e fluxos definidos pelos estados e municípios brasileiros. Em alguns locais a Atenção Básica, antes de fazer os encaminhamentos, lançam mão do matriciamento de especialistas focais (médico obstetra), por exemplo. 

 

11. Quanto à infecção urinária, noto que muitas mulheres são assintomáticas. Alguns artigos apontam que a infecção urinária assintomática não traz influência na prematuridade dos partos. Visto isso, deve-se tratar ou não? 

Os profissionais assistentes devem atentar para o fato de que a infecção urinária na gestação possui sintomas atípicos, mas não necessariamente apresenta-se como assintomática.

Muitas mulheres que estão com uma infecção urinária ativa, apresentam como único sintoma a polaciúria. Logo, a forma mais objetiva de o profissional avaliar essa polaciúria é via solicitação de exame de urina. Caso a gestante já apresente outros sintomas, o profissional já deve solicitar os exames Urina Tipo I e Urocultura, mas se for um único sintoma (inespecífico) pode-se iniciar a investigação somente com solicitação do exame Urina Tipo I. 

Os sintomas: dor abdominal e polaciúria, por exemplo, são sugestivos fortes de infecção urinária na gestação. Sempre que tiver uma urocultura positiva, mesmo que a gestante esteja assintomática, ela deve ser tratada. 

 

12. Existe um período mais apropriado durante a gestação para coleta de citologia oncótica (citopatologia do colo do útero)? 

A literatura aponta que a coleta pode ser realizada em qualquer período da gestação. Entretanto, como no primeiro trimestre as perdas (sangramentos e abortos) são mais comuns, o profissional pode adiar essa coleta para o segundo trimestre. Essa orientação se deve somente para evitar a associação das perdas sanguíneas com a realização da coleta do citopatológico do colo do útero. 

É importante o profissional que irá realizar o exame sempre orientar sobre a técnica que irá ser realizada, as possibilidades de pequenos sangramentos e outros desconfortos no momento do exame.

Atenção: a coleta deve ser realizada de acordo com a periodicidade preconizada pelo Ministério da Saúde ou protocolos institucionais.

 

13. Como deve ser a prescrição de Sulfato Ferroso ou Ferro Elementar? 

É preciso estar atento à formulação disponível em cada local. Na bula do Sulfato Ferroso tem a quantidade de ferro elementar por comprimido. Para fazer a prescrição correta de ferro elementar é importante fazer a conversão correta, de acordo com a bula do comprimido que está sendo prescrito. 

Deve-se lembrar que o ferro provoca desconforto gástrico. Logo, é importante boas orientações para amenizar os efeitos colaterais e favorecer a adesão ao tratamento. 

 

14. Há alguma estratégia de captação precoce das gestantes no pré-natal? Algumas mulheres chegam muito tarde no pré-natal, principalmente as adolescentes. 

O bom acolhimento das mulheres e de suas famílias, a busca ativa pelos Agentes Comunitários de Saúde e uma boa cobertura das equipes de Estratégia da Família, ajudam na captação precoce. 

Mulheres que acessam os serviços em busca de consultas de rotina devem ser questionadas (com sua privacidade garantida) sobre questões como atraso menstrual e a possibilidade de estar grávida, por exemplo. 

Quando há suspeita de uma gravidez em curso, a oferta de teste rápido é de grande valia para o diagnóstico precoce e se possível já realizar consulta com solicitação de exames (Enfermeiros ou Médicos). 

 

15. O exame de streptococcus deve ser colhido como rotina do pré-natal? 

Não. No Brasil não é uma recomendação como rotina no pré-natal. 

Esse exame deve ser solicitado para rastreamento em situações de risco gestacional. Por exemplo, se uma mulher tem urocultura positiva para Streptococcus, além de ter bacteriúria assintomática pelo Streptococcus, que deve ser tratada no momento do diagnóstico, essa mulher é provavelmente uma portadora maciça de Streptococcus e está eliminando a bactéria na urina. Nesse caso, essa gestante pode ser uma candidata a receber a profilaxia. Realizar ou não a profilaxia para Streptococcus é uma discussão a ser feita, pois não existem evidências fortes de que essa recomendação deva ser universal. Os benefícios da profilaxia ainda não estão estabelecidos, por isso não há indicação de rastreio universal.

 

Como citar

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente. Postagens: Principais Questões sobre Exames de Rotina do Pré-Natal. Rio de Janeiro, 11 out. 2021. Disponível em: <https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-mulher/principais-questoes-sobre-exames-de-rotina-do-pre-natal/>.