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Tendências da Mortalidade Materna 2000 – 2023

15 maio 2025

No Dia Mundial da Saúde foi divulgado o relatório da ONU denominado Tendências da Mortalidade Materna, que mostra um declínio global de 40% nas mortes maternas entre 2000 e 2023 – em grande parte devido à melhoria do acesso a serviços essenciais de saúde. O relatório também revela que o ritmo de melhora diminuiu significativamente e os principais pontos são resumidos abaixo.

 

Acesse o documento na íntegra e abaixo um resumo
Trends in Maternal Mortality 2000-2023: Estimates by WHO, UNICEF, UNFPA, World Bank Group and UNDESA/Population Division [EN/AR/RU/ZH]

 

Os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) entraram em vigor em janeiro de 2016, com vigência até dezembro de 2030. Dos 17 ODS, as metas relacionadas à saúde estão concentradas no ODS 3: Garantir vidas saudáveis ​​e promover o bem-estar para todos, em todas as idades. Uma de suas principais metas é a meta 3.1, que estabelece: : “Até 2030, reduzir a taxa global de mortalidade materna [TMM] para menos de 70 por 100.000 nascidos vivos”.

Globalmente, estima-se que 260.000 mulheres morreram em decorrência de causas maternas em 2023, o equivalente a mais de 700 mortes maternas todos os dias. Embora esse número seja significativamente menor do que em 2000 (aproximadamente 443.000 mortes maternas), os avanços estão aquém do necessário para o alcance das metas estabelecidas.

O Grupo Interinstitucional das Nações Unidas para Estimativas da Mortalidade Materna (MMEIG) – composto pela OMS, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA), o Grupo Banco Mundial e o Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas, Divisão de População (UNDESA/Divisão de População) – colaborou com especialistas técnicos para desenvolver esta nova rodada de estimativas de mortalidade materna em nível global, regional e nacional para o período de 2000 a 2023, que substitui todas as estimativas publicadas anteriormente para os anos que se enquadram no mesmo período. Este relatório apresenta estimativas e tendências internacionalmente comparáveis ​​em nível global, regional e nacional para a mortalidade materna entre 2000 e 2023. Um total de 195 países e territórios foram incluídos na análise. A taxa média anual de redução (TRM) na TMM global de 2000 a 2023 foi de 2,2% o que significa que, em média, a TMM global declinou 2,2% a cada ano entre 2000 e 2023, embora o progresso tenha sido irregular durante esse período.

Se mantido esse ritmo atual de redução, projeta-se que, até 2020,a TMM global será reduzida apenas para 177 por 100.000 nascidos vivos, o que ainda é duas vezes e meia maior do que a meta global do ODS de 70. Alcançar a meta 3.1 do ODS até 2030 exigiria atingir uma taxa média de redução anual de (TARM) de 14,8% ao longo dos sete anos restantes para observação (2024-2030).

As tendências globais obscurecem variações consideráveis ​​e grandes desigualdades na sobrevivência materna entre as regiões do mundo e os países dentro dessas regiões. O relatório revela a persistência das desigualdades regionais e entre países. A África Subsaariana, por exemplo, registrou progressos notáveis, sendo uma das três regiões da ONU a apresentar reduções significativas após 2015, junto com Austrália, Nova Zelândia e Ásia Central e Meridional. No entanto, devido às altas taxas de pobreza e conflitos múltiplos, a África Subsaariana ainda concentrou cerca de 70% das mortes maternas globais em 2023. Por outro lado, a mortalidade materna estagnou em cinco regiões após 2015: Norte da África e Ásia Ocidental, Leste e Sudeste Asiático, Oceania (excluindo Austrália e Nova Zelândia), Europa e América do Norte, e América Latina e Caribe.

O relatório também alerta sobre a situação crítica das mulheres gestantes que vivem em contextos de emergência humanitárias, enfrentando alguns dos maiores riscos globais. Quase dois terços das mortes maternas globais ocorrem atualmente em países afetados por fragilidade ou conflito. Para as mulheres nesses cenários, os riscos são maiores: uma menina de 15 anos enfrenta um risco de 1 em 51 de morrer por causas maternas ao longo da vida, em comparação com 1 em 593 em contextos mais estáveis. Os maiores riscos foram registrados no Chade e na República Centro-Africana (1 em 24), seguidos pela Nigéria (1 em 25), Somália (1 em 30) e Afeganistão (1 em 40).

Apesar dos desafios citados, houve avanços no enfrentamento à mortalidade materna. No entanto, a velocidade da redução da TMM permanece insuficiente para atingir a meta global estabelecida até 2030. Os últimos anos trouxeram à tona uma série de fatores externos que afetam a estruturação e a estabilidade dos sistemas de saúde. Crises, incluindo a pandemia de COVID-19, mudanças climáticas, instabilidades econômicas e políticas, e conflitos armados, colocaram algumas populações em maior risco de desfechos adversos para a saúde materna. Embora tenham um impacto direto na saúde da população, essas crises também ameaçam o funcionamento dos sistemas nacionais de saúde e – quando combinadas com determinantes sociais, como normas de gênero e preconceitos raciais – impedem a prestação de serviços de saúde aos mais necessitados.

Nesse contexto, as ações multissetoriais são essenciais para combater as causas da mortalidade materna, e avançar não apenas em direção à meta 3.1 do ODS, mas também os compromissos relacionados ao ODS 3 (saúde e bem-estar), ODS 1 (acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares), ODS 5 (alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas) e ODS 10 (reduzir as desigualdades).

Quase todas as mortes maternas, sejam elas resultantes de causas diretas – como hemorragia obstétrica, distúrbios hipertensivos da gravidez, aborto inseguro – ou causas obstétricas indiretas – como doenças crônicas não transmissíveis) – são preveníveis com intervenções baseadas em evidências que sejam acessíveis, de baixo custo e disponíveis em serviços de saúde de qualidade. No entanto, além das causas biomédicas, também é necessário enfrentar quatro determinantes estruturais da mortalidade materna por meio de ações multissetoriais:

  • Reconhecer e abordar os determinantes sociais, incluindo educação, etnia, gênero, renda e raça, que impedem o acesso e o uso de serviços de Saúde Sexual e Reprodutiva (SSR) pelas mulheres e são fortes preditores da mortalidade e morbidade materna.
 
  • Adotar uma abordagem interseccional forte, na perspectiva de dignidade, direitos humanos e justiça, empoderando as mulheres, reduzindo a desigualdade de gênero e outras formas interseccionais de desigualdade e eliminando a pobreza. Intervenções de saúde materna baseadas na equidade podem ajudar a alcançar a justiça na saúde.
 
  • Assegurar o acesso a cuidados de SSR seguros, de qualidade, respeitosos e acessíveis, incluindo serviços de saúde materna, para para salvaguardar direitos e aumentar a confiança nas instituições e serviços.Sistemas de saúde frágeis, com: (i) número insuficiente de profissionais de saúde adequadamente treinados e competentes; (ii) escassez de suprimentos médicos essenciais; e (iii) falta de responsabilização, podem resultar em cuidados de baixa qualidade.

Fortalecer os sistemas de saúde para aumentar o número de profissionais de saúde bem treinados e bem supervisionados; abordar a escassez de suprimentos médicos essenciais; e melhorar a responsabilização pelos direitos das mulheres e meninas pode ajudar a alcançar a cobertura universal de serviços de saúde materna de alta qualidade para todos.

 
  • Tornar os sistemas de saúde resilientes, capazes de responder às necessidades locais e enfrentar os desafios emergentes. Melhorar as capacidades das unidades de saúde, otimizar a força de trabalho em saúde e financiar de forma sustentável os serviços de saúde podem aumentar a força e a resiliência dos sistemas de saúde a choques e interrupções externas, como mudanças climáticas, conflitos, situações de pós-conflito e desastres, e pandemias – que dificultam o progresso em direção aos objetivos globais de saúde.
 

 

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Como citar

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente. Postagens: Tendências da Mortalidade Materna 2000 – 2023. Rio de Janeiro, 15 mai. 2025. Disponível em: <https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-mulher/tendencias-da-mortalidade-materna-2000-2023>.

 

Tags: Mortalidade Materna