Sistematizamos as principais questões abordadas durante Encontro com a Especialista Maria Dolores Salgado Quintans, médica neonatologista e professora do Departamento Materno Infantil da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF), realizado em 16/01/2019 e denominado “Atualidades sobre Chikungunya Congênita”.
Conceito histórico
Dois genótipos em território brasileiro
Manifestações clínicas gerais da Febre Chikungunya
A Chikungunya e a transmissão materno fetal
Manifestações no recém-nascido
Materiais de apoio e diagnóstico
Recomendações ao recém-nascido
Abaixo a gravação do Encontro na íntegra.
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Perguntas & Respostas
1. O momento da infecção na gestação impacta diferentes quadros clínicos no feto e no recém-nascido?
É extremamente importante a gente falar sobre o momento que ela se infecta. Se essa mulher se infecta até a 20ª semana de gestação o maior impacto é a morte fetal. Apesar de raros, existem relatos de abortamento espontâneo em gestantes infectadas antes de 20 semanas. Após 20 semanas aumenta o risco de nascimento prematuro (3-9%). Quando a infecção é no período periparto e intraparto podemos observar as principais repercussões clínicas no bebê.
2. Durante o período de internação do bebê para observação devemos fazer algum exame?
Se temos uma mãe que apresentou viremia no período periparto e intraparto, seu bebê deve, obrigatoriamente, ficar internado por 5-7 dias em uma unidade neonatal para acompanhamento das manifestações clínicas e também acompanhamento da evolução laboratorial. A indicação desses exames vem dos estudos clínicos que citamos aqui e a sugestão dada é a monitorização de alterações hematológicas durante esse período em que ele permanece assintomático (entre 3-7 dias de vida): dosagem de plaquetas, contagem de leucócitos e avaliação de linfócitos. Um hemograma seria suficiente para avaliar esses bebês sobre risco de chikungunya congênita.
3. Existe contraindicação para o aleitamento materno quando a mãe tem infecção?
Não há correlações entre o aleitamento materno e a transmissão. Não há evidências da presença do vírus Chikungunya no leite materno e não existe qualquer contraindicação ao aleitamento materno.
4. Você falou que recém-nascidos sintomáticos podem apresentar maior risco de complicações, devo acompanhar esse recém-nascido após a alta hospitalar?
Sim, quando temos uma criança sintomática no período neonatal a recomendação é manter o acompanhamento após a alta hospitalar. Estudos apontam que cerca de 50% dos bebês sintomáticos no período neonatal irão apresentar manifestações tardias e sequelas dos sintomas apresentados no período neonatal, especialmente as crianças que desenvolveram meningoencefalite. Nestes casos, um marcador forte é a presença de convulsão no período neonatal e nestes casos é necessário avaliar o líquor pois frequentemente crianças com diagnóstico de meningoencefalite positivam o PCR para chikungunya na avaliação do líquor na fase aguda da doença. Outro exame recomendado no período neonatal e após a alta, no seguimento do recém-nascido, é a ressonância nuclear magnética cerebral,que pode ser feita na fase aguda (até 14 dias após início do quadro ), na fase sub-aguda (15 e 45 dias de vida) e após 3 meses, quando já se podem observar as lesões residuais do processo inflamatório perivascular. O seguimento desses bebês deve observar se essa criança adquiriu algum déficit neurológico, cognitivo. Avaliar o desenvolvimento motor, o início da fala, o comportamento adaptativo e o perímetro encefálico. Crianças que tiveram meningoencefalite nasceram assintomáticas, com perímetro encefálico normal e podem evoluir com diminuição na velocidade de crescimento cerebral e evoluir para microcefalia. Apesar de raro, temos eventos de grande impacto, com com relato de paralisia cerebral a partir de um caso inicial de meningoencefalite.
5. Se a criança não apresentou sintomas no período neonatal, ela pode desenvolver complicações tardias da doença?
Não, essas complicações tardias estão associadas com a manifestação congênita dessa doença no período neonatal.
6. Qual deve ser a conduta frente um recém-nascido assintomático cuja a mãe teve chikungunya confirmada?
Não há uma resposta protocolar. A gente sabe que a infecção na gestante pode repercutir no bebê, mas essa repercussão está ligada mais ao período periparto/intraparto. Se esse bebê não teve manifestações clínicas nesses primeiros 7 dias de vida, devemos continuar acompanhando, especialmente o desenvolvimento motor e cognitivo, possível comprometimento auditivo com repercussões na fala mesmo que não haja manifestação no período neonatal.
7. Quais os órgãos mais acometidos na chikungunya neonatal?
A doença pode comprometer vários órgãos, sem destaques. Temos a pele, coração, o sistema nervoso central, os rins, o fígado, e na parte hematológica está comprometida (coagulação intravascular disseminada). As crianças que evoluíram em formas graves da doença internadas em unidade de terapia intensiva nesses surtos, muitas delas precisaram de ventilação mecânica, corticoterapia, reposição de plaqueta, algumas precisaram de suporte hemodinâmico com amina vasoativa, alimentação por sonda por intolerância gastrointestinal. A doença atinge vários órgãos, mas o que leva a mais lesões a longo prazo é o acometimento do sistema nervoso central.
8. Quando confirmar casos de chikungunya congênita?
Através de PCR para vírus chicungunya até o 5-8 dia de vida e depois desse período fazer sorologia com dosagem de IgG e IgM específicas.
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