Sistematizamos as principais questões abordadas no dia 31/03/2022 durante o Encontro com a Especialista Sue Yazaki Sun, médica obstetra, professora da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
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O diagnóstico e tratamento precisos dos sangramentos do primeiro trimestre da gestação diminuem a morbidade e mortalidade maternas por hemorragias. As principais causas de sangramento do primeiro trimestre são o abortamento espontâneo, a gravidez ectópica e a mola hidatiforme.
A causa mais comum de sangramento no primeiro trimestre é o abortamento espontâneo, ocorrendo em 12 a 24% das gestações. O abortamento precoce refere-se à gestação intrauterina não viável até 12 semanas ou com peso inferior a 500 gramas. Quando ocorre após 12 semanas, é denominado abortamento tardio.
Sangramentos relacionados à abortamento podem ter diferentes manifestações:
Outra causa de sangramento no primeiro trimestre é a gravidez ectópica. Nesses casos, ocorre sangramento e o saco gestacional não é encontrado na cavidade uterina. É fundamental a compreensão do cenário clínico:
A terceira causa mais frequente de sangramento no primeiro trimestre é a mola hidatiforme, caracterizada por um erro genético que leva à proliferação anormal do tecido trofoblástico. Isso resulta em níveis elevados de gonadotrofina coriônica humana (hCG), causando sintomas semelhantes à gravidez.
A mola hidatiforme pode parecer uma ameaça de aborto ou um aborto retido, mas a presença de hCG elevado, associada a sintomas atípicos e características ultrassonográficas distintas, ajuda a confirmar o diagnóstico.
Diagnóstico diferencial
Ao lidar com sangramento no primeiro trimestre, uma boa avaliação clínica é crucial, incluindo exame especular para excluir causas ginecológicas. Conhecer essas informações e entender as diferenças entre essas condições é fundamental para um diagnóstico e tratamento adequados.
A ultrassonografia pélvica transvaginal pode fornecer informações essenciais, como presença ou não de material na cavidade uterina, vitalidade do embrião e regularidade do saco gestacional.
Essas características indicam diagnósticos de abortamento incompleto, abortamento retido ou, como um diferencial, mola hidatiforme.
Em resumo, a avaliação ultrassonográfica detalhada e a análise dos níveis de hCG desempenham um papel crítico na determinação do diagnóstico adequado para pacientes com sangramento no primeiro trimestre.
Seguimento dos casos
No caso de abortamento espontâneo, é importante ressaltar que não há tratamento médico específico. O suporte emocional é fundamental, e medidas como repouso não têm eficácia comprovada. Já no abortamento incompleto, a opção é o esvaziamento uterino, por meio de aspiração manual intrauterina (AMIU, preferencialmente) ou curetagem.
Em casos de aborto retido, orienta-se aguardar a expulsão espontânea em até 4 semanas. Caso isso não aconteça, o tratamento cirúrgico por curetagem uterina ou AMIU pode ser realizado. Antes desse procedimento, a administração de misoprostol 400 microgramas via vaginal três horas antes é recomendada.
Nesses casos, é necessário conhecer a tipagem sanguínea ABO e RH. Se a mulher for RH negativo com parceiro RH positivo e Coombs indireto negativo, a imunoglobulina anti-D deve ser administrada para prevenir a isoimunização. Além disso, é importante realizar sorologias para sífilis e HIV, e todo o material de curetagem deve ser enviado para exame histopatológico.
Em situações de abortamento espontâneo infectado, é necessário instituir terapia antibiótica imediatamente para evitar complicações.
No caso de gravidez ectópica, o tratamento varia de acordo com a situação. Laparotomia é indicada em casos de abdome agudo hemorrágico, enquanto laparoscopia é preferencial em situações menos críticas. Em determinadas situações, o tratamento pode ser expectante, especialmente se os títulos de hCG apresentam declínio em um intervalo de 24 a 48 horas.
Para o tratamento cirúrgico, não deve haver embrião vivo e a massa anexial deve ter dimensões inferiores a cinco centímetros. Algumas mulheres podem ser elegíveis para o tratamento medicamentoso, em detrimento do tratamento cirúrgico. Nesses casos, é necessário que a mulher esteja hemodinamicamente estável, com massa anexial inferior a três centímetros e HCG inicial menor que 5000UI; não deve apresentar dor abdominal e deve ter o desejo de uma gravidez futura, já que o tratamento medicamentoso visa preservar a tuba uterina. Isso é particularmente relevante para mulheres que já tenham perdido uma tuba devido a uma gravidez ectópica anterior.
O tratamento medicamentoso requer acompanhamento próximo e vigilância constante, até que a normalização do HCG seja alcançada. Durante esse processo, a ruptura da gravidez também pode ocorrer, portanto, a mulher deve ser orientada sobre os riscos e assinar um termo de consentimento para esse tratamento.
No contexto da mola hidatiforme, informações mais detalhadas podem ser encontradas no manual da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO, 2021). Algumas considerações sobre seu tratamento:
Em resumo, quando uma mulher tem um sangramento e a cavidade uterina aparece vazia na ultrassonografia, é fundamental realizar o HCG quantitativo para determinar o diagnóstico diferencial. Caso a cavidade uterina esteja preenchida, é crucial interpretar as imagens conjuntamente com o quadro clínico para efetuar o diagnóstico adequado e estabelecer o tratamento correto. Desta forma, a mortalidade materna associada a esses casos pode ser reduzida.
Abaixo, a gravação do Encontro na íntegra.
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Como citar
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente. Postagens: Principais Questões sobre Sangramento no Primeiro Trimestre. Rio de Janeiro, 17 set. 2024. Disponível em: <https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-mulher/principais-questoes-sobre-sangramento-no-primeiro-trimestre>.