Sistematizamos as principais questões abordadas no dia 23/01/2020 durante Encontro com a Especialista Juraci Ghiaroni, médica ginecologista, docente da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A consulta no climatério é um momento único e importante para promover a saúde da mulher. Ela tem por objetivo: avaliar sintomatologia, fazer rastreio de câncer, identificar e rastrear doenças crônicas metabólicas e degenerativas, avaliar riscos e benefícios da terapia hormonal e prevenir doenças.
A sociedade entende que a menopausa é um marco do envelhecimento, e não é bem assim. A menopausa acontece porque as mulheres envelhecem. Isso significa que a reposição hormonal não resolve os problemas de envelhecimento, mas vai tratar os sintomas decorrentes dele.
Definições:
Exames e Rastreio:
Atenção à menopausa
Reposição Hormonal
Riscos da Reposição Hormonal
Abaixo a gravação do Encontro na íntegra.
Perguntas & Respostas
1. A reposição hormonal é indicada para todas as mulheres?
Não, a reposição hormonal não é indicada para todas as mulheres.
Algumas mulheres não podem fazer reposição hormonal, mesmo que apresentem sintomas persistentes da menopausa. Esse é o caso das mulheres que tiveram algum tipo de tumor estrogênio dependente. Há contraindicação absoluta para mulheres que tiveram câncer de mama ou endométrio, bem como mulheres com histórico de tromboembolismo venoso ou arterial.
Vale lembrar que a reposição hormonal é indicada somente para mulheres que apresentem sintomas e não tenham contraindicações.
2. Sou enfermeira da ESF e recebo algumas pacientes com 40 e poucos anos entrando na menopausa. A partir de que idade isso é normal? O que sugere que seja feito nos casos de menopausa precoce?
É normal que a mulher pare de menstruar depois de 40 anos, apesar de ainda ser considerado cedo, já que em média a menstruação pára entre 50 e 52 anos. Considera-se a menopausa patologicamente precoce quando ela ocorre antes dos 40 anos.
A menopausa precoce ou cedo (entre 40 e 45 anos) é uma indicação mais sustentável para recomendar a reposição hormonal, já que a mulher vai apresentar essa sintomatologia por mais tempo. As evidências apontam que o período que a mulher mais se beneficia da reposição hormonal são nos primeiros cinco anos. Ainda assim, há que se considerar sempre as contraindicações.
3. O que prescrever para mulheres com ressecamento vaginal após a menopausa?
É normal e comum ocorrer ressecamento vaginal após a menopausa. Há dois grupos de medicamentos que podem ser prescritos: os lubrificantes vaginais e as medicações hormonais de uso local.
Da mesma forma que a reposição hormonal, mulheres com histórico de câncer de mama não recomenda-se utilizar lubrificantes hormonais locais à base de estrogênio. Nessa população recomenda-se lubrificantes não hormonais.
4. Há opções mais naturais para reposição hormonal?
Sim, existem opções mais naturais. Os fitoterápicos são medicamentos extraídos de plantas e que possuem substâncias com semelhança estrutural com estrogênio. O mais conhecido é a Genisteína, que é derivada da soja.
Os fitoterápicos são uma ótima opção. Essas substâncias se acoplam aos receptores de estrogênio e desencadeiam uma certa atividade de estrogênio. Algumas substâncias funcionam mais e outras menos.
Para as mulheres que tem sintomas de fogachos e não podem utilizar estrogênios devido à histórico de câncer de mama, é possível receitar outra linha de medicamentos, os antidepressivos.
5. Qual acompanhamento e exames recomendados para mulheres no climatério?
O Ministério da Saúde recomenda a realização da mamografia dos 50 aos 69 anos, a cada 2 anos. Já a Sociedade Brasileira de Mastologia recomenda um exame anual a partir dos 40 anos.
Se a mulher faz reposição hormonal recomenda-se a realização de um ultrassom transvaginal anualmente. O rastreio de câncer de ovário não é recomendado para todas as mulheres, já que é um evento muito raro.
A densitometria óssea não é obrigatória para todas as mulheres e nem deve ser recomendada anualmente, principalmente se a mulher já tiver realizado um exame com resultado dentro da normalidade. Ela é recomendada para mulheres com fator de risco para osteoporose e na população normal, sem fator de risco, a partir dos 65 anos.
6. Como abordar a sexualidade no climatério? Este tema ainda é um tabu e a maioria dos profissionais tem dificuldade em abordar durante as consultas.
Muitos profissionais tem de fato dificuldade em abordar esse tema durante a consulta. O climatério vem com o contexto do envelhecimento e a sociedade está acostumada a associar a sexualidade com a juventude.
A mulher pode exercer sua sexualidade em qualquer fase da vida. Algumas mudanças podem ocorrer, como o ressecamento da vagina e em alguns casos maior dificuldade em atingir o orgasmo. Mas isso não é uma regra imutável e o profissional deve abrir espaço na consulta para que esse tema seja abordado.
Outra questão que precisa ser avaliada durante a consulta é a perda da libido. Se ela vem associada ao ressecamento vaginal, é possível que a reposição de estrogênio resolva as duas questões. Mas se o ressecamento vaginal foi resolvido mas a libido não melhorou, pode-se avaliar a possibilidade de prescrever testosterona.
7. Há orientação específica sobre alimentação no climatério?
As recomendações são as mesmas recomendações de uma alimentação saudável: ingerir muitos legumes e verduras, pouco carboidrato, açúcar e alimentos ricos em gordura e cuidado com o excesso de álcool. Deve-se evitar o excesso de peso, lembrando que o maior fator de risco, independente da reposição hormonal, para o câncer de mama é a obesidade.
8. Depressão é um sintoma muito comum no climatério. Como conduzir estes casos sem recorrer sempre à medicalização?
Depressão é um diagnóstico e a ideia de que se tem depressão é muito frequente nos dias de hoje, entre mulheres e homens, em qualquer idade. De qualquer forma, o diagnóstico de depressão só pode ser feito por um psiquiatra.
Muitas vezes as pessoas acham que estão com depressão porque estão tristes ou ansiosas. É importante que o profissional busque entender se há motivos para tais sentimentos. Algumas vezes eles são justificáveis pelo momento de vida que a pessoa está passando. A psicoterapia é uma opção valiosa que deve ser sempre considerada.
O envelhecimento pode trazer questões que potencializam pessoas que já tem alguma tendência ou histórico de depressão. Por isso devem ser bem acompanhadas. Outra questão a ser considerada pelo profissional é que o estrogênio melhora o humor e a falta de energia, muitas vezes relatadas por mulheres no climatério. Isso deve ser levado em consideração, caso a caso.
9. Quando o sangramento excessivo durante a menopausa deve ser sinal de alerta? Qual a conduta recomendada?
O sangramento deve ser sinal de alerta quando ele não responde bem ao tratamento.
Quando a mulher tem entre 45-47 anos, ciclos regulares e refere aumento do fluxo, é provável que se tenha alguma causa orgânica, como por exemplo um mioma. Quando a mulher está na fase pré menopausa os ciclos ficam irregulares e esse longo período de irregularidade acaba levando a um fluxo maior. Para orientar o tratamento é importante solicitar um ultrassom transvaginal a fim de medir a espessura do endométrio. Se não houver suspeita de malignidade, recomenda-se o tratamento com progesterona. Se a mulher está menstruando significa que ela tem estrogênio, por isso é necessário fazer 14 dias de progesterona, a fim de regular a menstruação.
O sinal de alerta deve ocorrer quando a mulher está há muito tempo com sangramento excessivo, sem responder à medicação e com alterações em exame de imagem. O profissional também deve estar atento às mulheres que tem maior risco de câncer de endométrio: com sobrepeso, diabéticas ou hipertensas.
10. Quando o sangramento uterino após menopausa indica histerectomia?
Considera-se menopausa quando a mulher fica um ano sem menstruar. Se após um ano sem menstruar a mulher tem um sangramento ele é denominado sangramento pós menopausa. Toda vez que há sangramento pós menopausa ele deve ser investigado, pois pode indicar alguma alteração maligna do endométrio.
A histerectomia é indicada quando há alguma doença em que ela seja necessária. Não é todo sangramento pós menopausa que indica histerectomia. Por exemplo, se na investigação for identificado um pólipo, pode-se proceder à sua retirada, não sendo necessária a histerectomia. Nos casos de atrofia de endométrio a recomendação é continuar acompanhando. Nos casos de hiperplasia sem atipia pode-se fazer o tratamento com medicação. A histerectomia pode ser necessária quando há diagnóstico de hiperplasia com atipia ou câncer de endométrio.
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