Sistematizamos as principais questões abordadas durante Encontro com o Especialista Marcio Nehab, pediatra infectologista do IFF/Fiocruz.
Perguntas & Respostas
1. As crianças que não tem comorbidades são as que menos adoecem com COVID-19? Por que?
A frequência para infecção das crianças que possuem doenças crônicas/comorbidades ou não, é a mesma. O que pode diferir é sua severidade. Antes da Covid-19, isso já acontecia. Aqueles que possuem condições crônicas e complexas, normalmente, apresentam quadros com uma severidade maior do que crianças que não tem outras doenças.
2. Já existem dados específicos sobre transmissão de COVID-19 com mães que amamentam após o puerpério tardio?
Existem dados sobre a importância da amamentação no período imediato após o nascimento e no puerpério. As evidências ainda são poucas e recomendam que a amamentação deve ser estabelecida e tomadas as devidas precauções de segurança, como uso de máscaras e lavagens das mãos e cuidados em relação ao recém-nascido.
3. Existe alguma prevenção para síndrome multissistêmica decorrente da COVID-19 em crianças?
A forma de prevenção seria não contrair COVID-19. Nesse sentido o distanciamento social é uma das ações mais importantes. As chances de desenvolver a síndrome multissistêmica associada à COVID-19 são muito reduzidas com o isolamento.
4. A síndrome inflamatória multissistêmica é sempre tardia?
“Sempre” e “nunca” são conceitos muito delicados ao retratar uma doença nova. Pelos casos descritos ao redor do mundo, pode-se dizer que ela pode ocorrer normalmente de 3 a 4 semanas antes da infecção inicial. A grande questão é que crianças podem ter infecção de forma assintomática no início e evoluir rapidamente para choque ou outros casos gravíssimos relacionados à forma tardia
5. Quais os cuidados primordiais em crianças em relação à COVID-19?
Os cuidados primordiais em crianças com COVID-19 são os mesmos cuidados que devem ser oferecidos às crianças com outros tipos de doenças respiratórias, como influenza e vírus sincicial respiratório. São eles: ter sempre atenção ao estado geral da criança, a aceitação da ingesta hídrica e de alimentos (em crianças menores, o aleitamento materno ou fórmulas), se existe queda do nível de atenção ou da interação da criança. Crianças pequenas em quadro mais graves costumam dar mais sinais que adultos.
6. Crianças e adolescentes que já possuem complicações no sistema imune são mais propensas às complicações da COVID-19?
Sim, estas crianças são mais propensas mas não são as únicas. Crianças com condições congênitas ou adquiridas, como as que tem câncer e recebem quimioterapia, apresentam chances de evoluir de forma desfavorável.
Ainda assim, a maioria dos trabalhos publicados até o momento mostram que mesmo as crianças com condições crônicas de saúde não tem a mesma proporção de complicações quando comparadas aos adultos e idosos com comorbidades que contraem COVID-19.
7. Uma criança de 2 anos portadora da Síndrome de Treacher Collins com traqueostomia e gastrostomia que contraiu COVID-19 e se recuperou sem remédio, pode pegar novamente e ter piora?
Ainda não se sabe se é possível a reinfecção por COVID-19. O que se acredita é que, em curto prazo, a reinfecção é muito pouco provável.
Por outro lado, quando se traça uma analogia com os outros tipos de coronavírus, a reinfecção pode ser possível. Mas sobre a COVID-19 ainda não se tem uma resposta ou evidências suficientes para fazer esta afirmação.
Vale lembrar que mesmo que a pessoa (criança ou adulto) já tenha tido COVID-19, é importante que ela siga com medidas de segurança, fazendo o uso de máscaras, distanciamento social, lavagem das mãos, etc.
8. Sobre as consequências indiretas do Coronavírus no atraso vacinal, o que está recomendado? Muda alguma coisa?
Não muda nada. As crianças devem continuar se vacinando e manter seu cartão vacinal em dia. Seus pais e responsáveis não devem deixar de levá-los à Unidade de Saúde para vacinação por medo ou receio, porque isso gera mais um grande problema, como surtos de outras doenças.
É importantíssimo que o cartão vacinal da criança esteja totalmente de acordo com que o determina o Programa Nacional de Imunizações. Vale lembrar que, em crianças com infecção presente de COVID, é recomendável que se espere a infecção passar para então vacinar.
9. Pedir sorologia para COVID-19, por curiosidade dos pais, ajuda ou complica a vida da criança?
No momento não existe um teste para COVID-19 totalmente adequado, como por exemplo os de HIV. Ainda não existe um exame que possa dizer se a criança teve ou não de forma geral e confiável, com uma boa reprodutibilidade, sensibilidade e especificidade.
Vale lembrar que, ainda que a criança tenha tido COVID-19, ela não deve tomar riscos para si e para os outros, ou seja, deve continuar seguindo todas as medidas de segurança.
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