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Metodologia Canguru. Quando a vida começa diferente: o bebê e sua família na UTI neonatal

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LAMY, Zeni Carvalho; MOREIRA, Maria Elizabeth Lopes (org.), BRAGA, Maria Cristina de Almeida (org.) et al. Metodologia Canguru. Quando a vida começa diferente: o bebê e sua família na UTI neonatal. Rio de Janeiro: Editora FIO CRUZ, 2003. Criança, Mulher e Saúde collection. 192 p.

Prefácio
Durante a gestação, é comum uma mãe imaginar como será seu bebê ao nascer: ‘será que terá os olhos do papai? O nariz da vovó’? Este é o chamado ‘bebê imaginário’ ou idealizado. Embora alguns ‘pensamentos ruins’ passem pelas cabeças das gestantes, todas elas sonham dar à luz a um bebê sadio e bonito. Nesse contexto, o nascimento de um bebê doente ou prematuro é um evento de proporções catastróficas, cujo impacto faz-se sentir não só na vida dos pais, como também em todo seio familiar. E o impacto é tão maior quanto mais distante for o bebê real do imaginado pela mãe. Ao vivenciar uma situação assim, nova e aterrorizante, os pais passam por diversas fases, que vão da negação à aceitação. Um forte sentimento de culpa permeia todas elas: ‘será que foi o remédio que deixei de tomar’? ‘Ou o esforço que fiz’? Na verdade, os pais querem uma explicação plausível para o acontecimento que virou suas vidas de pernas para o ar. Os bebês doentes e os prematuros são chamados, por nós médicos, de recém-nascidos de risco, e precisam de cuidados especiais. Devido à sua condição clínica, eles não poderiam permanecer em um berçário, sendo transferidos para uma Unidade de Terapia Intensiva, por nós denominada UTI Neonatal. A UTI Neonatal é um ambiente de alta complexidade tecnológica, cheio de aparelhos sofisticados e um batalhão de profissionais que inclui, entre outros, médicos, enfermeiras, auxiliares e fisioterapeutas. Pelas suas 10 próprias características, este é, sem dúvida, um ambiente gerador de estresse. Dentro desse cenário, é possível entender o grau de ansiedade e medo vivenciado pelos pais. Ansiedade e medo pelo fato de subitamente fazerem parte de um universo totalmente novo e desconhecido. Aparelhos que eles nunca puderam imaginar e uma terminologia absolutamente desconhecida e incompreensível. Imagine um diálogo travado entre a mãe e a enfermeira… Mãe: Por favor, eu gostaria de saber como o meu filhinho passou a noite? Enfermeira: Durante a noite ele apresentou alguns episódios de apnéia seguidos de bradicardia. Nós achamos que isso possa estar relacionado à presença de refluxo gastro-esofágico, razão pela qual iniciamos aminofilina endovenosa, administramos a dieta por gastróclise e iniciamos Motilium. As informações técnicas fornecidas pela enfermeira em nada ajudarão a mãe. Muito pelo contrário: acrescentarão mais dúvidas às que ela já tinha. A comunicação inadequada com a equipe profissional é, sem dúvida, uma das maiores causadoras da sensação de impotência, frustração, irritação e ansiedade vivenciada por pais cujos filhos encontram-se internados em uma UTI Neonatal. Visando a minimizar sensações adversas e familiarizar os parentes mais próximos com este ambiente inteiramente novo, a Fundação Oswaldo Cruz está lançando este livro. Sua beleza reside no fato de não ter sido ele escrito por médicos para os pais: foi escrito não só por profissionais – de diversas categorias – que lidam com o recém-nascido de risco, como também por aqueles que sentiram na própria pele a experiência de ter um filho ou parente internado em uma UTI Neonatal. Os artigos e depoimentos de experiência descritos por mães e avós dão um toque de realidade vivida, não apenas aprendida nos bancos das escolas médicas. É isso que faz deste livro um instrumento de grande ajuda para que os pais de recém-nascidos de risco possam se sentir mais confiantes e serenos durante a internação de seus bebês em uma UTI. Gostaria de terminar citando um texto de Roberto DaMatta (1991), que traduz bem o espírito deste livro: 11 Creio poder encaminhar o leitor-visita para dentro desta casa. Que ele entre nos quartos e percorra os corredores. Que visite as varandas e veja a paisagem de alguma janela. Que fique realmente à vontade e possa sentar-se em alguma boa e confortável poltrona. Ao seu lado estarei sempre atento com um cafezinho, uma água gelada, um refrigerante, uma explicação. Mas como a casa é minha tenho meus limites e meus segredos. Há coisas que não posso ver e há momentos desamparo e de insegurança criados pela própria arquitetura da casa. Mas pode estar certo o meu leitor-visita que fiz o que pude e tentei até mesmo lhe indicar o caminho do quintal e da cozinha (…) Fique à vontade… Manoel de Carvalho Médico neonatologista, doutor em Ciências e professor titular do Programa de Pós Graduação em Saúde da Criança e da Mulher – Instituto Fernandes Figueira/Fundação Oswaldo Cruz (IFF/Fiocruz)

Disponível em:
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