Engajamento do paciente e de familiares na segurança do paciente / Organizadoras Aline Albuquerque, Kalline Eler. – Ponta Grossa – PR: Atena, 2023.
“se o foco na segurança do paciente não começar a incluir o paciente, uma parte valiosa do processo de cuidados de saúde é perdida”.
Os cuidados de saúde rogam por melhorias em prol da segurança dos pacientes. Nessa perspectiva, esforços mundiais têm incentivado a participação do paciente e sua família como parceiros plenos de cuidados em saúde1, 2. Desse modo, promover estratégias que visam o engajamento desses atores deve ser uma constante nos serviços de saúde, devido ao seu impacto positivo nos desfechos assistenciais, no tratamento, na qualidade e segurança do cuidado.
Existe uma variedade terminológica para expressar o engajamento do paciente, tais como participação e envolvimento do paciente. Entretanto, não há uma definição universalmente aceita, nem mesmo das dimensões que as abarcam, ou consenso sobre quais aspectos devem ser abordados em cada conceito. Portanto, é importante destacar que o foco do presente capítulo não é trazer essa diferenciação, mas defender a importância de considerar o paciente como o centro do cuidado, reconhecendo-o como sujeito ativo no seu processo saúde-doença e em contínua interação com os profissionais e organizações de saúde.
O paciente engajado geralmente está empenhado em compreender sobre a sua condição de saúde e o seu papel para beneficiar ativamente o resultado do tratamento. Trata-se de um objetivo importante para o atendimento clínico, educação e planejamento do cuidado de saúde5-7.67Paciente engajado é, portanto, paciente envolvido com seu processo saúde-doença.
O envolvimento do paciente no cuidado pode ser definido como a participação do paciente na tomada de decisão sobre as questões de sua saúde, incluindo participação ativa no planejamento, monitoramento e avaliação dos seus cuidados8. É uma abordagem de parceria não somente com os pacientes, mas também com seus familiares e/ou cuidadores, na concepção, prestação e avaliação de serviços de saúde, de forma que se adapte às suas circunstâncias e experiências vividas9. Para Carman et al10, o envolvimento do paciente representa um continuum que abarca desde a consulta até a parceria e liderança compartilhada, em diferentes níveis, considerando, ainda, múltiplos fatores, tais como o comportamento individual de saúde e as interações durante a jornada de cuidado. Esse continuum atinge a governança organizacional e a formulação de políticas.
No contexto da segurança do paciente o significado do envolvimento do paciente, na percepção de profissionais de saúde, traz associação com a corresponsabilização do paciente11. Para esse processo, é necessário que o paciente entenda que é protagonista do seu processo saúde-doença e precisa ser um sujeito ativo e autônomo.
A importância desse envolvimento na segurança do cuidado, no contexto da atenção primária à saúde, está em promover o comprometimento do paciente com a execução das orientações recebidas e pactuadas, por favorecer o entendimento do seu processo saúde-doença e, consequentemente, poder gerenciar os possíveis riscos envolvidos à sua situação de saúde11. Na atenção hospitalar, a importância atribuída ao envolvimento do paciente na segurança do cuidado de saúde está associada ao desenvolvimento da autonomia do paciente, a qual traz benefícios para a transição de cuidado, especialmente após a alta hospitalar, favorecendo a continuidade e avaliação do processo terapêutico. Fornecer orientações sobre os procedimentos a serem realizados é considerado parte desse processo, incluindo conhecer os riscos de sofrer algum incidente.
É certo que o envolvimento do paciente na segurança do cuidado possui teor mais dinâmico do que linear, considerando as influências e exposições durante a sua jornada1.
As interações clínicas e/ou experiências anteriores, a exposição prévia a algum incidente1, a interação estabelecida entre paciente-profissional, a capacidade do paciente para se envolver, o uso de ferramentas para o gerenciamento do cuidado11, dentre outros fatores podem influenciar positivamente ou não no interesse do paciente em se engajar no cuidado. Sobremaneira devemos abordar o diálogo e a avaliação do envolvimento do paciente na segurança do cuidado, em busca de incentivar e possibilitar um ambiente que favoreça essa participação. E, dada sua natureza potencialmente dinâmica, isso deve acontecer com uma regularidade semelhante à aferição de um sinal vital.
No Brasil, a Portaria MS/GM n° 529/2013 define como um dos objetivos do Programa Nacional de Segurança do Paciente, o envolvimento dos pacientes e dos familiares no processo12. O Plano de ação global para a segurança do paciente, proposto para os anos de 2021 a 2023, também insere a participação do paciente no cuidado como uma das estratégias e objetivos para reduzir a ocorrência de incidentes de segurança do paciente2. Portanto, é um caminho necessário e que precisa estar na agenda de prioridade das instituições de saúde. Conhecer as estratégias que favorecem a participação do paciente na segurança do cuidado pode ampliar a transferência e incorporação dessa prática no processo de trabalho dos profissionais de saúde. Importante reconhecer também a necessidade de suporte organizacional, sendo, este, premissa para a orientação de práticas que engajam o paciente no cuidado.