Sistematizamos as principais questões abordadas durante Encontro com Especialistas Sérgio Marba, médico neonatologista do Hospital da Mulher Caism/Unicamp, professor do Departamento de Pediatria da FCM/Unicamp, consultor neonatal e do Método Canguru/MS e membro do Grupo Executivo do Programa de Reanimação Neonatal (PRN/SBP); Mônica Aparecida Pessoto, médica neonatologista do Hospital da Mulher Caism/Unicamp, professora do Departamento de Pediatria da FCM/Unicamp e consultora do Método Canguru/MS; Albertina Rego, médica neonatologista, professora da UFMG e coordenadora do grupo de políticas públicas em neonatologia da SBP; Adriana Gomes Luz, médica obstetra do Hospital da Mulher Caism/Unicamp e docente do Departamento de Tocoginecologia da FCM/Unicamp; Maria Magda Balieiro Gomes, diretora da Comissão de Assistência da SOBEP e professora da Escola Paulista de Enfermagem da Unifesp, transmitido no dia 23/02/2023.
Proporcionar a melhor condição de nascimento para prevenir a morbimortalidade neonatal corresponde ao cuidado integral do RN e sua família, numa perspectiva multidisciplinar, desde o planejamento da gestação, ao pré-natal e assistência ao parto, nascimento e puerpério.
Os fundamentos científicos apontam que a saúde da criança começa muito antes do nascimento, com fatores pré-natais influenciando diretamente as oportunidades de vida. Os primeiros minutos de vida são cruciais e cada período crítico do desenvolvimento infantil é fundamental. O planejamento da gestação, com nutrição e cuidados de saúde nos primeiros mil dias de vida são essenciais para garantir o melhor começo de vida para a criança. Embora a genética seja importante, o ambiente e os comportamentos dos pais também desempenham um papel significativo no desenvolvimento infantil. Além disso, o cuidado neonatal adequado, como o estímulo ao aleitamento materno e o tratamento de infecções, é fundamental para o desenvolvimento saudável do bebê.
A assistência perinatal desempenha um papel crítico na melhoria dos resultados para mães e crianças, como no caso de pré-eclâmpsia. A formação de redes perinatais, que integram diferentes níveis de cuidados, é essencial para garantir uma estrutura de apoio abrangente para a saúde neonatal. A ênfase em estratégias pré-natais, reconhecendo que o ambiente e os cuidados maternos desde a pré-concepção são determinantes para as oportunidades de vida da criança, destaca a importância de um cuidado integrado e precoce.
Crianças com a mesma idade gestacional podem ter diferentes prognósticos devido a fatores como genética, epigenética, nutrição materna e função placentária. A expressão gênica das crianças já pode estar alterada devido ao ambiente intrauterino, influenciada pela nutrição durante a gravidez, doenças maternas e uso de esteróides, conforme descrito na teoria da programação fetal. Além disso, o amadurecimento de órgãos como o pulmão e o cérebro pode ser afetado tanto antes quanto depois do nascimento, reforçando a importância do leite materno e do tratamento adequado de infecções.
A atenção perinatal deve ser prestada no momento certo, no local certo, com custo e qualidade adequados, garantindo segurança e responsabilidade sanitária e econômica para a população de crianças e pessoas que gestam. A pirâmide de cuidados perinatais segue uma lógica de promoção da saúde (nível 1), prevenção e enfrentamento de condições de saúde (nível 2), até a gestão de casos complexos (nível 3), como gestações de alto risco e prematuridade extrema. A integração da rede de atenção perinatal com a população e os serviços de atenção primária é fundamental para garantir uma assistência abrangente e eficaz.
Para garantir assistência integral e de qualidade para pessoas que gestam e recém nascidos, visando reduzir a mortalidade materna e neonatal e a melhoria dos cuidados em saúde materna-fetal-neonatal, algumas diretrizes devem ser seguidas:
É essencial conhecer a população atendida e os dados da maternidade para garantir a qualidade dos cuidados perinatais. A organização em rede de todos os pontos de atenção, com decomposição dos processos, permite uma abordagem abrangente e competente na prestação de cuidados à saúde infantil. A agenda de cuidados da saúde da criança é complexa e requer mais do que orientações isoladas para as mães.
Mortalidade Neonatal
Apesar de ter diminuído nos últimos anos, a mortalidade neonatal ainda coloca o Brasil atrás dos países desenvolvidos. Dados da Organização Mundial da Saúde mostram que a mortalidade infantil na América Latina e Caribe segue uma tendência de queda, mas o ritmo ainda não é suficiente para alcançar os índices dos países desenvolvidos antes de 2043. A viabilidade dos prematuros também varia entre países desenvolvidos e o Brasil, com diferenças significativas na sobrevida de recém-nascidos muito prematuros.
A mortalidade neonatal no Brasil é impactada por diversos fatores, incluindo a falta de integração entre os serviços de saúde e a dificuldade de implementação de práticas conhecidas, como planejamento reprodutivo e educação para a saúde. Mesmo com o conhecimento teórico sobre prevenção e tratamento de complicações, a prática ainda enfrenta desafios significativos. As principais causas de mortalidade neonatal no Brasil são a prematuridade e as anomalias congênitas, com variações regionais significativas.
Prematuridade
A prematuridade, embora não seja uma doença em si, representa um desafio significativo para a saúde neonatal devido à sua complexidade clínica e à multiplicidade de fatores envolvidos. É dividida em diferentes fenótipos, com causas e prognósticos variados, necessitando abordagens específicas.
A prematuridade e a proporcionalidade entre peso e idade gestacional são aspectos críticos no cuidado neonatal. A classificação de recém-nascidos como pequenos, grandes ou adequados para a idade gestacional não necessariamente indica restrição de crescimento intrauterino (RCIU), pois essa avaliação precisa considerar o histórico obstétrico. A vida fetal é fundamental para entender e manejar adequadamente esses bebês, especialmente os prematuros e pequenos para a idade gestacional.
A implementação do Método Canguru em todas as maternidades é defendida como uma prática essencial para o cuidado neonatal, promovendo a participação ativa da mãe e da família e a criação de um ambiente adequado para o bebê. Este método deve ser integrado em uma abordagem multidisciplinar que envolva pediatria, obstetrícia, enfermagem, e outras especialidades.
Cuidados ao Nascimento
Os cuidados ao nascimento envolvem:
A equipe de enfermagem é imprescindível no pré-natal e no pós-parto para melhoria dos índices de mortalidade neonatal no país. Destacam-se a relevância da educação das famílias sobre os cuidados com o recém-nascido, o plano de parto, o aleitamento materno e o estabelecimento do vínculo afetivo.
Defende-se a importância dos direitos do recém-nascido, como o registro civil e o acesso aos serviços de saúde.
Destaca-se a necessidade de acompanhamento da família e dos profissionais de saúde no crescimento e desenvolvimento da criança, bem como a presença dos pais durante todo o período de internação.
É fundamental o estabelecimento de uma parentalidade positiva, garantindo a presença de afeto e a ausência de violência.
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FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente. Postagens: Principais Questões sobre Cuidados ao Nascimento. Rio de Janeiro, 8 mai. 2025. Disponível em: <https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-recem-nascido/principais-questoes-sobre-cuidados-ao-nascimento/>.