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Principais Questões sobre Profilaxia da pré-eclâmpsia no pré-natal

17 dez 2018

Sistematizamos as principais questões sobre Profilaxia da Pré-eclâmpsia no Pré-Natal enviadas pelos usuários do Portal durante Encontro com o Especialista Marcos Dias, médico obstetra, realizado em 19/04/2018.

As desordens hipertensivas na gestação são importante causa de morbidade e mortalidade para mães e bebê.

Até 10% das gestantes podem ser afetadas pelas síndromes hipertensivas durante a gestação. Na América Latina, até 25% das mortes maternas estão relacionadas com as síndromes hipertensivas.

Um aspecto importante que merece ser dito é que a maioria destas mortes são evitáveis, quando oferecemos o cuidado adequado, no tempo adequado.

A pré eclâmpsia também está associada com a prematuridade. No Brasil, cerca de 18% dos casos de prematuridade estão relacionados com a pré-eclâmpsia.

O Encontro com o Especialista é uma webconferência realizada quinzenalmente com especialistas de diversas áreas. Para participar é necessário se inscrever no evento, assim você poderá enviar dúvidas que serão respondidas ao vivo!

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Perguntas&Respostas

 

1. O SUS disponibiliza essa profilaxia para toda e qualquer gestante com diagnóstico confirmado de pré-eclâmpsia? Será disponível no pré-natal nas UBS?

A profilaxia, na verdade, é para evitar que a mulher desenvolva pré-eclâmpsia. A gente não espera a mulher desenvolver a pré-eclâmpsia ou estar hipertensa. A aspirina e cálcio devem ser feitos para as mulheres que têm risco, seja pelo histórico familiar, seja pela história obstétrica, ou se a mulher é hipertensa crônica, também deve receber a profilaxia. Isso diminui o risco dela desenvolver pré-eclâmpsia associada à hipertensão arterial crônica.

A aspirina e o cálcio fazem parte da farmácia popular. A princípio, são medicações disponíveis nos municípios.

 

2. O que o enfermeiro pode fazer ou criar na consulta de pré-natal para evitar a pré-eclâmpsia?

Uma vez que se identifique uma mulher de risco, que se tenha um sinal de alerta sobre o acompanhamento dela. Uma questão importante é que mulheres que são de risco para o desenvolvimento da pré-eclâmpsia, devem ter um calendário de consulta pré-natal mais frequente. Ao invés de espaçar as consultas, como quando lidamos com uma condição de baixo risco, a presença do fator de risco sugere que a partir da 27ª/28ª semana de gestação, realizar uma consulta de pré-natal a cada 4 semanas. Depois consultas quinzenais, e no final da gestação consultas semanais. Esse calendário com maior frequência de consultas é conhecido como fator de melhor resultado para o pré-natal destas mulheres.

Nesse sentido, o enfermeiro pode contribuir, não só pela prescrição da profilaxia, se ela estiver dentro do programa de prescrições da atenção básica ou da Unidade de Saúde, mas também pelo acompanhamento mais seletivo dessas mulheres.

 

3. Quando deve ser iniciada a profilaxia da pré-eclâmpsia?

A aspirina a partir de 12ª semanas e preferencialmente antes de 20 semanas.

Já a suplementação do cálcio pode ser feita a partir de 20 semanas.

O comprimido disponível de cálcio na Rede é de 1250mg ou 500 mg de cálcio suplementar. A dosagem recomendada pela Organização Mundial da Saúde é de 1,5g a 2g por dia. Vários estudos mais recentes têm mostrado que doses menores, de até 1g por dia têm sido efetivas da mesma forma para evitar a pré eclâmpsia. Assim, tem-se utilizado prescrever 500mg duas vezes ao dia, ou 2 comprimidos de 1250mg que corresponde a 500mg de cálcio elementar ao dia.

 

4. Que mulheres devem ser tratadas com AAS na gestação?

As mulheres que devem ser medicadas com aspirina são aquelas com alto risco. Quando buscamos na literatura, algumas listas incluem mais fatores de risco, outras são listas menores.

Normalmente, essas listas incluem: hipertensão arterial crônica, história prévia de pré-eclâmpsia, história familiar, diabetes, obesidade, primiparidade, natimortalidade anterior, idade materna avançada, gemelares, doenças do colágeno, doenças autoimunes. Todas essas patologias costumam estar nas listas de profilaxia da pré-eclâmpsia com o uso da aspirina.

 

5. Qual a dose recomendada de AAS para profilaxia da pré-eclâmpsia no pré-natal? E por quanto tempo?

No Brasil, tem-se utilizado 100mg a partir da 12ª semana de gestação, caso a mulher tenha iniciado o pré-natal precocemente. Utiliza-se até a 37ª semana, quando será avaliada a via de parto, no caso da mulher ter desenvolvido alguma complicação.

 

6. Qual a justificativa para nulíparas, multíparas com novo parceiro e intervalo maior de 10 anos serem alvos dessa intervenção?

Algumas hipóteses mostram que o contato com o esperma do novo marido vai refletir no genoma do novo bebê que está sendo formado. Essa pode ser causa do desenvolvimento da pré-eclâmpsia e, por isso, a primiparidade ou a mudança de parceiro é apontada como uma causa de indicação do uso da aspirina.

 

7. Como avaliar se o cálcio deve ser utilizado? Em alguma região do Brasil existe deficiência de cálcio?

Tem estudos que mostram que mesmo na região sudeste do Brasil, considerada a mais rica e com maior facilidade de acesso à alguns alimentos, a ingestão de cálcio é menor que 900mg por dia, que seria a dosagem ideal. Nas outras regiões brasileiras, que não no sudeste, essa ingestão é ainda menor. Portanto, a princípio, todas as mulheres deveriam receber uma suplementação de cálcio.

A alternativa, a não fazer a suplementação, seria a de fazer uma anamnese orientada para a alimentação, e tentar identificar se realmente a dieta da mulher é rica o suficiente para garantir uma ingestão de cálcio que dispensasse o uso da profilaxia.  

 

8. A suplementação de cálcio pode ajudar na prevenção da pré-eclâmpsia? Quais são os critérios para a prescrição?

Estamos falando, a princípio, de prescrição para todas as mulheres. Se você optar por fazer uma anamnese direcionada para conhecer melhor qual é a ingestão de cálcio dessa gestante, é possível identificar quais casos específicos não são necessários fazer uma suplementação. Em termos de saúde pública, a recomendação é de fazer para todas as mulheres, já que os inquéritos alimentares mostram que no Brasil inteiro, na média, existe uma deficiência de cálcio na alimentação da população.

 

9. A profilaxia é indicada para toda gestante que tenha fator de risco? Apenas um fator de risco já justifica essa profilaxia?

Sim. Basta apenas um fator de risco para que se realize a profilaxia. Não é necessário que se tenha por exemplo obesidade e hipertensão, diabetes e obesidade. Basta um dos fatores. Ter tido uma história de pré-eclâmpsia já é uma indicação. Então os fatores funcionam isoladamente como indicação. Se eles estiverem associados à outros fatores de risco, mais importante ainda a utilização da aspirina e do cálcio como profilaxia.

 

10. Vitamina C tem efeito na prevenção da pré-eclâmpsia?

Durante muito tempo tiveram alguns estudos que falaram sobre o uso de antioxidantes na prevenção da pré-eclâmpsia. Trabalhos feitos com vitamina C, vitamina E e com outras vitaminas, tentavam identificar se a suplementação na alimentação das gestantes com essas substâncias, com esses nutrientes, seria capaz de diminuir a prevalência da pré-eclâmpsia. Não existe nenhuma evidência científica de que o uso da vitamina C, da vitamina D, da vitamina E, ou dos antioxidantes, reduza a prevalência da pré-eclâmpsia.

Também, o uso de diuréticos para impedir que mulheres desenvolvam hipertensão, não está indicado como profilaxia.

Efetivamente, o que se tem hoje, é que a partir da identificação dos fatores de risco com uma boa anamnese no pré-natal, o uso do cálcio e da aspirina são indicados. Temos uma importante tarefa, que vai repercutir na taxa de prematuridade, na qualidade de vida dos bebês, na saúde das mães, no risco que elas enfrentam quando desenvolvem uma pré-eclâmpsia ou eclâmpsia: no pré-natal é preciso estarmos atentos aos fatores de risco para identificação e efetiva prescrição dos medicamentos que hoje tem comprovação, o uso da aspirina e do cálcio.

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