Principais Questões sobre Cuidados de Enfermagem com o RN de Risco: os 10 passos para o Cuidado Neonatal
19 maio 2023
Sistematizamos as principais questões abordadas durante Encontro com as Especialistas Coordenadoras do Curso de Especialização em Enfermagem Neonatal do IFF/Fiocruz, Aline Entringer, enfermeira, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES); Cristiane Sanches, enfermeira neonatologista da Unicamp; Eremita Val Rafael, enfermeira, professora da Universidade Federal do Maranhão (UFMA); Karla Pontes e Marcelle Araújo, enfermeiras neonatologistas do IFF/Fiocruz, realizado no dia 22/09/2022.
Conhecer a realidade da Unidade Neonatal e revisar protocolos e processos de trabalho, em conjunto com a equipe multiprofissional, é fundamental para a melhoria dos cuidados de enfermagem.
O Encontro abordou os cuidados de enfermagem com o recém-nascido (RN) de risco sob a ótica dos 10 passos do cuidado neonatal. Os 10 passos são recomendações que tem por objetivo qualificar a atenção ao recém-nascido e sua família e surgiu como resultado do trabalho integrado que vem sendo realizado pelo Ministério da Saúde através de consultores envolvidos no cuidado neonatal que atuam na Estratégia QualiNEO e especialistas do Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, Criança e Adolescente (IFF/Fiocruz/MS).
Veja também: Postagem com os 10 Passos para o Cuidado Neonatal
1º Passo: siga as normas de reanimação neonatal e previna a hipotermia
- Seguir as boas práticas no parto e nascimento e os passos de reanimação neonatal.
- Praticar o clampeamento oportuno do cordão umbilical. O clampeamento umbilical oportuno auxilia na adaptação cardiovascular do bebê.
- Para recém-nascidos a partir de 34 semanas ou a termo com boa vitalidade, recomenda-se o clampeamento a partir de 60 segundos.
- Para os que nasceram antes de 34 semanas de gestação, indica-se o clampeamento após 30 segundos do nascimento.
- Atenção: recém-nascidos que precisam de reanimação ao nascer não se tem evidência do benefício do clampeamento oportuno, para essa criança a prioridade é realizar a reanimação.
- Realizar o contato pele a pele pelo tempo mínimo de 1 hora e incentivar o aleitamento materno na primeira hora de vida (Golden Hour).
- Prevenir a Hipotermia na sala de parto, no transporte e na unidade neonatal. Existem uma série de medidas para manter o recém-nascido normotérmico, pois a hipotermia aumenta a mortalidade dos bebês. Atenção: para cada queda de 1ºC na temperatura corporal do RN, aumenta-se em 28% a mortalidade neonatal e de 11% na sepse tardia.
- É fundamental que a equipe esteja treinada para atuar na prevenção da hipotermia e outras complicações. A boa comunicação entre os profissionais e o uso de protocolos e checklists contribuem para um atendimento de qualidade e oportuno.
- O cuidado com o ambiente, temperatura e outros parâmetros para evitar a hipotermia são fundamentais na unidade neonatal, no transporte e na sala de parto.
- É importante lembrar que o Método Canguru reduz a hipotermia.
2º Passo: use CPAP desde a sala de parto e evite intubar o recém-nascido
- O uso do CPAP nasal em sala de parto reduz a necessidade de intubação traqueal, uso de surfactante, broncodisplasia e morte do RN pré-termo.
- O CPAP é indicado para todos os recém-nascidos com menos de 30 semanas de idade gestacional com respiração espontânea ou RN com desconfortos respiratórios.
- De acordo com a Resolução do COFEN 639/2020 no âmbito da equipe de Enfermagem cabe ao Enfermeiro: montagem, testagem e instalação de aparelhos de ventilação mecânica invasiva e não invasiva em pacientes pediátricos, neonatos e adultos.
- Uma boa assistência de enfermagem é fundamental para atendimentos com bons desfechos, principalmente no que diz respeito a crianças que precisam de suporte prolongado.
3º Passo: controle o uso de oxigênio para evitar a hiperóxia ou a hipóxia
- A oferta de oxigênio deve ser pautada na monitorização da saturação de oxigênio, evitando a hiperóxia.
- A saturação de oxigênio esperada em RN é entre 91-95%.
- Os alarmes dos monitores devem ser ajustados em 88 – 95%. O limite superior só poderá ser desligado quando o recém-nascido não estiver em uso de oxigênio suplementar.
4º Passo: alimente o RN o mais precoce possível e de preferência com leite materno/humano
- A alimentação parenteral deve ser iniciada em todos os recém-nascidos com peso menor que 1500 gramas no primeiro dia de vida (idealmente na primeira hora de vida). Caso não seja possível iniciar a nutrição parenteral completa, iniciar o aminoácido.
- É indicado iniciar dieta enteral trófica para todos os recém-nascidos com intestino funcionante e condições clínicas favoráveis, devido aos diversos benefícios associados à prática.
- A coleta de leite pode ser realizada a beira leito e o leite oferecido ao recém-nascido via sonda naso/orogástrica enquanto o mesmo não puder sugar.
- A colostroterapia é outra prática indicada para recém-nascidos na Unidade Neonatal e é de suma importância para construção de uma microbiota saudável. Cabe destacar que não substitui o início precoce da dieta pelo trato gastrointestinal.
- A transição da dieta do recém-nascido da via enteral para a via oral deve considerar as características individuais de cada recém-nascido, como os sinais de prontidão, reflexos, coordenação sucção-deglutição-respiração. Não se deve considerar questões isoladas como peso e idade gestacional. A transição deve ser feita diretamente da sonda para o seio materno, utilizando técnica da mama vazia, translactação ou relactação. O uso do copo deve ser restringido para a ausência da mãe.
- O melhor leite para o recém-nascido é o leite da própria mãe.
5º Passo: higienize as mãos e evite antibióticos desnecessários
- A equipe de enfermagem atua direta e indiretamente em todos os processos de prevenção de infecção.
- Não se recomenda tratar risco infeccioso.
- Atenção: o uso empírico e prolongado de antibióticos de amplo espectro em recém-nascidos sem infecção documentada, está associado ao aumento do risco para sepse tardia, enterocolite necrotizante e morte.
- A antibioticoterapia empírica está indicada na suspeita clínica de sepse precoce (considerar sinais clínicos do recém-nascido), após triagem infecciosa (priorizar hemoculturas).
- Suspender precocemente antibioticoterapia após resultados negativos da triagem infecciosa (culturas).
- IMPORTANTE: é fundamental que protocolos sejam implementados/atualizados para diminuir o uso inadequado e a resistência antimicrobiana.
6º Passo: faça uso criterioso de medicamentos (aminas, analgésicos e sedativos)
7º Passo: pratique o Método Canguru e integre a família e a equipe interprofissional no cuidado individualizado.
- O Método Canguru é um modelo de atenção perinatal e Política Nacional de Saúde voltada para a atenção qualificada e humanizada, que reúne estratégias de intervenção biopsicossocial com uma ambiência que favoreça o cuidado ao recém-nascido e à sua família. Preconiza-se no Método a participação dos pais e família nos cuidados, realização de cuidados contingentes e individualizados e a realização da Posição Canguru.
- Recomenda-se um contato pele a pele maior que 126 minutos/dia para efeito positivo no aleitamento materno exclusivo de pré-termo de muito baixo peso e tempos maiores que 140 a 200 minutos/dia para reduzir a probabilidade de óbitos e infecções entre todos neonatos (GOUDARD, 2020)
- ATENÇÃO: as orientações/cuidados para alta hospitalar devem se iniciar já no processo de internação.
8º Passo: siga as normas de segurança com o paciente no cuidado com o RN
- Importância da utilização das 6 METAS previstas para o cuidado do paciente.
- A participação no Núcleo de Segurança do Hospital é fundamental, assim como a notificação dos eventos adversos.
- A notificação dos eventos adversos deve ser utilizada também para a qualificação da equipe e nunca deve ser utilizada com o caráter punitivo.
9º Passo: utilize de forma racional os recursos existentes e pratique o gerenciamento de leitos
- É importante otimizar a utilização de leitos da unidade neonatal, aumentar a rotatividade, reduzir o tempo de internação desnecessária e abrir novas vagas para demandas represadas.
- O quadro clínico da criança e a sua evolução deve ser utilizado como critério primordial para definir qual o tipo de leito na Unidade Neonatal o bebê deve ocupar, de modo que uma criança que tem indicação clínica de ocupar um leito de uma unidade intermediária não ocupe um leito de cuidados intensivos, seguindo o conceito de cuidados progressivos recomendado na Portaria nº 930 de 2012.
- A utilização do cuidado progressivo é fundamental para a boa gestão de leitos, além de melhorar a rotatividade, minimiza os danos para o recém-nascido, uma vez que manter um recém-nascido no ambiente da UTI, sem que haja indicação clínica para isso, o expõe aos riscos desse ambiente.
- A participação do Enfermeiro é fundamental para a gerenciar insumos e custos, preparar a família para alta hospitalar, treinar a equipe, gerenciar uso dos equipamentos, realizar inventário e monitorar resultados.
10º Passo: utilize os indicadores de sua unidade neonatal como fonte de melhorias e de aprendizado da equipe
- Indicadores: dados coletados rotineiramente, padronizados e que permitem a comparação dentro e/ou fora dos serviços.
- O monitoramento através de indicadores deve ser contínuo, possibilitando vigilância ininterrupta e ciclos de melhoria. A coleta de dados padronizados e comuns a várias unidades, permite que os resultados sejam comparáveis.
- Só podemos melhorar nossa unidade, se conhecermos como o cuidado é realizado e quais os resultados que temos. Isso é possível por meio do monitoramento contínuo.
Perguntas & Respostas
Como citar
FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira. Portal de Boas Práticas em Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente. Postagens: Principais Questões sobre Cuidados de Enfermagem com o RN de Risco: os 10 passos para o Cuidado Neonatal. Rio de Janeiro, 19 mai. 2023. Disponível em: <https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-recem-nascido/principais-questoes-sobre-cuidados-de-enfermagem-com-o-rn-de-risco-os-10-passos/>.