Principais Questões sobre Cuidados com o recém-nascido com Hidrocefalia
18 mar 2025
Sistematizamos as principais questões abordadas no dia 20/10/2022 durante Encontro comos Especialistas Enrico Ghizoni, neurocirurgião da Universidade Estadual de Campinas(Unicamp); Suelen Mara Silva Fabene e Jaqueline Lehn Sebold, enfermeiras neonatologistasdo Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pionotti – Centro de Atenção Integral àSaúde da Mulher (Caism/Unicamp); e Ritta Braz, médica neonatologista do IFF/Fiocruz.
A hidrocefalia é uma distensão ativa do sistema ventricular resultante de uma passagem inadequada do líquido cefalorraquidiano do seu ponto de produção nos ventrículos cerebrais até seu ponto de absorção na circulação sistêmica. Trata-se de algo dinâmico e progressivo, que deve ser tratado para que não gere problemas na criança.
O líquido cefalorraquidiano é produzido no plexo coróide dentro do ventrículo, circula no espaço subaracnóideo para depois ser absorvido pelo seio sagital. Qualquer obstrução nesse sistema leva ao acúmulo de líquido. O recém-nascido (RN) tem pouca capacidade de armazenamento e tem uma produção constante, logo, se ele tiver acúmulo apresentará sinais e sintomas. E como não é possível medir a quantidade de líquido, o RN recebe o diagnóstico através de um exame de imagem (ultrassonografia obstétrica ou pós natal).
Apresentação Clínica:
Crânio globóide;
Fontanela abaulada pulsátil;
Suturas separadas;
Veias do escalpo dilatadas;
Aumento do perímetro cefálico;
Apnéia;
Bradicardia;
Acredita-se que, o recém-nascido por ter suturas e fontanelas abertas, suporta uma pressão intracraniana maior, porém esse aumento ocorre de forma muito rápida e gera muito mais riscos a essa criança.
Classificações: A hidrocefalia pode ser classificada em adquirida ou congênita, sindrômica ou não sindrômica, comunicante ou obstrutiva.
Os prematuros apresentam hemorragia da matriz germinativa, malformações do Sistema Nervoso Central (SNC) e infecções congênitas. Já os demais recém-nascidos apresentam tumores, infecções no SNC, mielomeningocele, malformações no SNC e estenose de aqueduto,como causas mais comuns na UTI neonatal. E uma vez que há suspeita de uma hemorragia na prematuridade, infecção, hidrocefalia, é necessário analisar se o tratamento será definitivo ou uma medida temporária.
Tratamento: Medidas temporizadoras – medidas usadas durante um período para posteriormente realizar o tratamento definitivo. Elas são aplicadas quando o RN apresenta infecção, por exemplo a meningite; hemorragia ventricular – HPIV; baixo peso <2000g.
Procedimentos temporizadores:
Derivação Ventricular Externa (DVE) – Trata-se da inserção de um cateter dentro do ventrículo que irá drenar o líquido constantemente e de forma contínua e esse líquido será armazenado na bolsa coletora;
Derivação ventrículo subgaleal – Trata-se da inserção de um cateter e uma bolsa no espaço subgaleal (embaixo da pele). Apesar desse método ter a desvantagem de ocasionar uma infecção, é possível aguardar de 15 a 30 dias para o RN ganhar peso , e então realizar o tratamento definitivo;
Reservatório de Omaya – Trata-se da inserção de um cateter no ventrículo e o reservatório também se localiza embaixo da pele, sua desvantagem é a infecção.
Tratamentos definitivos
Derivações Ventriculares:
Peritoneal – cateter implantado na cavidade peritoneal, onde o líquido será absorvido pela camada das alças intestinais, chegará na circulação venosa, passa para a arterial e é eliminado na urina;
Atrial
Pleura/ Vesícula / Seio Sagital
Complicações:
Mecânicas – taxa de 40 a 50%;
Infecciosas – taxa de 7 a 10% – Para evitar os problemas infecciosos, é necessário que protocolos sejam seguidos rigorosamente, contendo algumas medidas extremamente importantes: ser a primeira a ser realizada no dia; usar antibiótico; vedar a entrada de outros profissionais durante a cirurgia;
Ferida – perfil do material.
Planejamento do cuidado de enfermagem
A maior parte do tratamento da hidrocefalia é através da colocação da válvula, apesar de ter algumas complicações mecânicas, funcionais ou até mesmo infecciosas. E para reduzi-las, primeiramente, é necessário ter uma assistência de enfermagem bem estruturada e uma equipe multidisciplinar com conhecimento técnico científico para dar uma assistência efetiva integral e humanizada para essa criança.
A equipe de enfermagem, de acordo com a North American Nursing Diagnosis Association (NANDA) 2021 – 2023, diagnostica a criança no período da internação, tendo como alguns diagnósticos:
Risco desequilíbrio eletrolítico relacionado ao volume de líquidos insuficiente/excessivo;
Risco de choque relacionado a sangramentos e perdas não hemorrágicas de líquidos;
Dor aguda relacionada a agente físico lesivo, evidenciado por expressão facial de dor;
Risco de integridade de pele prejudicada relacionado à forças de cisalhamento, pressão sobre saliência óssea e conhecimento inadequado do cuidador sobre a manutenção da integridade tecidual;
Risco de infecção relacionada à procedimentos invasivos;
Risco de lesão por pressão neonatal relacionado a desequilíbrio eletrolítico e mobilidade física diminuída
Risco de vínculo prejudicado relacionado a ansiedade e doença da criança que impede o início eficaz do contato com pai/mãe.
Assistência de enfermagem
Cuidado individualizado/humanizado;
Controle rigoroso de sinais vitais;
Manejo da dor (medidas farmacológicas conforme prescrição médica e não farmacológicas);
Medidas de conforto (uso de coxim);
Integridade da pele;
Medição do perímetro cefálico diário (occipitofrontal);
Avaliar fontanelas;
Observar sinais de irritabilidade;
Promover o contato pele a pele;
Oferecer apoio emocional aos familiares, orientação sobre sinais que necessitam de intervenção médica.
Cuidados Pré- Operatório
Orientar os pais sobre o procedimento, permitir o contato da família com a criança antes do procedimento;
Realizar coleta de exames pré-operatório;
Preencher o check list de cirurgia segura;
Garantir a identificação correta do paciente (uso de pulseira);
Encaminhar solicitação de reserva para o banco de sangue;
Verificar o agendamento da cirurgia com a equipe do centro cirúrgico;
Providenciar o dispositivo a ser utilizado (válvula de derivação peritoneal ou derivação externa);
Controle rigoroso da temperatura adequada (36,5ºC a 37,5ºC);
Controle dos sinais vitais;
Verificar o peso antes de encaminhar para o procedimento;
Acesso pérvio (deve-se evitar o acesso venoso na região cefálica);.
Realizar profilaxia de acordo com a prescrição médica;
Manter o jejum conforme prescrito;
Termo de autorização do procedimento e anestesia devem estar assinados e anexados ao prontuário;
Garantir um transporte seguro.
Cuidados pós-operatórios
A recuperação pós-anestésica é realizada dentro da UTI neonatal e devem seguir as recomendações do checklist da cirurgia segura, sendo eles:
Controles dos sinais vitais;
Controle e avaliação da dor (escala NIPS);
Controle e monitorização hídrica – avaliar cuidados caso haja retenção hídrica;
Observar distúrbios eletrolíticos (principalmente os níveis de sódio);
Observar a integridade da pele – realizar mudança de decúbito a cada 3 horas e conforme tolerância do RN;
Avaliação da fontanela anterior;
Medida diário do perímetro cefálico.
Manipulação mínima;
Orientar aos familiares e acompanhantes ao longo do processo, mostrando os dispositivos presentes no bebê e orientando-os adequadamente.
Cuidados específicos da derivação ventricular externa
Manter a cabeceira elevada a 30 graus;
Manter estabilização do sistema adequado (reservatório de 10 a 15cm acima do meato auditivo externo, servindo como ponto zero) – A altura do reservatório será determinada pelo neurocirurgião que pode ser ajustada de acordo com a necessidade de drenagem (zerar o cateter de DVE no conduto auditivo externo);
Avaliar, monitorar e registrar o líquor drenado, observando o aspecto (turbidez, coloração) e o volume. Se houver turbidez, indica uma possível infecção, e se houver sangramento, pode ser um sinal de hemorragia. Portanto, devemos observar esse aspecto e registrar o volume dessa drenagem que deve ser quantificado uma vez por plantão e descartado para a bolsa coletora, conforme o protocolo da instituição.
Observar sinais flogísticos no óstio da inserção;
Realizar troca de curativo quando necessário ou conforme o protocolo da instituição;
Manipulação adequada do sistema de drenagem;
Fechar sistema de drenagem durante transporte.
Cuidados com a derivação peritoneal
Observar sinais de infecção em inserção e trajeto;
Realizar troca de curativo conforme protocolo do setor, avaliando condições das incisões cirúrgicas (cefálica e abdominal);
Avaliar integridade da pele em toda a extensão do shunt (crânio-abdominal)
Atentar para o posicionamento (não deitar sobre a válvula);
Observar sinais de distensão abdominal (peritonite, íleo paralítico);
Avaliar sinais de hiperdrenagem ou hipodrenagem.
Dessa forma, pode-se concluir que é fundamental ficar atentos ao manejo adequado para que não seja realizado de forma mecânica, pois dessa forma não será atingido o objetivo de um cuidado humanizado e individualizado.
É fundamental manter a capacitação profissional para oferecer um cuidado com excelência em uma UTI neonatal, que é um ambiente tecnológico em constante evolução e buscar constantemente essa capacitação e atualização, assim como aplicar a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) como uma ferramenta nas práticas de enfermagem, a fim de garantir um atendimento de qualidade com uma assistência estruturada e individualizada.
Abaixo, a gravação do Encontro na íntegra com apresentação de slides.
Perguntas & Respostas
Como citar
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente. Postagens: Principais Questões sobre Cuidados com o recém-nascido com Hidrocefalia. Rio de Janeiro, 18 mar. 2025. Disponível em: <https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-recem-nascido/principais-questoes-sobre-cuidados-com-o-recem-nascido-com-hidrocefalia/>.
Tags: Novembro Roxo Prematuridade, Posts Principais Questões
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