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Principais Questões sobre o Pré-Natal e a Promoção do Parto Normal

5 jan 2022

Sistematizamos as principais questões abordadas no Encontro com a Especialista Ana Cyntia Paulin Baraldi, enfermeira obstétrica e neonatal da Casa de Parto Luz de Candeeiro/Brasília – DF, realizado em 05/03/2020.

  • O Brasil é um país com altas taxas de parto cesárea, o que traz como consequência a piora nos indicadores de saúde materna e neonatal.  A pesquisa Nascer no Brasil (2012), inquérito nacional de parto e nascimento, mostra que dos partos ocorridos no país 56% são cesarianas, sendo 46% no setor público e 88% no setor privado. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o recomendado é que a taxa de cesariana fique em torno de 15%, considerando a gestação de risco habitual e a gestação de alto risco.
  • A cobertura do pré-natal no país é de 98,7%;
  • 75,8% dos pré-natais são iniciados até a 16º semana, ainda que o padrão ouro seja o início do pré-natal até a 12º semana. Nesse caso a taxa cai para 60%;
  • A taxa de realização de no mínimo 6 consultas pré-natais, de acordo com essa pesquisa é de 73,1%; 
  • 75,6% dos pré-natais são acompanhados por profissionais médicos. O atendimento no pré-natal por enfermeiros ainda é restrito;
  • Somente 58,7% das mulheres são informadas sobre sua maternidade de referência;
  • 16,2% das mulheres procuram mais de uma maternidade para admissão para o parto;
  • 60% das mulheres recebem orientações sobre sinais de risco na gestação, indicando que o pré-natal no país ainda orienta pouco as gestantes;
  • 1 em cada 4 mulheres sofre violência obstétrica.
    • A literatura aponta que menos de 30% das mulheres referiram preferência pela cesariana no início do pré-natal. Dentre os motivos de escolha pelo parto cesárea pelas mulheres estão: crença de que será mais seguro para o feto, pouca valorização dos riscos da cesárea para a mulher, medo da violência obstétrica, medo da dor, medo de não conseguir atendimento e como via para realizar a laqueadura no caso das multíparas.
    • Para mudanças nesse cenário é importante a implementação das Políticas Públicas já vigentes, mas ainda não implantadas/implementadas. Nesse sentido, é fundamental a inserção de enfermeiras obstétricas e obstetrizes na assistência, a implantação de educação permanente com melhoria de fluxos e processo de trabalho e qualidade na assistência.
    • O pré-natal é uma oportunidade importante para a promoção da saúde e para isso os pré-natalistas precisam estar bem preparados para o bom atendimento com base nas melhores evidências científicas disponíveis. É importante que esses profissionais estejam atualizados, qualificados, treinados e que se comprometam com o acúmulo de conhecimento para práticas transformadoras e resolutivas.
    • É importante a atuação de médicos e de enfermeiros no atendimento pré-natal. É fundamental destacar o papel dos enfermeiros na assistência ao pré-natal de baixo risco. Assim, pode-se inclusive otimizar os atendimentos médicos para as gestantes que tenham comorbidades ou apresentem maior risco. 
    • Deve-se atentar que o cuidado no pré-natal deve ser compartilhado entre os profissionais e não ser exclusivo de uma categoria.
  • Atenção: não há alta do pré-natal.
  • Possibilidades de recursos para educação em saúde: pré-natal coletivo (centering pregnancy) de origem norte-americana. Não é um grupo de gestantes o qual de forma geral é um espaço com a apresentação de um tema. O pré-natal coletivo é centrado na mulher e nas necessidades da mulher. Deve-se utilizar a metodologia ativa e a atividade tem duração média de 2 horas. Dinâmica do pré-natal coletivo: de 6 – 10 gestantes e suas parcerias, com idade gestacional aproximada, o mesmo grupo segue junto até o final, uso de metodologia ativa, exame físico no local (que ocorre ao mesmo tempo em que segue na conversa em grupo) e ações de educação em saúde.
  • Benefícios do pré-natal coletivo: otimiza o tempo de consulta com qualidade, formação de rede de apoio, gera confiança e autocuidado, valoriza o saber popular, reduz parto pré-termo, reduz baixo peso ao nascer, aumento dos partos normais, melhora taxa de vacinação das crianças, reduz custos.
  • O Brasil possui boas Políticas Públicas voltadas para atenção ao parto e nascimento, mas é necessário avançar na implantação/implementação dessas políticas. O pré-natal no Brasil possui uma boa cobertura, entretanto é necessário investir na qualidade desse atendimento. Os profissionais de saúde precisam estar bem preparados/treinados e acreditar que o parto normal é seguro.

Abaixo a gravação do Encontro na íntegra.

 

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Perguntas & Respostas

1. Qual é o papel do plano de parto? Como garantir que ele seja respeitado durante o parto quando a mulher vai para a maternidade?

O plano de parto é um documento jurídico que é levado pela mulher à maternidade, onde a mulher informa suas preferências durante o parto. Ele deve estar disponível em duas vias, já que uma via fica com a parturiente e a outra via anexada no seu prontuário. 

Recomenda-se que a sua construção/preenchimento seja realizada em conjunto com o profissional de saúde. No seu processo de construção é fundamental que as escolhas e desejos da gestante sejam valorizados, assegurando a autonomia como um direito fundamental.  

O plano de parto é algo que protege tanto as mulheres, quanto os profissionais, já que o respaldo é para os dois lados. Nos serviços privados é importante a comunicação com os profissionais assistentes para que seja assegurado os direitos previstos no que diz respeito ao plano de parto. Em maternidades cujas rotinas não são pautadas no parto humanizado é importante atentar para os direitos da mulher no que diz respeito ao seu parto e plano de parto.

 

2. No Brasil há uma cultura muito forte de cesariana. Como abordar o parto normal com as mulheres respeitando sua autonomia e ao mesmo tempo trazendo evidências sobre parto normal?

O pré-natal é um momento estratégico para os profissionais trabalharem com a educação em saúde. As consultas são momentos ideais para apresentar novas possibilidades para a gestantes e familiares. A desconstrução da cultura do parto cesárea deve acontecer em diferentes momentos dos encontros, embora seja importante compreender que a cesariana pode ser necessária em determinados casos.

 

3. Muitas mulheres chegam ao pré-natal desejando o parto normal, mas por algum motivo isso muda durante a gestação. Onde estamos errando?

É fundamental que os pré-natalistas tenham em mente e acreditem que gestar e parir é seguro. Tratar essa mulher durante o seu pré-natal com segurança e evitando intervenções desnecessárias e sem bases científicas é o caminho para que se possa mostrar que o parto normal é uma opção viável e segura para a maioria das gestações.

 

4. Existe um número de gestantes para participar do pré-natal coletivo? Como é a participação do pai nesse espaço tão feminino?

No que diz respeito ao número de participantes, a literatura aponta um número ideal entre 6 e 10 participantes. Nesse quantitativo é importante incluir os companheiros (as), assim é fundamental estar atento ao tamanho do grupo, pois geralmente os participantes interagem muito e grupos grandes podem impedir que todos participem de uma forma adequada e pode dificultar a avaliação física das gestantes também. 

Incluir os companheiros (as) é muito importante, especialmente quando se trata da participação do homem, pois é uma oportunidade de discutir a paternidade e o papel do pai no processo de desenvolvimento e educação dessa criança que vai chegar.

 

5. Envolver a família no pré-natal pode ser uma boa estratégia? Em qual momento isso deve ser feito?

Envolver a família no pré-natal é fundamental. Hoje as mulheres que tomam a decisão de ter um parto normal, acabam sofrendo pressão de familiares que acham que é algo perigoso e acabam desistindo. 

No pré-natal coletivo também existe esse espaço de trazer a mãe, a avó, outros filhos e outras pessoas da vivência da mulher. Esse momento é estratégico para desmistificar algumas questões, tirar dúvidas dos familiares e realizar a educação em saúde.

 

6. Como integrar mais as unidades básicas responsáveis pelo pré-natal com as maternidades e centros de parto normal onde os partos de fato irão ocorrer?

A definição de fluxos na rede de atenção,  pela gestão, é fundamental para seguir com a continuidade do cuidado. As Unidades Básicas de Saúde precisam ter clareza de quais são as suas maternidades de referência e vice-versa. 

A proposta é que exista vinculação, ou seja, a rotina da gestante visitar sua maternidade de referência antes de parir para conhecer a unidade onde ficará e os profissionais que irão lhe atender.  

O fortalecimento da rede de atenção e os fluxos entre as unidades de saúde bem definidos contribuem para a coesão e integração entre os serviços.

 

7. Quais as mudanças podem ser observadas com o pré-natal coletivo?

Observa-se principalmente o protagonismo da mulher e a compreensão dela sobre ela estar a frente do seu parto. O pré-natal coletivo pode contribuir na desconstrução da ideia que a mulher precisa estar, necessariamente, dependente de um único profissional que irá fazer o parto. Quando a mulher é a protagonista nesse processo e tem segurança sobre si e sobre o seu parto a ideia de que o parto poderá ser somente com um determinado profissional é desmistificada, assim o trabalho coletivo a partir do pré-natal coletivo fortalece muito as mulheres e seus companheiros (as).

 

8. Por que as gestantes preferem parto cesárea? Será que existe uma falta de incentivo no pré-natal sobre ter parto normal?

É necessário divulgar boas informações sobre o parto e o relato de boas experiências para as mulheres durante o seu pré-natal. Isso é fundamental para que as mulheres percam o medo e desenvolvam segurança sobre o processo de parir. 

As evidências apontam que as mulheres não preferem cesariana. Elas também não são encorajadas, muitas vezes, a optar por um parto normal. Orientar as gestantes sobre os benefícios do parto normal para ela e para o bebê é um passo muito importante. As mulheres tem medo de partos violentos e essa insegurança favorece decisões que nem sempre são as melhores para aquela mulher.

 

9. Quais estratégias podem ser utilizadas pelas equipes das maternidades para as mulheres que chegam pedindo cesárea?

Existem alguns recursos que os profissionais da maternidade podem lançar mão, mas o processo de conversa com essa mulher sobre o parto normal como sendo a melhor via é um processo que deve ser realizado durante o pré-natal. 

Recursos farmacológicos e não farmacológicos para alívio da dor são importantes para mostrar para essa mulher que o parto normal é possível para ela. Além disso, é importante explicar as fases do trabalho de parto e tentar acalmá-la e deixá-la segura sobre esse processo ajuda muito. 

 

10. O que pode ser ofertado durante o parto para que as mulheres se sintam confiantes para ter um parto normal?

Deve-se ofertar recursos farmacológicos e não farmacológicos para o alívio da dor, orientações e esclarecimentos sobre as fases do trabalho de parto, liberdade de posição, livre alimentação, presença do acompanhante de escolha da gestante e outras recomendações de boas práticas disponíveis nos manuais do Ministério da Saúde, da Rede Cegonha e outros. 

 

Como citar

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente. Postagens: Principais Questões sobre o Pré-Natal e a Promoção do Parto Normal. Rio de Janeiro, 05 jan. 2022. Disponível em: <https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-mulher/principais-questoes-sobre-pre-natal-e-promocao-parto-normal/>.

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