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Principais Questões sobre Cuidados ao Nascimento

9 maio 2025

Sistematizamos as principais questões abordadas durante Encontro com Especialistas Sérgio Marba, médico neonatologista do Hospital  da Mulher Caism/Unicamp, professor do Departamento de Pediatria da  FCM/Unicamp, consultor neonatal e do Método Canguru/MS e membro do Grupo  Executivo do Programa de Reanimação Neonatal (PRN/SBP); Mônica Aparecida  Pessoto, médica neonatologista do Hospital da Mulher Caism/Unicamp,  professora do Departamento de Pediatria da FCM/Unicamp e consultora do  Método Canguru/MS; Albertina Rego, médica neonatologista, professora da  UFMG e coordenadora do grupo de políticas públicas em neonatologia da SBP;  Adriana Gomes Luz, médica obstetra do Hospital da Mulher Caism/Unicamp e  docente do Departamento de Tocoginecologia da FCM/Unicamp; Maria Magda  Balieiro Gomes, diretora da Comissão de Assistência da SOBEP e professora  da Escola Paulista de Enfermagem da Unifesp, transmitido no dia 23/02/2023.

Proporcionar a melhor condição de nascimento para prevenir a morbimortalidade neonatal corresponde ao cuidado integral do RN e sua família, numa perspectiva multidisciplinar, desde o planejamento da gestação, ao pré-natal e assistência ao parto, nascimento e puerpério.

Os fundamentos científicos apontam que a saúde da criança começa muito antes do nascimento, com fatores pré-natais influenciando diretamente as oportunidades de vida. Os primeiros minutos de vida são cruciais e cada período crítico do  desenvolvimento infantil é fundamental. O planejamento da gestação, com nutrição e cuidados de saúde nos primeiros mil dias de vida são essenciais para garantir o melhor começo de vida para a criança.  Embora a genética seja importante, o ambiente e os comportamentos dos pais também desempenham um papel  significativo no desenvolvimento infantil. Além disso, o cuidado neonatal adequado, como o estímulo ao  aleitamento materno e o tratamento de infecções, é fundamental para o  desenvolvimento saudável do bebê.

A assistência perinatal desempenha um papel crítico na melhoria dos resultados para mães e crianças,  como no caso de pré-eclâmpsia. A formação de redes perinatais, que integram  diferentes níveis de cuidados, é essencial para garantir uma estrutura de apoio abrangente para a saúde neonatal. A ênfase em estratégias pré-natais, reconhecendo que o ambiente e os cuidados maternos desde a pré-concepção são determinantes para as oportunidades de vida da criança, destaca a importância de um cuidado  integrado e precoce. 

Crianças com a mesma idade gestacional podem ter  diferentes prognósticos devido a fatores como genética, epigenética, nutrição materna e função placentária. A expressão gênica das crianças já pode estar alterada devido ao ambiente intrauterino, influenciada pela nutrição durante a  gravidez, doenças maternas e uso de esteróides, conforme descrito na teoria da programação fetal. Além disso, o amadurecimento de órgãos como o pulmão e o cérebro pode ser afetado tanto antes quanto depois do nascimento, reforçando a  importância do leite materno e do tratamento adequado de infecções.

A atenção perinatal deve ser prestada no momento certo, no local certo, com custo e qualidade adequados, garantindo segurança e responsabilidade sanitária e econômica para a população de crianças e pessoas que gestam. A pirâmide de cuidados perinatais segue uma lógica de promoção da  saúde (nível 1), prevenção e enfrentamento de condições de saúde (nível 2), até  a gestão de casos complexos (nível 3), como gestações de alto risco e  prematuridade extrema. A integração da rede de atenção perinatal com a  população e os serviços de atenção primária é fundamental para garantir uma  assistência abrangente e eficaz. 

Para garantir assistência integral e de qualidade para pessoas que gestam e recém nascidos, visando reduzir a mortalidade materna e neonatal e a melhoria dos cuidados em saúde materna-fetal-neonatal, algumas diretrizes devem ser seguidas:

  1. Garantir o acesso universal e equitativo ao pré-natal e ao parto de qualidade, de forma humanizada e respeitando a autonomia da mulher e os seus direitos à informação e ao consentimento informado.
  2. Fortalecer a atenção primária à saúde como porta de entrada para o atendimento obstétrico e pré-natal, com a criação de equipes multiprofissionais capacitadas para atender às necessidades da pessoa que gesta e do recém-nascido.
  3. Estimular a realização precoce do pré-natal, idealmente no primeiro trimestre da gestação, com a oferta de exames e consultas adequados para o diagnóstico e tratamento de condições clínicas e obstétricas que possam afetar a saúde da mãe e do bebê.
  4. Promover ações de educação em saúde para a pessoa que gesta e sua família, com informações sobre os cuidados necessários durante a gestação, o parto e o puerpério, além de orientações sobre aleitamento materno, cuidados com o recém-nascido e planejamento reprodutivo.
  5. Incentivar a realização do parto normal, respeitando a escolha da mulher e garantindo o acesso à analgesia de parto e, apenas nos casos em que houver indicação clínica, às intervenções obstétricas que sejam necessárias, como a episiotomia e a cesariana.
    É de extrema importância também incentivar a elaboração de um plano  de parto, promovendo o diálogo entre obstetra e pessoa que gesta para orientá-la sobre as etapas do parto, recursos disponíveis e formas de lidar com medos, visando  reduzir as taxas de cesárea elevadas no Brasil. O protagonismo da  mulher no processo também deve ser valorizado e discutido. 
  6. Estabelecer protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas baseados em evidências científicas para o atendimento obstétrico e pré-natal, com o objetivo de padronizar a assistência e garantir a segurança da pessoa que gesta e do recém-nascido.
  7. Implementar sistemas de monitoramento e avaliação da qualidade do atendimento obstétrico e pré-natal, com indicadores que permitam a identificação de falhas e a adoção de medidas para a melhoria contínua da assistência.

É essencial conhecer a população atendida e os dados da maternidade para garantir a qualidade dos cuidados perinatais. A  organização em rede de todos os pontos de atenção, com decomposição dos  processos, permite uma abordagem abrangente e competente na prestação de cuidados à saúde infantil. A agenda de cuidados da saúde da criança é complexa  e requer mais do que orientações isoladas para as mães. 

 

Mortalidade Neonatal

Apesar de  ter diminuído nos últimos anos, a mortalidade neonatal ainda coloca o Brasil atrás dos países desenvolvidos. Dados da Organização Mundial da Saúde mostram que a mortalidade infantil na América Latina e Caribe segue uma tendência de queda,  mas o ritmo ainda não é suficiente para alcançar os índices dos países desenvolvidos antes de 2043. A viabilidade dos  prematuros também varia entre países desenvolvidos e o Brasil, com diferenças  significativas na sobrevida de recém-nascidos muito prematuros. 

A mortalidade neonatal no Brasil é impactada por diversos fatores,  incluindo a falta de integração entre os serviços de saúde e a dificuldade de  implementação de práticas conhecidas, como planejamento reprodutivo e educação  para a saúde. Mesmo com o conhecimento teórico sobre prevenção e tratamento  de complicações, a prática ainda enfrenta desafios significativos. As principais causas de mortalidade neonatal no Brasil são a prematuridade e as anomalias congênitas, com variações regionais  significativas.

 

Prematuridade

A prematuridade, embora não seja uma doença em si, representa um desafio significativo para a saúde neonatal devido à sua complexidade clínica e à multiplicidade de fatores envolvidos. É dividida em diferentes fenótipos, com causas e prognósticos variados, necessitando abordagens específicas.

A prematuridade e a proporcionalidade entre peso e idade gestacional  são aspectos críticos no cuidado neonatal. A classificação de recém-nascidos como pequenos, grandes ou adequados para a idade gestacional não necessariamente indica restrição de crescimento intrauterino (RCIU), pois essa  avaliação precisa considerar o histórico obstétrico. A vida fetal é fundamental para entender e manejar adequadamente esses bebês, especialmente os  prematuros e pequenos para a idade gestacional.

A implementação do Método Canguru em todas as maternidades é defendida como uma prática essencial para o cuidado neonatal, promovendo a  participação ativa da mãe e da família e a criação de um ambiente adequado para o bebê. Este método deve ser integrado em uma  abordagem multidisciplinar que envolva pediatria, obstetrícia, enfermagem, e  outras especialidades. 

 

Cuidados ao Nascimento

Os cuidados ao nascimento envolvem:

  • uma perspectiva de atenção global ao recém-nascido e sua família, desde a organização da rede de atenção, até o treinamento equipes envolvidas no atendimento ao parto e nascimento e aspectos da segurança do paciente para um nascimento seguro;
  • pré-natal e assistência ao parto com vistas à redução da morbimortalidade materna e neonatal;
  • consulta do pediatra durante o pré-natal;
  • contato pele a pele por pelo menos uma hora, para manter a normotermia, iniciar o estabelecimento da lactação, favorecer o aleitamento materno, prevenir o desmame precoce, e fortalecer o vínculo mãe-filho;
  • clampeamento oportuno do cordão umbilical;
  • atualização e treinamento acerca da reanimação neonatal; 
  • atualização em situações especiais ao nascimento.

A equipe de enfermagem é imprescindível no pré-natal e no pós-parto para melhoria dos índices de mortalidade neonatal no  país. Destacam-se a relevância da educação das famílias sobre os cuidados com  o recém-nascido, o plano de parto, o aleitamento materno e o estabelecimento do  vínculo afetivo.

Defende-se a  importância dos direitos do recém-nascido, como o registro civil e o acesso aos serviços de saúde.

Destaca-se a necessidade de acompanhamento da família e dos profissionais de saúde no crescimento e desenvolvimento da criança, bem  como a presença dos pais durante todo o período de internação.

É fundamental o estabelecimento de uma parentalidade positiva,  garantindo a presença de afeto e a ausência de violência

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Perguntas & Respostas
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Como citar

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente. Postagens: Principais Questões sobre Cuidados ao Nascimento. Rio de Janeiro, 8 mai. 2025. Disponível em: <https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-recem-nascido/principais-questoes-sobre-cuidados-ao-nascimento/>.

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